Por que é 'improvável' que o incentivo às ações na China funcione
Medidas tomadas pelo governo chinês não devem ser suficientes para recuperar a economia do país segundo analistas da Gavekal Research
Repórter de Invest
Publicado em 28 de agosto de 2023 às 15h40.
A economia da China tem enfrentado mais desafios do que o esperado para reaquecer os motores no pós-pandemia e, para as autoridades do país, um dos caminhos para a retomada pode estar no mercado de ações. Em comunicado divulgado neste domingo, os Ministérios das Finanças e da Administração Fiscal do Estado divulgaram uma série de medidas para estimular a renda variável.
Uma das mudanças é um corte no imposto sobre negociações na bolsa de valores, que caiu de 0,1% para 0,05%. A redução, segundo comunicado do governo chinês, visa "revigorar o mercado de capitais e aumentar a confiança dos investidores". É o primeiro corte realizado pela China desde a crise de 2008.
O pacote envolve ainda um “aperto gradual” no ritmo de ofertas públicas iniciais de ações, os IPOs. A percepção é de que os IPOs são negativos para os demais papéis negociados em bolsa, já que aumentam a oferta de capital e retiram liquidez do mercado secundário. O último congelamento do mercado de ofertas iniciais na China aconteceu em 2015.
As medidas, no entanto, devem ser insuficientes para reanimar a economia chinesa, segundo a casa de análiseGavekal Research. Em relatório divulgado nesta segunda-feira, 28, os analistas disseram ser “improvável” uma mudança nos rumos econômicos sem um estímulo substancialmente maior que consiga impulsionar o crescimento econômico e estabilizar a crise no mercado imobiliário chinês.
“As reduções do imposto de negociação e a suspensão de novas ofertas proporcionaram, no passado, apenas um impulso temporário aos mercados, e não uma reviravolta fundamental. A única recuperação subsequente do mercado, em 2008, ocorreu quando as perspectivas de crescimento econômico melhoraram significativamente no final daquele ano”, escreveram os analistas.
A Gavekal Research é uma das casas de análise macro independente mais prestigiosas do mundo. No Brasil, seus relatórios são distribuídos com exclusividade pela EXAME, na parceria que deu origem à EXAME Gavekal Research.
O relatório alerta ainda que existe uma lacuna significativa entre os sinais políticos e as medidas realmente implementadas. “Os investidores deveriam continuar cautelosos em relação às ações chinesas na ausência de estímulos mais concretos para impulsionar significativamente o crescimento econômico – e ignorar em grande parte o apoio direcionado aos mercados de ações”, escreveram.