Piso para câmbio de Mantega leva a novas projeções
A cotação do dólar deve fechar o ano a R$ 1,76, segundo a mediana das estimativas de 20 economistas consultados pela Bloomberg
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2012 às 09h48.
São Paulo - Analistas têm elevado suas previsões para a taxa de câmbio movidos pela crescente aposta de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teria definido um piso para o dólar em um preço que ajude a impulsionar as exportações brasileiras.
A cotação do dólar deve fechar o ano a R$ 1,76, segundo a mediana das estimativas de 20 economistas consultados pela Bloomberg.
Em setembro, eles previam que a moeda americana terminaria 2012 a R$ 1,55. O real caiu 2,2 por cento frente ao dólar no mês passado, a segunda maior queda na região, para R$ 1,8303. Em 3 de abril, Mantega disse que considera uma taxa de R$ 1,80 por dólar “razoável” A desvalorização do real levou a um prejuízo de 1,7 por cento no mês passado para investidores em títulos locais, segundo o Bank of America Corp.
O governo tenta conter a valorização cambial para proteger a indústria local e fomentar o crescimento econômico. Até agora, as medidas tomadas para conter a taxa de câmbio e os cortes de juros têm alimentado a interpretação de que o governo estaria mais interessado no câmbio do que em atingir a meta de inflação de 4,5 por cento neste ano. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo desacelerou para 5,2 por cento em março, menor nível em 17 meses.
“O Brasil decidiu adotar metas para o câmbio” disse Pablo Cisilino, que ajuda a administrar cerca de US$ 30 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners, em entrevista por telefone de Nova York. “Você não pode definir metas para a inflação e para o câmbio ao mesmo tempo. É preciso escolher um dos dois. No último mês, mais ou menos, o governo decidiu firmemente que quer fixar o câmbio num determinado patamar e parece que estão mudando de um regime de dólar flutuante para um de preço fixo para a moeda.”
Cortes na Selic
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reduziu a taxa básica de juros em 275 pontos-base desde agosto, como parte de um esforço para reduzir a atratividade dos ativos de renda fixa e assim conter a valorização do real. A moeda caiu 6 por cento em março, a maior depreciação registrada no mercado de câmbio mundial, após o BC ter acelerado a compra de dólares e Mantega ter ampliado a base de incidência do Imposto sobre Operações Financeiras, a fim de desestimular investimentos estrangeiros.
O nível de R$ 1,80 para o dólar não é magnífico, mas é “razoável e permite maior competitividade para os produtos brasileiros”, Mantega declarou durante discurso em Brasília. “O mais importante em relação à taxa de câmbio não são as medidas que já tomamos, mas as medidas que ainda não tomamos e iremos tomar a qualquer momento.”
O dólar operava em baixa de 0,2 por cento, a R$ 1,8315, às 9:28.
Intervenção ‘verbal’
Mantega sinalizou que o governo “tentará manter” a moeda naquele patamar, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de 8 de abril, que citou uma entrevista com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.
Um funcionário do Ministério da Fazenda que pediu anonimato por política interna da pasta disse que o Brasil tem uma política de câmbio flutuante.
Os negócios com opções mostram 65 por cento de probabilidade de o dólar ficar acima de R$ 1,80 até o fim do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Crescente intervenção verbal e factual” pelo BC e pela Fazenda colaborou para o Scotiabank elevar sua projeção para o fim do ano para o dólar de R$ 1,75 para R$ 1,85 em 4 de abril, afirmou Pablo Breard, chefe de pesquisa internacional do Scotiabank Group.
A Presidente Dilma Rousseff pediu que os Estados Unidos aumentem os investimentos na economia brasileira e disse ao presidente americano Barack Obama que as condições monetárias nos países ricos estão prejudicando o crescimento econômico mundial. Ao lado de Obama na Casa Branca em 9 de abril, Dilma afirmou estar preocupada com políticas monetárias “expansionistas” que “levam à depreciação no valor das moedas dos países desenvolvidos.
‘Intervir pesadamente’
“Todos os sinais indicam que o governo pretende intervir pesadamente para manter o nível em R$ 1,80”, disse Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Credit Agricole e segundo melhor do ranking da Bloomberg em previsões para a taxa de câmbio no País. “Levando em conta a intenção de evitar a valorização a qualquer custo, eu não apostaria numa alta do real em relação ao dólar além desse nível.”
As previsões para o real no fim do ano indicam perda maior do que para outras moedas de mercados emergentes, incluindo o peso mexicano, o won sul-coreano e o rand sul-africano.
O ministro da Fazenda da Colômbia, Juan Carlos Echeverry, afirmou que a taxa de câmbio entre 1.700 e 1.750 pesos por dólar é “dura” para exportadores, durante discurso a parlamentares em 29 de março.
Para Paulo Vieira da Cunha, sócio da Tandem Global Parnters LLC e ex-diretor do BC, o comentário de Dilma visa agradar “interesses políticos” em antecipação às eleições municipais em outubro. O nível de câmbio desejado por Mantega não é necessariamente endossado pelo BC, ele disse.
“Não acho que o Banco Central tenha realmente aceitado a meta cambial”, afirmou Vieira da Cunha.
O BC não respondeu imediatamente ao pedido de comentário feito pela Bloomberg News.
São Paulo - Analistas têm elevado suas previsões para a taxa de câmbio movidos pela crescente aposta de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, teria definido um piso para o dólar em um preço que ajude a impulsionar as exportações brasileiras.
A cotação do dólar deve fechar o ano a R$ 1,76, segundo a mediana das estimativas de 20 economistas consultados pela Bloomberg.
Em setembro, eles previam que a moeda americana terminaria 2012 a R$ 1,55. O real caiu 2,2 por cento frente ao dólar no mês passado, a segunda maior queda na região, para R$ 1,8303. Em 3 de abril, Mantega disse que considera uma taxa de R$ 1,80 por dólar “razoável” A desvalorização do real levou a um prejuízo de 1,7 por cento no mês passado para investidores em títulos locais, segundo o Bank of America Corp.
O governo tenta conter a valorização cambial para proteger a indústria local e fomentar o crescimento econômico. Até agora, as medidas tomadas para conter a taxa de câmbio e os cortes de juros têm alimentado a interpretação de que o governo estaria mais interessado no câmbio do que em atingir a meta de inflação de 4,5 por cento neste ano. A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo desacelerou para 5,2 por cento em março, menor nível em 17 meses.
“O Brasil decidiu adotar metas para o câmbio” disse Pablo Cisilino, que ajuda a administrar cerca de US$ 30 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment Partners, em entrevista por telefone de Nova York. “Você não pode definir metas para a inflação e para o câmbio ao mesmo tempo. É preciso escolher um dos dois. No último mês, mais ou menos, o governo decidiu firmemente que quer fixar o câmbio num determinado patamar e parece que estão mudando de um regime de dólar flutuante para um de preço fixo para a moeda.”
Cortes na Selic
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reduziu a taxa básica de juros em 275 pontos-base desde agosto, como parte de um esforço para reduzir a atratividade dos ativos de renda fixa e assim conter a valorização do real. A moeda caiu 6 por cento em março, a maior depreciação registrada no mercado de câmbio mundial, após o BC ter acelerado a compra de dólares e Mantega ter ampliado a base de incidência do Imposto sobre Operações Financeiras, a fim de desestimular investimentos estrangeiros.
O nível de R$ 1,80 para o dólar não é magnífico, mas é “razoável e permite maior competitividade para os produtos brasileiros”, Mantega declarou durante discurso em Brasília. “O mais importante em relação à taxa de câmbio não são as medidas que já tomamos, mas as medidas que ainda não tomamos e iremos tomar a qualquer momento.”
O dólar operava em baixa de 0,2 por cento, a R$ 1,8315, às 9:28.
Intervenção ‘verbal’
Mantega sinalizou que o governo “tentará manter” a moeda naquele patamar, de acordo com reportagem do jornal O Estado de S. Paulo de 8 de abril, que citou uma entrevista com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel.
Um funcionário do Ministério da Fazenda que pediu anonimato por política interna da pasta disse que o Brasil tem uma política de câmbio flutuante.
Os negócios com opções mostram 65 por cento de probabilidade de o dólar ficar acima de R$ 1,80 até o fim do ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.
“Crescente intervenção verbal e factual” pelo BC e pela Fazenda colaborou para o Scotiabank elevar sua projeção para o fim do ano para o dólar de R$ 1,75 para R$ 1,85 em 4 de abril, afirmou Pablo Breard, chefe de pesquisa internacional do Scotiabank Group.
A Presidente Dilma Rousseff pediu que os Estados Unidos aumentem os investimentos na economia brasileira e disse ao presidente americano Barack Obama que as condições monetárias nos países ricos estão prejudicando o crescimento econômico mundial. Ao lado de Obama na Casa Branca em 9 de abril, Dilma afirmou estar preocupada com políticas monetárias “expansionistas” que “levam à depreciação no valor das moedas dos países desenvolvidos.
‘Intervir pesadamente’
“Todos os sinais indicam que o governo pretende intervir pesadamente para manter o nível em R$ 1,80”, disse Vladimir Caramaschi, estrategista-chefe do Credit Agricole e segundo melhor do ranking da Bloomberg em previsões para a taxa de câmbio no País. “Levando em conta a intenção de evitar a valorização a qualquer custo, eu não apostaria numa alta do real em relação ao dólar além desse nível.”
As previsões para o real no fim do ano indicam perda maior do que para outras moedas de mercados emergentes, incluindo o peso mexicano, o won sul-coreano e o rand sul-africano.
O ministro da Fazenda da Colômbia, Juan Carlos Echeverry, afirmou que a taxa de câmbio entre 1.700 e 1.750 pesos por dólar é “dura” para exportadores, durante discurso a parlamentares em 29 de março.
Para Paulo Vieira da Cunha, sócio da Tandem Global Parnters LLC e ex-diretor do BC, o comentário de Dilma visa agradar “interesses políticos” em antecipação às eleições municipais em outubro. O nível de câmbio desejado por Mantega não é necessariamente endossado pelo BC, ele disse.
“Não acho que o Banco Central tenha realmente aceitado a meta cambial”, afirmou Vieira da Cunha.
O BC não respondeu imediatamente ao pedido de comentário feito pela Bloomberg News.