Payroll-bomba põe em xeque queda de juro em setembro e mercado passa a ver apenas um corte neste ano
Criação de empregos volta a superar o esperado nos Estados Unidos e provoca aversão ao risco nos mercados
Repórter
Publicado em 7 de junho de 2024 às 14h32.
Última atualização em 8 de junho de 2024 às 11h31.
A força do mercado de trabalho americano voltou a surpreender em dados divulgados nesta sexta-feira, 7. O payroll, considerado um dos principais termômetros da economia local, revelou a criação de 272.000 empregos não-agrícolas contra um consenso de 90.000 empregos a menos em maio. O salário por hora trabalhada também saiu acima das expectativas, com aceleração de 4% de alta para 4,1% no acumulado de 12 meses. A expectativa era de desaceleração para 3,9%.
Esta foi a sexta vez que o payroll sai acima do esperado das últimas sete divulgações. Mas os dados desta sexta tiveram um peso maior nas equações do mercado. Isso porque os dados econômicos vinham indicando um esfriamento da atividade, aumentando a confiança de investidores sobre o início dos cortes de juros. "O cenário, que estava começando a ficar mais claro, embaralhou de novo. Não existe uma tendência clara, o que torna a gestão de multimercados mais desafiadora", afirmou o CIO de um grande familly office da Faria Lima.
Nos mercados, os dados desta sexta têm impactos significativos sobre o mercado de títulos, com investidores precificando juros mais altos em todo o mundo. Nos Estados Unidos, o payroll mais forte se traduz em uma menor chance de corte de juros em setembro.O mercado, que vinha precificando em 31% a probabilidade de o Federal Reserve (Fed) manter o juro em 5,5% em setembro, passou a precificar uma chance de 47% após os números do payroll. Já a chance de o Fed não cortar juros neste ano subiu de 5,5% para 13,3%. A probabilidade de um corte de juros ou menos passou de 32,1% para , de 26,6% para 53,7%.
No início do ano, o mercado chegou a precificar sete cortes de juros em 2024, com a inflação convergindo rapidamente para a meta de 2% dos Estados Unidos. Só que a desaceleração da inflação perdeu força. Pior: voltar a ganhar tração. O Índice de Preço sobre Consumo Pessoal (PCE, na sigla em inglês), referência para o Fed, está rodando em 2,7%, no maior patamar desde outubro, enquanto seu núcleo, a 2,8%. Um dos principais empecilhos para a inflação, enfim, retornar à meta, tem sido a força do mercado de trabalho (pressão de salários) e o que os economistas chamam de "excesso de poupança", que seria a dinheiro extra recebido por incentivos fiscais durante a pandemia. Essa poupança extra, apontam os economistas de mercado, já estaria perto do fim. Mas o mercado de trabalho segue pressionando para cima.
Impactos globais
A perspectiva de um Fed mais duro tem repercussões no mundo inteiro, uma vez que os juros americanos são referência global. Para o Brasil, a expectativa passa a ser de um Banco Central cauteloso. Com isso, por exemplo, aumenta a probabilidade de o Comitê de Política Monetária (Copom) pausar o ciclo de cortes na próxima reunião. A maior competitividade com os títulos americanos e o ambiente de juros mais altos também reduzem o apetite do mercado ao risco, provocando perdas em bolsas de valores, com o Ibovespa caindo perto de 1%. O dólar, que sobe no mundo inteiro, avança cerca de 0,57% contra o real, indo a R$ 5,27.
A valorização do dólar é ainda mais forte contra moedas desenvolvidas nesta sexta. O índice Dxy, que mede a variação do dólar contra uma cesta de moedas fortes, avança perto de 0,8%. O Euro, que já sob observação após o corte de juros do Banco Central Europeu (BCE), registra sua maior queda desde abril frente ao dólar.