Para a Vale na Bolsa, cortes e afastamentos podem ajudar
Afastamento do presidente Fábio Schvartsman e cortes na produção de petróleo ajudaram a impulsionar os papeis da mineradora no Brasil e nos EUA
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2019 às 06h06.
Última atualização em 6 de março de 2019 às 09h17.
Quatro dias depois do afastamento do presidente Fábio Schvartsman e de três diretores da mineradora Vale a pedido do Ministério Público do estado de Minas Gerais, as ações da mineradora voltam a ser negociadas na bolsa brasileira nesta quarta-feira. Na segunda e na terça, a B3 ficou fechada por causa do carnaval. Mas, em Nova York, os American Depositary Receipts (ADRs) da maior produtora de minério de ferro do mundo foram negociados normalmente – e subiram.
As opiniões a respeito da mudança na cúpula da Vale estão divididas. Alguns investidores encaram a ação da Promotoria como uma interferência indevida do poder público na gestão de uma companhia privada. “A alteração veio mais cedo que o esperado. Podemos caracterizar o afastamento como resultado de pressão governamental por uma mudança na gestão”, Jonathan Brandt, analista do banco britânico HSBC, escreveu em relatório a clientes.
Além disso, boa parte dos avanços no desempenho da Vale nos últimos anos é creditada à liderança de Schvartsman, que assumiu como presidente em maio de 2017. Entre o terceiro trimestre de 2016 e o mesmo período de 2018 (dados mais recentes disponíveis), a receita da empresa saltou 59%, para 38 bilhões de reais, enquanto o Ebitda (ganhos antes de juros, impostos, depreciação e amortização) subiu 78%, para 37,9 bilhões de reais. “Ele foi uma figura fundamental por trás da tática de desinvestimento e desalavancagem, com foco em corte de custos, disciplina de investimentos e discurso de privilegiar a qualidade do minério ante o volume”, Caio Ribeiro, analista do banco de investimentos Credit Suisse, escreveu em relatório a clientes.
Embora o novo presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, seja um executivo reconhecido – antes da promoção, ocupava o cargo de diretor de metais básicos da mineradora –, mexer no comando da empresa pode atrapalhar a estratégia de gerenciamento da crise, definida pelo antecessor.
Os investidores que elogiam o movimento acham que o afastamento é o primeiro passo para a demissão de Schvartsman e dos diretores, os quais têm sido apontados pelo Ministério Público como possíveis responsáveis pelo desastre. Removê-los da gestão significaria, segundo essa linha de pensamento, começar a dar uma resposta para a sociedade, que clama pela punição dos culpados, e limpar um pouco a enlameada imagem da mineradora.
Não é essa visão que explica, entretanto, o ganho de 1,7% dos ADRs da Vale entre sexta e ontem, a 12,60 dólares. O principal motivo para a valorização foi o aumento de 30% na estimativa do banco de investimentos americano Morgan Stanley para o preço médio do minério de ferro neste ano, a 81 dólares a tonelada. E por trás dessa elevação não estará o culpado de sempre, a China com o seu apetite insaciável pelo metal. Pelo contrário. O governo do país asiático no dia 4 cortou para entre 6% e 6,5% a sua meta de crescimento anual da economia, ante o alvo de 6,5% anunciado em 2018.
O preço mais alto do minério será resultado da diminuição da produção da própria Vale na região de Brumadinho, na avaliação do Morgan Stanley. A expectativa é que B3, hoje, as ações da Vale, que terminaram a sexta vendidas a 46,74 reais, devem repetir o movimento do mercado americano e subir. Depois de perder 28% nos dias seguintes ao rompimento da barragem do Feijão, os papeis já avançaram 15%. A despeito das mortes – a última contagem da Defesa Civil de Minas Gerais mencionava 186 corpos identificados e 122 desaparecidos – e do imensurável dano ambiental, as perspectivas para os investidores na mineradora só fazem melhorar.