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Operadores apostam em corte maior de juros

A expectativa de que a Selic caia para 8,75% ocorreu após a inflação desacelerar mais que o previsto por economistas

Alexandre Tombini: o BC estima que a inflação vai desacelerar para o centro da meta de 4,5 por cento este ano e voltar a se acelerar para 5,3 por cento em 2013 (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

Alexandre Tombini: o BC estima que a inflação vai desacelerar para o centro da meta de 4,5 por cento este ano e voltar a se acelerar para 5,3 por cento em 2013 (Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr)

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Da Redação

Publicado em 10 de abril de 2012 às 09h29.

Brasília e São Paulo - As previsões de inflação do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, estão se mostrando mais acertadas que as dos operadores de juros futuros.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro com vencimento em janeiro de 2014 caiu 9 pontos-base, para 9,18 por cento ontem, indicando que o mercado espera que Tombini corte a Selic para 8,75 por cento. A queda ocorreu após a inflação desacelerar mais que o previsto por economistas. Até o dia 3 de abril, eles previam que o BC se manteria fiel à sua sinalização de não cortar juros abaixo de 9 por cento. No México, os futuros apontam que os juros, já na minima histórica de 4,5 por cento, serão reduzidos em junho.

Em março, o ritmo de alta dos preços caiu mais do que a metade em relação ao mês anterior, dando espaço para cortes mais profundos na taxa básica de juros. No ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo desacelerou para 5,24 por cento, menor nível em 17 meses. Tombini disse em agosto que a inflação cairia 2 pontos percentuais até abril, antes da taxa atingir 7,31 por cento, patamar mais elevado em seis anos. A decisão do BC de cortar juros em 275 pontos-base desde agosto alimentou receios de que Tombini não conseguiria trazer o IPCA para o centro da meta, que é 4,5 por cento.

“A visão do BC foi justificada pelos dados”, disse Gustavo Rangel, economista-chefe para o Brasil no ING Financial Markets em Nova York, em entrevista por telefone. “O que ele imaginava que era correto realmente é o correto. Esse dado mostra que Banco Central tem certa razão em acreditar que a questão externa e também o baixo crescimento no ano passado têm efeito desinflacionário maior do que o que o mercado estava prevendo.”

Inflação implícita

A taxa implícita de inflação anual, medida pela diferença entre o rendimento das Notas do Tesouro Nacional série B e das Letras do Tesouro Nacional com vencimento em 2015, caiu 14 pontos-base para 5,66 por cento. A taxa é uma medida das expectativas de investidores para a inflação.

O IPCA teve alta mensal de 0,21 por cento em março, depois de subir 0,45 por cento em fevereiro, de acordo com relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 5 de abril. O avanço no mês passado foi inferior à estimativa mediana de 0,37 por cento de uma sondagem da Bloomberg com 50 analistas. O crescimento mundial lento e a queda dos preços das commodities também levaram a resultados de inflação abaixo do esperado no Chile, na Colômbia e na Venezuela em março.

No Brasil, o BC fez um corte inesperado na taxa básica de juros para 9,75 por cento no mês passado. Foi apenas a segunda vez em que a Selic ficou em um dígito desde a adoção do regime de metas de inflação, em 1999. Na ata da reunião de 6 e 7 de março, o Comitê de Política Monetária afirmou que atribuía “elevada probabilidade” à queda da Selic para “patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos, e nestes patamares se estabilizando”. O comentário, em 15 de março, levou os operadores a desfazer apostas de que a Selic cairia para menos de 9 por cento.


‘Surpreendente’

O Banco Central disse em nota enviada por e-mail que não comenta avaliações de mercado.

“Não descartamos” uma taxa Selic abaixo de 9 por cento, disse Octavio de Barros, economista-chefe do Banco Bradesco SA, a repórteres em São Paulo em 5 de abril. O IPCA de março “surpreendeu” e “confirma a tese de que Tombini é iluminado”, disse ele.

A diferença entre as taxas dos contratos de juros futuros com vencimento em janeiro de 2013 e janeiro de 2021 recuou do recorde de 272 pontos-base em 14 de março para 211. Ainda assim, os contratos de DI sugerem que os investidores esperam que o BC mude a direção da política monetária já no ano que vem, elevando os juros para segurar a inflação.

Para Marcelo Salomon, co-chefe de economia para América Latina do Barclays Plc, o esforço do governo para acelerar o crescimento vai colaborar para a alta da inflação.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em 5 de abril que o IPCA “excepcional” de março poderia abrir caminho para o governo adotar mais medidas de incentivo à economia. A declaração veio dois dias após a Presidente Dilma Rousseff ter anunciado cerca de R$ 65 bilhões em corte de impostos e outras medidas para estimular a indústria.

‘Cedo demais’

“É cedo demais para dizer que a inflação vai se aproximar de 4,5 por cento no fim do ano”, disse Salomon em entrevista por telefone de Nova York. “Entrando em 2013, ainda achamos que há muito estímulo, que vai elevar o crescimento. E esse movimento para cima do crescimento vai pressionar a inflação.”

O BC estima que a inflação vai desacelerar para o centro da meta de 4,5 por cento este ano e voltar a se acelerar para 5,3 por cento em 2013, segundo o Relatório Trimestral de Inflação, publicado em 29 de março.

Para Ures Folchini, chefe de renda fixa do Banco WestLB do Brasil, a meta pode ser cumprida em 2012 com o impacto da crise de dívida europeia sobre o crescimento da economia mundial.

“É possíve cumprir meta este ano”, disse Folchini em entrevista por telefone de São Paulo. “O mundo vai demorar para voltar a crescer, e portanto, nao haverá um processo inflacionário. O Banco Central enxergou isso antes.”

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