O "grande risco" para o mercado em um eventual governo Trump, segundo Paulo Miguel, da Julius Baer
Em entrevista ao Vozes do Mercado, diretor de investimentos destaca o risco de expansão fiscal e reprecificação dos juros americanos
Repórter
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 17h11.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 17h15.
O mundo aguarda o resultado das eleições americanas. Embora a data oficial do pleito seja nesta terça-feira, dia 5, ainda não se sabe ao certo quando a contagem dos votos será concluída. Isso se deve ao fato de que, sendo um processo de votação em papel, a apuração pode levar pelo menos um dia. Além disso, em caso de margens apertadas — como é esperado —, recontagens podem ser necessárias em alguns estados.
No mercado, investidores estão tentando se antecipar a uma possível vitória de Donald Trump, que lidera nas casas de apostas. O chamado "Trump Trade" tem focado em apostas de juros e dólar mais altos, prevendo as pressões inflacionárias decorrentes das políticas protecionistas do candidato republicano.
“O mercado já incorporou parte desse cenário. Para absorver mais esse ambiente de volatilidade e expansão fiscal, será necessário observar o controle do Congresso. Se Trump vencer, mas enfrentar um Congresso dividido, várias dessas questões tendem a se acomodar, uma vez que a expansão fiscal ficaria mais limitada”, explica Paulo Miguel, CIO da Julius Baer, em entrevista ao Vozes do Mercado.
Com passagens pelo Itaú e pela Quest, Paulo Miguel lidera as estratégias de investimento da Julius Baer Brasil, filial do multifamily office suíço com quase de 500 bilhões de francos suíços sob gestão.
Segundo Miguel, o "grande risco" para o mercado seria uma vitória ampla de Trump provocar uma reprecificação ainda maior nos juros, em razão da perspectiva de expansão fiscal.
“Atualmente, a taxa neutra para os Estados Unidos é de 3,60%. Caso ocorra um ‘evento fiscal’, esse piso pode subir para próximo de 4% ou 4,5% e causar um choque nas bolsas americanas."
Não há alternativa óbvia para a bolsa americana
Apesar dos riscos, o CIO ainda vê o mercado americano como o mais promissor para os próximos anos, devido ao bom desempenho das empresas. “Não há uma alternativa óbvia. Todos os setores de inovação tecnológica são dominados por empresas americanas.”
Entre os grandes impulsionadores da bolsa americana estão as big techs, que lideraram a corrida da inteligência artificial. Miguel acredita que ainda há espaço para essa tese, mas ressalta a importância de avaliar o nível de rentabilidade que a IA pode trazer para as empresas que incorporam essa tecnologia.
“A primeira fase da corrida é sobre quem vende as ferramentas, como a Nvidia, nesse caso. Mas qual será o grau de monetização do uso da IA no futuro? A partir de 2025, os resultados precisarão aparecer. Os desafios para gerar lucro, diante do volume de investimentos, só aumentam. O próximo desafio será identificar as empresas que realmente se beneficiarão da IA para impulsionar seus negócios, e não apenas quem fornece equipamentos.”