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Não era para cair? Entenda por que o Ibovespa acumula alta após 10 dias de guerra Israel-Hamas

Os analistas apontam que na última semana houve uma dinâmica atípica no mercado que favoreceu a alta da bolsa brasileira

Painel da B3: mesmo com a guerra entre Israel e o Hamas, Ibovespa tem acumulado altas nos últimos pregões (Germano Lüders/Exame)

Painel da B3: mesmo com a guerra entre Israel e o Hamas, Ibovespa tem acumulado altas nos últimos pregões (Germano Lüders/Exame)

Janize Colaço
Janize Colaço

Repórter de Invest

Publicado em 18 de outubro de 2023 às 07h09.

Última atualização em 18 de outubro de 2023 às 12h15.

A guerra entre Israel e Hamas completou dez dias na última terça-feira, 17. Com o risco de que o conflito possa se espalhar pelo Oriente Médio, investidores do mundo inteiro assistem com temor os desdobramentos. No entanto, de lá para cá, a aversão ao risco parece ter arrefecido e bolsas como o Ibovespa têm sustentado pequenas altas diárias.

No último pregão antes do início da guerra, no dia 6 de outubro, o índice fechou o dia com alta de 0,78%, aos 114.170 pontos. Ainda que na última terça, 17, o fechamento tenha sido negativo, o índice ficou em 115.908 pontos. Com isso, houve uma variação positiva de 1,52% da bolsa brasileira desde o início da guerra Israel-Hamas.

Em um relatório publicado nesta segunda, 16, o Santander afirma que a boa performance dos ativos domésticos, em meio ao aumento do risco geopolítico global, deve-se a mais de um fator — e que vão além das fronteiras de Israel e da Faixa de Gaza. “Após operar por duas semanas em modo risk-off (fuga de ativos de risco), os mercados globais embarcaram em modo risk-on (busca por ativos de risco), apesar da maior incerteza geopolítica”, afirma.

Ibovespa subiu 1,39% só na primeira semana da guerra

Apenas entre os dias 8 e 14 o Ibovespa acumulou uma alta de 1,39%. Os analistas do Santander apontam que na última semana ocorreu uma dinâmica atípica no mercado: preços favoráveis dos ativos globais e uma semana mais curta devido ao feriado nacional de 12 de outubro

Segundo relatório do Santander, a curva de juros doméstica registrou um efeito chamado bull-flattening. Isso acontece quando as taxas de longo prazo caem mais do que as de curto prazo. “Os índices acionários seguiram o desempenho do real e ficaram no quartil superior dentre os benchmarks globais, reforçando, assim, a natureza high-beta dos ativos financeiros brasileiros”, aponta o documento.

Bolsa brasileira em recuperação

Apesar da relativa bonança, é preciso lembrar que a bolsa brasileira passou por semanas conturbadas entre meados de setembro e os primeiros dias de outubro. Como aponta Lucca Ramos, sócio da One Investimentos, o cenário de permanência das altas — e mesmo de elevação — das taxas de juros nos Estados Unidos fizeram os treasuries yields dispararem, sobretudo as mais longas de dez, 20 e 30 anos.

A nossa curva de juros foi impactada com isso e, consequentemente, a expectativa de juros mais altos por mais tempo é ruim pra bolsa de maneira geral. Vimos o Ibovespa ter quedas por alguns dias, passando por um estresse mais elevado. O que acontece é que depois desse pico de estresse, na semana passada os treasuries americanos passaram a ceder um pouco e isso tem um peso relevante para que as nossas curvas de juros também caiam”, explica.

Commodities em disparada

Além da desaceleração dos títulos do tesouro americano, um bom e velho conhecido das empresas listadas no Ibovespa brilhou nas últimas semanas: o petróleo e o minério de ferro voltaram a subir no mercado internacional e a sustentar os ganhos das blue chips Petrobras (PETR3;PETR4) e Vale (VALE3)

“A cotação do minério de ferro está com um dos maiores preços das últimas três semanas e o petróleo, por causa do temor da guerra, também ficou em níveis altos. Com isso, a Vale tem subido ou caído pouco nos pregões, enquanto a Petrobras atingiu a maior cotação dos últimos 12 meses”, aponta Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club. 

Apesar disso, o especialista alerta que caso haja de fato uma escalada na guerra entre Israel e o Hamas, com envolvimento de outros países — principalmente o Irã —, o preço do barril de petróleo pode enfrentar um grande rali e ultrapassar a barreira dos US$ 100. “Se isso acontecer, as expectativas de juros sobem e, consequentemente, a bolsa cai. Esse é um fator para continuar monitorando”, frisa.

Por que Israel-Hamas (ainda) não precificou a bolsa?

É preciso salientar que os conflitos nesta região são desde 1948, quando o estado de Israel foi oficializado pela Organização das Nações Unidas (ONU) e teve início a diáspora palestina. De lá para cá, quatro importantes guerras entre países árabes e israelenses aconteceram.

Justamente por isso, segundo Hulisses Dias, analista CNPI e mestre em finanças pela Sorbonne, o atual embate no Oriente Médio já está precificado nos ativos de risco. “Olhando para o nosso cenário interno, o Ibovespa vem em queda desde julho, precificando incertezas quanto a política fiscal e reforma tributária.” 

Dias destaca que o mercado de ações brasileiro segue com uma relação de preço/lucro abaixo da média histórica, de maneira que o cenário atual não tem muito espaço para queda. Segundo ele, caso a guerra ganhe proporções maiores, a incerteza aumenta e, por consequência, os ativos de risco caem para refletir o maior risco. 

“A alta do petróleo é um ponto que preocupa. Segundo projeções da Bloomberg, no pior cenário o petróleo alcançaria US$ 150 por barril, causando uma perda de US$ 1 bilhão no PIB mundial”, finaliza.

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