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Momento é favorável para a bolsa até o fim do ano, diz Frontier Capital

Gestora aumenta aposta em ações brasileiras de olho em cenário eleitoral; "vemos potencial de uma terceira via ganhar espaço"

Rodrigo Fonseca: sócio-fundador e diretor de investimentos da Frontier Capital (Frotier Capital/Divulgação)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 17 de outubro de 2021 às 10h09.

Com queda de mais de 12% em relação às máximas do ano, a bolsa brasileira abriu boa oportunidade de compra. Isso é o que afirma a equipe de gestão da Frontier Capital em entrevista à Exame Invest. Fundada na virada do ano por Rodrigo Fonseca, a gestora tem foco em ações e mistura a seleção de ativos no mercado local com investimentos descorrelacionados no exterior. A estratégia tem dado certo. Até agora, o fundo long bias da Frontier, que acabou de completar 6 meses, obteve retorno positivo de mais de 2%, enquanto o Ibovespa teve queda superior a 4% no período.

"OBrasil não tem boas características para crescimento, não é os Estados Unidos. Então, o long only é muito risco. É uma montanha-russa em um país que pode estar indo para baixo", comenta Fonseca. Segundo ele, seu fundo long bias roda, em média, com exposição de 40% à bolsa brasileira, mas hoje está acima. E parte desse maior otimismo se deve às expectativas para as eleições de 2022.

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"O mercado acha que vamos ter uma eleição muito polarizada. Porém, existe um potencial de surpresa depois de novembro, quando o PSDB completar a prévia, de começarmos a ter um nome de terceira via a ser testado", diz Alexandre Cancherini, gestor e analista de renda variável da Frontier. "Vemos motivos para uma janela daqui até o final do ano mais positiva."

Para a Frontier, aspectos internos, como a alta de juros, incertezas fiscais e o cenário eleitoral, já estão incorporados nos preços, assim como os externos. "Uma boa parte do tapering já foi antecipado no mercado", pontua Jorge Dib Neto, o Jóca, gestor macro global da gestora.

Na bolsa brasileira, as principais apostas da Frontier estão em Natura (NTCO3), Renner (LREN3), SLC (SLCE3) e Cesp (CESP6). A gestora também tem uma visão positiva para Petrobras (PETR3/PETR4) e PetroRio (PRIO3), mas as posições são limitadas devido à sua política ESG (sigla em inglês para boas práticas ambiental, social e de governança). Sobre os bancos, "avisão é de que foi um grande negócio no passado" e que devem perder espaço para as fintechs.

Confira a entrevista com a equipe de gestão da Frontier Capital.

Exame: Como funcionam os fundos da Frontier?

Rodrigo Fonseca: Nossa força está em ações. No long bias, que acabou de completar 6 meses, combinamos com uma abordagem macro global para suavizar a cota do cliente e otimizar o risco/retorno.

O processo de queda de juros contribuiu para as ações, mas o Brasil não tem boas características para crescimento, não é os Estados Unidos. O long only é muito risco. É uma montanha-russa em um país que pode estar indo para baixo.

Então, aproveitamos o stock picking, que é o que tem de melhor no mercado brasileiro, fazemos um direcional mais moderado e usamos a internacionalização.

O fundo vai de 30% a 70% de exposição na bolsa brasileira, mas roda com uma média de 40% de risco na bolsa.

Como está essa parte comprada no Brasil?

RF: Estamos levemente acima da média.

O que tem motivado o maior otimismo?

Alexandre Cancherini: O Brasil está passando por uma desaceleração econômica. O PIB deve ir para 1% no ano que vem, fruto, em grande parte, do aumento de juros. A despeito disso, já tem muita coisa precificada. A primeira delas é a política.

Não desqualificamos pesquisas de intenção de voto. Mas vemos como uma boa imagem do momento atual, não do que vai acontecer daqui a um ano. O mercado acha que vamos ter uma eleição muito polarizada. Porém, existe um potencial de surpresa depois de novembro, quando o PSDB completar a prévia, de começarmos a ter um nome de terceira via a ser testado.

Devemos ter um gatilho positivo para a bolsa, porque começa a ter uma referência sobre a terceira via. Vemos motivos para uma janela daqui até o final do ano mais positiva. mas 2022 vai ser um ano de volatilidade.

Se a terceira via não vingar, qual deve ser o impacto nos preços?

RF: Existe um cenário bom e um ruim de eleição. Poderiam estar precificando 50% cada um, mas o mercado está vendo mais chance de um cenário ruim, de 70% para 30%. Ainda pode cair mais se o cenário for ruim, mas a assimetria já fica favorável para fazer a ponta oposta. Será um período longo de incertezas e o mercado ainda pode mudar essa percepção de copo meio cheio e meio vazio.

Com relação ao ambiente externo, o tapering ainda é preocupação para os emergentes?

Jorge Dib Neto (Jóca): Uma boa parte do tapering já foi antecipado no mercado. O Federal Reserve (Fed) sinalizou bem os passos. A questão principal é o aperto monetário. O Fed vê alta de juros para 2023 e o mercado precifica um pouco para o fim de 2022. O que vai determinar isso é o quão transitória será a inflação e como será a resposta do mercado sobre o efeito do tapering, que deve ser mais marginal. Não acho que vamos ter surpresas em relação ao tapering e à alta de juros. A novidade serão os efeitos da apreciação de commodities energéticas, como o petróleo.

A Frontier tem investimentos em Petrobras e PetroRio. Mesmo próximo das máximas de 2018, a visão ainda é positiva para o petróleo?

RF: A PetroRio tem exposição ao petróleo, mas é uma história de criação de valor por meio de aquisições e boa gestão. Já a Petrobras (PETR3/PETR4) está muito descontada, mas é muito dependente de um cenário político-eleitoral. Entendemos que são posições que não podemos ter muita exposição no fundo, de até 4%, até porque estão meio contra o ESG. Se um dia vier a conta, vai haver dificuldade de financiar novos projetos. Temos que tomar mais cuidado.

Sobre o preço de commodities, o petróleo estava mais bem posicionado em relação ao minério de ferro, dado o ciclo da China. Agora, a crise energética global afetou o preço, com maior demanda por gás e óleo. Achamos que a sinergia mudou um pouco. O petróleo já andou bastante.

A Frontier tem ações da Vale ou de siderúrgicas?

RF: Já teve. No fim do ano passado, tínhamos uma visão positiva para o preço de commodities, com a eleição do Joe Biden e redução da guerra comercial. Tínhamos Bradespar (BRAP4) como participação na Vale (VALE3) e debêntures participativas da Vale, que vieram com desconto interessante na oferta.

Mas entre maio e junho ficamos menos otimistas com commodities ligadas à China e reduzimos as posições e escapamos dessa virada do minério. Nesse momento estamos zerados em aço e minério de ferro. Temos apenas petróleo. Em commodities agrícolas temos SLC, exposta à soja e ao algodão.

O senhor comentou que a posição em petróleo não passa de 4% por ação. Como o ESG é trabalhado na gestora?

RF: Fazemos um relatório sobre ESG para toda empresa analisada. Isso entra como um fator qualitativo para a nossa tomada de decisão, assim como é a qualidade da gestão e do negócio. Definimos qual deveria ser o tamanho máximo no fundo de acordo com o perfil de risco. Empresas alavancadas, estatais e com ESG contra têm mais risco. Por isso, PetroRio e Petrobras são posições que não passam de 4%. E tem empresa como a Natura, que podemos ter 12%, porque é de perfil defensivo, bem gerida, tem presença global, não regulada e tem ESG positivo.

Hoje a Natura é a maior posição?

RF: Nossas maiores posições, que são bem parecidas em tamanho,  estão em Renner, Natura, SLC e Cesp.

Poderia falar um pouco das teses?

RF: A Renner sentiu um pouco a piora do ambiente doméstico, mas costuma ficar muito atraente nas crises. Vemos P/L para o ano que vem de 20x. É uma empresa barata e que sabe se defender em ambientes adversos.

Já a SLC e Cesp vemos como bem resilientes para o cenário.

A SLC exporta soja e algodão, então recebe em dólar e resiste a ambientes adversos, mesmo em períodos eleitorais. Ela está muito mal precificada, já que a valorização da terra de suas fazendas não aparece na contabilidade. A parte que aparece é o ganho agrícola. Quando se soma os dois, a SLC está rodando a CDI + 10%, que é o mesmo retorno dos grandes bancos na época boa. É uma empresa muito barata, estou vendo a 8x lucro, mesmo com queda das commodities. E esse é o lucro contábil. O mercado não está precificando direito.

A Cesp é de um setor que ficou para trás no bull market da bolsa, quando todo mundo queria empresa de crescimento. Com a piora do cenário, voltou a ter interesse por utilities. É uma empresa com dividend yield de 10% e nós acreditamos que eles estão chegando à fase final para receber a indenização da usina de Três Irmãos. Tudo leva a crer que vão aceitar os termos propostos pelo governo e quando fizerem isso, haverá maior clareza para o ativo, podendo até distribuir esse valor da indenização.

Qual é o risco da crise hídrica para a Cesp? Isso ainda pode impactar as ações da companhia?

RF: Um ano de crise hídrica, em geral, pesa 2% do valor da empresa. O risco maior seria se ela produzisse menos do que o esperado por dez anos. Nesse caso, haveria impacto mais relevante no valuation da empresa, algo na ordem de 15%. Mas não é a situação atual, que deve ser de curto prazo, com algum prolongamento. De qualquer forma, isso já está totalmente precificado. A assimetria é muito positiva para entrar na empresa, já contando com um cenário mais conservador para o regime de chuvas e geração de energia.

Sempre que há crise hídrica, o mercado exagera o dano sobre o setor de utilities e quando passa a crise é o momento de boa performance para os ativos. Isso vale para distribuidoras também. Nesse momento é bem favorável a posição.

Os bancos vêm apresentando bons resultados na temporada de balanços dos Estados Unidos. Como a Frontier tem visto os grandes bancos do país? Estão baratos?

RF: Não temos bancos na carteira. Nossa visão é de que foi um grande negócio no passado. Havia grandes vantagens competitivas, como ganho de escala para poder ter agência e investimento em T.I., além do conhecimento de crédito. O retorno sobre bem de capital era bem alto, de CDI + 10%. Mas houve uma mudança estrutural da indústria.

Hoje a escala passou a ser desvantagem para a T.I., assim como ter agência, que representa alto custo. Agora tem empresas como Nubank , Banco Inter (BIDI11) e  XP, com estruturas corporativas mais ágeis para trabalhar em um modelo de startup. É um processo muito complicado, porque a competição tende a piorar o negócio.

Se os bancos valiam 2x valor patrimonial por ação (VPA), entrando em um ambiente competitivo, vão valer 1x VPA e em um ambiente intermediário vão valer 1,5x VPA. Tem alguns anos para chegar nesse ambiente, ainda há uma transição. Mas os bancos negociam entre 1,7x e 1,8x. A relação de valor ainda não é atrativa para fazer essa posição dado a deterioração que enxergamos.

Não gostamos dos grandes bancos nesse nível de preço. Nossa posição no setor financeiro estaria em agentes com maior potencial de crescimento e disruptores. Ainda assim, há uma discussão grande de rentabilidade do negócio.

Temos investimentos em XP, que tem diferencial de produto e oferta e deve continuar crescendo bastante. O mercado bateu muito na ação, mas vemos mais como uma questão de preço, porque a trajetória continua favorável. Os fundamentos continuam fortes e têm uma avenida para desenvolver em cima de intermediação de produtos bancários. É um player muito forte, que está muito convidativo a esse nível de preço.

A Frontier tem posição em alguma das fintechs listadas no mercado brasileiro, como Banco Inter?

RF: É uma plataforma interessante para atrair tráfego, com a proposta de ser o serviço bancário com o menor custo possível e com uma amplitude de produtos grande. Para criar valor não basta só ter um monte de cliente. Se os grandes bancos vão ter dificuldade em rentabilizar, imagine um entrante com o preço lá embaixo. Claro que tem custos baixos, mas o que vai tirar de lucro da operação ainda é um questionamento pertinente.

A grande sacada seria lucrar de outras maneiras. Na compra de produtos com cashback ele usa essa base de clientes que ele conquistou e monetiza através de outros canais. É um banco em que o valor dele não vai estar necessariamente em lucros bancários. Não temos neste momento. No caso da XP sentimos mais conforto.

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