Mesmo com intervenções, volatilidade do câmbio duplicou
Desde o início de junho, as cotações do dólar oscilam em média 0,033 real por pregão, ante variação média diária de 0,015 real do início do ano
Da Redação
Publicado em 19 de setembro de 2013 às 18h19.
São Paulo - A intensidade das oscilações do dólar ante o real mais do que duplicou desde que integrantes do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, começaram a sinalizar, no fim de maio, uma redução no estímulo monetário, e continuou em patamares elevados mesmo com o programa de intervenções diárias do Banco Central.
Desde o início de junho, as cotações do dólar oscilam em média 0,033 real por pregão, ante variação média diária de 0,015 real do início do ano até o fim de maio, quando a divisa norte-americana começou sua escalada em relação ao real.
Em setembro, a oscilação média diária do dólar em relação ao real está em 0,037 real, praticamente o mesmo número de agosto, de 0,038 real, pico do ano.
"Se o objetivo oficial do programa de intervenções do BC era conter volatilidade, foi um insucesso. Se o objetivo era derrubar o patamar do câmbio , foi um sucesso", afirmou o estrategista para América Latina do banco BNP Paribas, Diego Donadio.
O BC anunciou no fim de agosto que atuaria diariamente nos mercados de câmbio, potencialmente injetando 60 bilhões de dólares até o fim do ano. Autoridades da equipe econômica vêm afirmando repetidamente que as intervenções têm o objetivo de conter a volatilidade da divisa e não limitar a alta do dólar.
No entanto, a cotação da divisa sofreu grande impacto. Depois de acumular alta de 21,52 por cento ante o real entre o início de maio e o dia 22 agosto, quando o BC anunciou o programa, o dólar reverteu a trajetória e passou a cair. Desde a implementação do programa, a divisa norte-americana acumula queda de 9,48 por cento em relação à moeda brasileira. Neste período, a divisa norte-americana subiu em relação ao real em apenas seis dos 20 pregões.
Segundo analistas, a volatilidade elevada deve-se ao alto grau de incertezas em relação às perspectivas macroeconômicas globais e isso não deve melhorar no curto prazo. Haja visto a recente decisão do Fed, que manteve na quarta-feira o ritmo de seu estímulo de compra de títulos e surpreendeu os mercados, que vinham precificando há semanas uma redução no estímulo monetário.
"Até que haja efetivamente o ajuste nas posições dos investidores, é difícil prever que a volatilidade irá cair de maneira consistente", disse o chefe de pesquisa em mercados emergentes do Nomura Securities, Tony Volpon, em Nova York.
Volpon ressaltou, entretanto, que o programa do BC adicionou um elemento de previsibilidade aos mercados que pode, no futuro, diminuir a intensidade das oscilações. Ainda assim, a melhora não deve ser total, uma vez que o componente de incertezas global ainda é forte.
"O mercado entende hoje que agora todo o drama sobre a tal redução dos estímulos do Fed vai ser decidido por dados econômicos ... Então você vai ter choques de informação continuamente abatendo o mercado e afetando o preço dos ativos", completou.
Futuro do Câmbio
A decisão do Fed gerou turbulências nos mercados financeiros mundiais e derrubou o dólar para o menor nível ante o real desde o fim de junho, mas analistas estão divididos sobre o que deve acontecer daqui para frente.
Alguns afirmam que a tendência do dólar é de alta ante o real, uma vez que a redução no estímulo do Fed ainda é iminente e o Brasil registra persistentes déficits em conta corrente. Outros, no entanto, acreditam que a forte valorização do dólar nos últimos meses foi excessiva, e que a divisa deve se estabilizar perto dos patamares atuais agora que essa distorção foi corrigida.
"O programa do BC fez com que o Brasil deixasse de sofrer muito em relação aos demais emergentes", disse o economista-chefe da Mauá Sekular Investimentos, Alessandro Del Drago. "O Brasil havia divergido muito em relação aos outros emergentes e no processo de voltar, houve volatilidade".
Seja qual for o rumo, analistas ressaltam que a volatilidade excessiva pode prejudicar as perspectivas econômicas do Brasil, principalmente tendo em vista o programa de concessões de infraestrutura com que o governo pretende impulsionar o crescimento econômico.
"Volatilidade, por si só, é a inimiga da previsibilidade", afirmou Donadio, do BNP Paribas. "Se a volatilidade está alta e vai continuar alta, a decisão de investimento deve demandar mais análise".
Contudo, para Volpon, do Nomura, nem tudo são más notícias. Segundo ele, apesar de as fortes oscilações do dólar dificultarem a tomada futura de decisões, a depreciação recente da divisa norte-americana permite que empresas protejam-se do risco cambial, com operações no mercado futuro, a preços mais baixos, beneficiando o investimento.
São Paulo - A intensidade das oscilações do dólar ante o real mais do que duplicou desde que integrantes do Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, começaram a sinalizar, no fim de maio, uma redução no estímulo monetário, e continuou em patamares elevados mesmo com o programa de intervenções diárias do Banco Central.
Desde o início de junho, as cotações do dólar oscilam em média 0,033 real por pregão, ante variação média diária de 0,015 real do início do ano até o fim de maio, quando a divisa norte-americana começou sua escalada em relação ao real.
Em setembro, a oscilação média diária do dólar em relação ao real está em 0,037 real, praticamente o mesmo número de agosto, de 0,038 real, pico do ano.
"Se o objetivo oficial do programa de intervenções do BC era conter volatilidade, foi um insucesso. Se o objetivo era derrubar o patamar do câmbio , foi um sucesso", afirmou o estrategista para América Latina do banco BNP Paribas, Diego Donadio.
O BC anunciou no fim de agosto que atuaria diariamente nos mercados de câmbio, potencialmente injetando 60 bilhões de dólares até o fim do ano. Autoridades da equipe econômica vêm afirmando repetidamente que as intervenções têm o objetivo de conter a volatilidade da divisa e não limitar a alta do dólar.
No entanto, a cotação da divisa sofreu grande impacto. Depois de acumular alta de 21,52 por cento ante o real entre o início de maio e o dia 22 agosto, quando o BC anunciou o programa, o dólar reverteu a trajetória e passou a cair. Desde a implementação do programa, a divisa norte-americana acumula queda de 9,48 por cento em relação à moeda brasileira. Neste período, a divisa norte-americana subiu em relação ao real em apenas seis dos 20 pregões.
Segundo analistas, a volatilidade elevada deve-se ao alto grau de incertezas em relação às perspectivas macroeconômicas globais e isso não deve melhorar no curto prazo. Haja visto a recente decisão do Fed, que manteve na quarta-feira o ritmo de seu estímulo de compra de títulos e surpreendeu os mercados, que vinham precificando há semanas uma redução no estímulo monetário.
"Até que haja efetivamente o ajuste nas posições dos investidores, é difícil prever que a volatilidade irá cair de maneira consistente", disse o chefe de pesquisa em mercados emergentes do Nomura Securities, Tony Volpon, em Nova York.
Volpon ressaltou, entretanto, que o programa do BC adicionou um elemento de previsibilidade aos mercados que pode, no futuro, diminuir a intensidade das oscilações. Ainda assim, a melhora não deve ser total, uma vez que o componente de incertezas global ainda é forte.
"O mercado entende hoje que agora todo o drama sobre a tal redução dos estímulos do Fed vai ser decidido por dados econômicos ... Então você vai ter choques de informação continuamente abatendo o mercado e afetando o preço dos ativos", completou.
Futuro do Câmbio
A decisão do Fed gerou turbulências nos mercados financeiros mundiais e derrubou o dólar para o menor nível ante o real desde o fim de junho, mas analistas estão divididos sobre o que deve acontecer daqui para frente.
Alguns afirmam que a tendência do dólar é de alta ante o real, uma vez que a redução no estímulo do Fed ainda é iminente e o Brasil registra persistentes déficits em conta corrente. Outros, no entanto, acreditam que a forte valorização do dólar nos últimos meses foi excessiva, e que a divisa deve se estabilizar perto dos patamares atuais agora que essa distorção foi corrigida.
"O programa do BC fez com que o Brasil deixasse de sofrer muito em relação aos demais emergentes", disse o economista-chefe da Mauá Sekular Investimentos, Alessandro Del Drago. "O Brasil havia divergido muito em relação aos outros emergentes e no processo de voltar, houve volatilidade".
Seja qual for o rumo, analistas ressaltam que a volatilidade excessiva pode prejudicar as perspectivas econômicas do Brasil, principalmente tendo em vista o programa de concessões de infraestrutura com que o governo pretende impulsionar o crescimento econômico.
"Volatilidade, por si só, é a inimiga da previsibilidade", afirmou Donadio, do BNP Paribas. "Se a volatilidade está alta e vai continuar alta, a decisão de investimento deve demandar mais análise".
Contudo, para Volpon, do Nomura, nem tudo são más notícias. Segundo ele, apesar de as fortes oscilações do dólar dificultarem a tomada futura de decisões, a depreciação recente da divisa norte-americana permite que empresas protejam-se do risco cambial, com operações no mercado futuro, a preços mais baixos, beneficiando o investimento.