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Mercado financeiro teme onda populista após manifestações

Analistas avaliam que os políticos podem evitar medidas impopulares em setores regulados


	Manifestantes acendem sinalizadoresem frente ao Congresso Nacional, em Brasília
 (REUTERS)

Manifestantes acendem sinalizadoresem frente ao Congresso Nacional, em Brasília (REUTERS)

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Da Redação

Publicado em 21 de junho de 2013 às 17h07.

São Paulo – As manifestações populares cresceram nas últimas semanas ao ponto de ontem alcançarem mais de 100 cidades brasileiras. Além da percepção ruim que isso pode passar sobre a estabilidade do país para os investidores estrangeiros – mais sensíveis a um noticiário desse tipo – o mercado financeiro começa a tentar estimar o efeito disso sobre as empresas listadas em bolsa.

Ninguém sabe ao certo avaliar o número correto de participantes nos protestos, mas não há mais dúvidas que a comoção popular em torno da extensa lista de insatisfações já é enorme. A primeira resposta dos governos foi a de atender aos pedidos de queda nas tarifas de ônibus, que foram reajustadas em 2013.

Agora, a incerteza é sobre como os partidos e governos vão se comportar até as eleições em 5 de outubro de 2014. Além das eleições para a presidência da República, os eleitores irão escolher novos governadores estaduais, um terço do Senado Federal, deputados federais e deputados estaduais e distritais.

“Quanto aos políticos do país, estes parecem estar cada vez mais desconfortáveis relativamente à adoção de medidas impopulares tais como os reajustes das tarifas, particularmente tendo em vista a aproximação das eleições”, lembram os analistas do Itaú BBA, que em um relatório sugerem a rotação de portfólio nos setores elétrico e de saneamento para evitar eventuais perdas com medidas que possam ser consideradas populistas.

O problema

Marcos Severine, Mariana Coelho e Gabriel Laera, autores da análise do banco, argumentam que as distribuidoras de energia podem sofrer com os possíveis debates acerca de um aumento nas tarifas a partir do ano que vem.

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Em 2013, o baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas obrigou as distribuidoras a realizar compras no mercado livre, abastecido pelas termoelétricas e que têm um custo mais caro. O Itaú BBA estima essa conta em cerca de 25 bilhões de reais. Para que o repasse disso, 23,5%, não fosse ao consumidor e a redução das contas alardeada pelo Governo Federal fosse realizada como o prometido, foi liberado o uso dos recursos da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo que financia programas federais no setor elétrico.

O valor bilionário tapou o buraco nas contas das empresas e preserva o consumidor em 2013, mas será custeado com o repasse às tarifas em cinco prestações, ajustado pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo), a partir de janeiro de 2014. Mas e se as empresas ainda precisarem das compras das termoelétricas no ano que vem (e essa é a expectativa do mercado)?


“Neste cenário, nossa única convicção é a de que os aumentos nas taxas de energia no curto prazo serão evitados, significando que a bola de neve dos custos da energia irá afetar tanto as contas do governo (através de mais subsídios) quanto as contas das companhias”, calculam os analistas do Itaú BBA.

Populismo

O efeito mais claro pode ser visto na reação do governo do estado do Paraná após a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizar o reajuste de 14,61% nas tarifas da estatal Copel (CPLE6). O governador do estado, Beto Richa (PSDB), não liberou o aumento que seria cobrado a partir do dia 24 de junho. Uma reunião com a empresa foi marcada para segunda-feira.

"Vou pedir para a Copel segurar para ver exatamente o que é isso, mas o que me parece em função dos últimos gastos do governo federal com estiagem, tiveram que colocar com todo o vapor as usinas termelétricas, que além de mais poluidoras são usinas que são muito mais caras para estarem operando...", disse ele, segundo áudio disponibilizado pela Agência de Notícias do Paraná, na quinta-feira, e publicado pela Reuters. As ações da Copel derretem 15% na Bovespa nesta sexta-feira.

“Acreditamos que a decisão do governo foi fortemente influenciada pela massiva onde de protestantes nas ruas do Brasil, mas não vemos razão econômica para fazer isso utilizando os recursos da Copel, devido ao forte impacto sobre o fluxo de caixa da empresa. Vemos essa possibilidade como um potencial dano maior não apenas à Copel, mas também para a imagem do governo e do seu partido”, ressalta Vinicius Canheu, analista do Credit Suisse, em relatório.

Outras empresas de saneamento e energia elétrica também irão receber o aval das agências reguladoras para reajustes nos próximos meses. A Celesc (CLSC4), de Santa Catarina, e a Sabesp (SBSP3), de São Paulo, em agosto. As distribuidoras da Eletrobras (ELET3; ELET6) terão as revisões tarifárias entre agosto e novembro. As revisões da Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3), ambas de Minas Gerais, ocorreram em abril e maio, respectivamente.

O que fazer?

O Itaú BBA indica uma revisão no portfólio do investidor que investe nas empresas dos setores. O banco reitera uma visão positiva às empresas no longo prazo, mas no curto prefere diferenciar as companhias por alguns critérios. Os analistas indicam as empresas que não apresentem “exposição à bolha dos custos da energia (elevado despacho termoelétrico e energia de Itaipu atrelada ao dólar), tenham sólidas perspectivas de dividendos; e não apresentem a necessidade imediata de rolagem das suas dívidas”.

As ações são as seguintes: AES Tietê (GETI4), as ordinárias (GETI3) são indicadas apenas para os investidores que vejam a liquidez como um problema, Tractebel (TBLE3), Transmissão Paulista (TRPL4), Alupar (ALUP11) e Eletrobras.

Os papéis a evitar são das empresas de distribuição, estatais e altamente alavancadas e com exposição ao dólar. São elas: Cemig, Copel, Cesp (CESP6), Sabesp e Eletropaulo (ELPL4).

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