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Medidas regulatórias mexem com fundamentos do setor elétrico em 2011

HSBC projeta volatilidade para o setor e revisa preço-alvo de onze companhias, incorporando cenário de intervenções regulatórias previstas para o ano

Cemig: ação é a menos impactada pelas medidas regulatórias, diz HSBC (Divulgação)

Cemig: ação é a menos impactada pelas medidas regulatórias, diz HSBC (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2011 às 08h24.

São Paulo - As ações do setor elétrico são consideradas boas apostas defensivas e sólidas pagadoras de dividendos, apoiando-se em custos baixos com infraestrutura e pouca necessidade de grandes aplicações financeiras periódicas. No entanto, o calendário de medidas regulatórias no setor programadas para 2011 pode render dias mais instáveis às ações, diz relatório do HSBC desta terça-feira (11). “Estamos preocupados com a remuneração de empresas de distribuição diante das decisões regulatórias, como a renovação das concessões e o terceiro ciclo de reposição tarifária”, alertam os analistas Reginaldo Pereira e Kaique Vasconcellos.

Segundo o banco, as medidas podem resultar em tarifas piores que o esperado e resultarem em volatilidade, principalmente de distribuidoras menos eficientes. “Acreditamos também que o governo federal pode limitar as tarifas de contratos de geração a serem renovados,  o que pode ter impactos sobre os preços do segmento de geração, como amplamente esperado por analistas. O mercado apresentaria decepção com preços abaixo de R$70/MWh”, diz o banco de investimentos.

Apesar das premissas desanimadoras, o HSBC relativiza o prejuízo. O impacto dependerá da exposição individual das companhia aos contratos de concessão. A equipe de analistas traçou diferentes cenários para as empresa do setor e atualizou o preço-alvo dos papéis até dezembro deste ano; confira a análise recebida por onze ações do setor:

1 - Cemig (CMIG4)

É a preferida do HSBC no setor, e ganha elogios por sua menor dependência da revisão tarifária. A maior participação dos segmentos de geração e transmissão de energia,  em detrimento da distribuição, aumenta a imunidade diante das decisões políticas e assegura a aposta overweight (alocação acima da média de mercado) para o papel.

Segundo os analistas, a consolidação enxuta das últimas aquisições, como a da Taesa, deve melhorar a visibilidade em termos de lucros recorrentes. “Acreditamos que a avaliação da Cemig deve ser corrigida a fim de refletir melhor a qualidade dos lucros, com mais fluxo de caixa derivado da geração e transmissão”. O preço-alvo da ação foi revisto de 34,09 reais para 37, reais.

2 -  Light (LIGT3)

É segunda melhor aposta no setor, diz a equipe de análise, que ressalta os “dividendos robustos” aguardados para o papel e sua pouca exposição à revisão tarifária.  A estimativa de dividendos por ação médio é de 3 reais até 2015. Já o retorno para a ação, incluindo dividendos, deve ser de 13,8% ainda em 2011. “Destacamos que um retorno de dois dígitos deve chamar a atenção do mercado, uma vez que outras empresas tradicionais de forte distribuição de dividendos do setor, como Eletropaulo e CPFL, devem diminuir seus dividendos por ação nos próximos anos devido ao terceiro ciclo de revisão tarifária”, ressaltam os analistas.

A ação manteve a classificação de overweight (alocação acima da média de mercado) e teve o preço-alvo revisto de 25,44 reais para 26,5 reais em dezembro deste ano, um potencial de valorização de 18%.

3 - Tractebel Energia (TBLE3)

A Tractebel está na lista de ações beneficiadas pela tendência de alta da inflação. Com seus contratos de venda reajustados pelo IGP-M (42% da receita) e pelo IPCA (58% da receita), o papel deve atrair a atenção dos investidores  no atual cenário. Outra vantagem apontada pela equipe de investimentos é o aumento dos múltiplos atuais, devido a projeto em estágio pré-operacional na usina hidrelétrica de Estreito.

O HSBC elevou o preço alvo da ação de 27,5 reais para 34,5 reais e reiterou a classificação overweight (alocação da média do mercado). Entre os riscos apontados para o papel, os analistas destacam os preços da energia no mercado livre e menores preços no mercado à vista. “ Os preços no mercado livre podem afetar o desempenho da Tractebel, assim como os do spot market, mas consideramos que a tendência de alta deve se manter nos próximos anos”. afirmam.
 


4 - Energias do Brasil (ENBR3)

A companhia conseguiu blindagem contra as revisões tarifárias do segmento de distribuição com o início das operações da usina termelétrica de Pecém, no Ceará, em 2012. As expectativas para o papel são positivas no cenário otimista, rendendo classificação overweight (alocação acima da média do mercado) e revisão do preço-alvo de 38,20 reais para 45 reais para dezembro, um retorno potencial de 19,1%, incluindo dividendos de 4%. Outra novidade incorporada à análise é a retirada do indicador de volatilidade da ação, cuja medição ficou abaixo do cálculo pela primeira vez.

 5 - Cesp (CESP3)

As incertezas em relação ao timing e às condições para renovação de concessões travam a avaliação da Cesp, dizem os analistas. As discussões sobre privatização também são levantadas, com uma possível venda da companhia considerada risco de alta não negociável.  A avaliação foi anterior ao noticiário da manhã desta terça, quando notícia publicada pelo jornal Folha de S. Paulo afirmou que o governo Geraldo Alckmin teria autorizado a sua equipe a negociar a venda da Cesp para o governo federal, fazendo as ações subirem 10%.

Em seguida, os analistas ressaltam a o impacto do fortalecimento do real nas estimativas de lucro líquido do papel, que foram revisadas para cima. “O aumento da receita líquida pode ser explicado por melhores expectativas de vendas no mercado livre e por maiores projeções de inflação no médio prazo”.  O HSBC aumentou o preço do papel de 26,80 reais para 30 reais e deu classificação neutra para a ação.

6 - AES Tietê (GETI4)

Segundo a equipe de análise, a tendência de alta no IGP-M deve impulsionar a receita líquida da AES Tietê, considerando que o reajuste de sua tarifa é corrigido por esse índice. “Qualquer sinal de inflação acima da expectativa pode representar um catalisador para as ações”, diz o relatório.

Por outro lado, o cenário dos juros pode afetar os dividendos. “Esperamos dividendos robustos nos próximos anos, mas as taxas  de juros mais altas podem ofuscar os retornos”. Os analistas elevaram o preço alvo de R$23,50 para R$24,50 nos próximos 12 meses e reiteraram a classificação neutral (alocação em linha com a média do mercado).

7 - Copel (CPLE6)

Com a troca da equipe de governo no estado do Pará após as eleições, a expectativas é de melhora da disciplina de capital para a Copel, ainda que o potencial de alta seja limitado, alerta o HSBC. A ação teve sua classificação neutral (desempenho em linha com a média do mercado) reiterada e seu preço-alvo elevado de 40 reais para 47 reais.

A capacidade de geração da Copel está integralmente contratada tanto no mercado livre como no regulado até 2012, projetam os analistas. “Acreditamos que a empresa deve se beneficiar da rolagem de seus contratos a partir de 2013, o que deve resultar em maiores preços médios e compensar o efeito negativo da revisão tarifária de distribuição em junho de 2012”. 

8 - CPFL Energia (CPFE3)

Fortemente apoiada no segmento de distribuição (69% do EBITDA consolidado), o impacto da revisão tarifária será forte, porém concentrado em 2013, quando a CPFL Paulista passar pelo processo. No entanto, o início da operação de projetos de geração de energia em 2012 deve contrabalançar o desempenho, projeta o HSBC. Os analistas mantiveram a classificação da ação em neutral (desempenho em linha com a média do mercado), aumentamos o preço alvo para 44 reais, ante estimativa anterior de  42,50 reais.

9 - MPX Energia (MPXE3)

A companhia terminou o ano anunciando a presença de gás em dois poços da bacia Parnaíba, que ainda permanecem com produção potencial e recursos não estimados. Uma vez que os dados confirmem cenário promissor, o efeito pode ser positivo para os papéis, projeta o banco. “Acreditamos que a certificação de novos recursos pode funcionar como um catalisador para a ação”, diz o HCBC.

O HSBC manteve seu preço alvo de 31 reais e sua classificação como neutral (desempenho em linha com a média do mercado), eliminando o indicador de volatilidade e apontando como riscos para as ações possíveis atrasos ou cancelamento no início das operações de projetos.

10 - Eletrobrás (ELET6), (ELET3)

Planejando realizar ainda em janeiro deste ano uma emissão de novas ações para converter as injeções de caixa, a companhia deve passar por uma diluição de lucros 5,1%, segundo estimativa do banco de investimentos. “Segundo nossos cálculos, 217 milhões de novas ações devem ser emitidas e a diluição para os atuais acionistas pode atingir 19,2%”.

Os analistas projetaram novos preço-alvo para ELET6 (de 30 reais para 29 reais), ELET3 (de 24,60 reais para 24,30 reais). A classificação neutra (desempenho em linha com o mercado) foi reiterada.

11 - Eletropaulo (ELPL4)

No curto prazo, a tese de investimento da Eletropaulo é fundamentada por um alto dividend yield de 17,6%, relacionado ao último semestre de 2010 e ao primeiro de 2011. No entanto, depois da revisão tarifária, em meados de 2011, a história deve perder seu atrativo, com forte queda nos lucros, diz projeção do banco. “Esperamos forte volatilidade no preço da ação até que a metodologia final do processo seja divulgada pela Aneel (fevereiro ou março) e também quando o regulador anunciar o reajuste tarifário da Eletropaulo (maio ou junho)”, afirma o relatório.

A ação foi rebaixada de neutra para underweight (alocação abaixo da média do mercado), e seu preço-alvo foi cortado de 36,50 reais para 27,80 reais até dezembro deste ano. “Em nossa opinião, será a companhia mais impactada pelas medidas, e esperamos um efeito negativo sobre os demonstrativos financeiros da empresa”, conclui o estudo.

Direto da Bolsa: Cesp ganha destaque com rumores de sua venda - 2ª edição

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