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Lucro da Kraft Heinz despenca, ação cai 15% e CEO diz: “não é aceitável”

O faturamento caiu 4,8% em relação ao mesmo período de 2018 e o lucro operacional caiu 54,6%, para 1,296 bilhão de dólares

Miguel Patricio: "Não é nada de que possamos ter orgulho", comentou CEO da Kraft Heinz sobre resultados negativos do 1º semestre (Divulgação)

Miguel Patricio: "Não é nada de que possamos ter orgulho", comentou CEO da Kraft Heinz sobre resultados negativos do 1º semestre (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de agosto de 2019 às 10h50.

Última atualização em 8 de agosto de 2019 às 11h22.

Apenas 40 dias depois de assumir a presidência da fabricante de alimentos Kraft Heinz, o português Miguel Patricio, ex-vice-presidente da ABInBev, teve um batismo de fogo nesta quinta-feira.

A companhia, dona de marcas tradicionais como o queijo Philadelphia ou o ketchup Heinz, anunciou quedas substanciais nos resultados do primeiro semestre. O faturamento caiu 4,8% em relação ao mesmo período de 2018 e o lucro operacional caiu 54,6%, para 1,296 bilhão de dólares. “Não é nada de que possamos ter orgulho. Não é aceitável”, afirmou Patricio em conferência com analistas.

Como resultado, as ações da companhia abriram em queda de 15% na bolsa de Nova York — um tombo de mais de 4 bilhões de dólares.

Os números mostram que, para além dos projetos de crescimento de longo prazo, a companhia, controlada pelo fundo brasileiro 3G, do investidor Jorge Paulo Lemann, tem muito trabalho pela frente no ganho de eficiência operacional.

Mesmo com os constantes cortes dos últimos anos, com grandes levas de demissões e fechamento de fábricas, ainda há trabalho pela frente. Como admitiu Patricio, é um trabalho que nunca termina.

Um dos maiores desafios da companhia estão nos crescentes custos logísticos, que vêm subindo dois dígitos nos últimos anos. Para executivos próximos à companhia, são dados que mostram que o mercado de alimentos é mais complexo do que outro setor em que o 3G tradicionalmente investe, o de cervejas.

A competição em alimentos é mais ferrenha, dando aos distribuidores e aos varejistas maior poder de barganha, o que acaba por impulsionar os custos dos fabricantes. Por maior que seja a Kraft Heinz, ela não tem o poder de ditar preços e condições como tem a ABInBev, maior cervejaria do planeta, controlado pelo 3G.

Patricio afirmou que dedicará o segundo semestre a mudanças internas necessárias para posicionar a companhia para uma nova fase de crescimento. “Podemos e devemos continuar encontrando formas de ser mais eficientes internamente. Grandes empresas são aquelas que mantêm os custos sob controle, e assim podem usar o dinheiro para os investimentos importantes”, disse Patricio. “Não é uma coisa ou outra.”

Como o segundo semestre será dedicado a essas mudanças importantes, e como a nova gestão acabou de assumir, a Kraft Heinz decidiu não divulgar um guidance (previsão) de ebitda para o segundo semestre de 2019 e se limitou a dizer que espera melhoras no faturamento e no lucro. “O que não precisamos neste momento é ser cobrados por metas de curto prazo”, afirmou o novo presidente.

As frentes de crescimento seguem as mesmas destacadas pelo executivo assim que assumiu a companhia. “Vamos investir consistentemente em inovação para levar marcas com 150 anos de história para novos segmentos”, disse Patricio.

O plano da Kraft Heinz é investir mais em poucas marcas, em vez de buscar lançar novas marcas para entrar em novos segmentos. “Temos que ser mais obcecados pelo consumidor para chegar antes de eles mesmos imaginarem o que querem”, disse o presidente. “Precisamos nos perguntar o que é de fato relevante no longo prazo, e buscar inspiração interna e externa para chegar lá”, disse o presidente.

Em entrevista a EXAME logo após ser anunciado, em abril, Miguel Patricio destacou sua experiência como presidente da ABInBev na China como fundamental para recuperar a Kraft Heinz. “Com certeza a experiência na China me ajuda muito. Eu terei de mudar um negócio, energizar as pessoas, evangelizar um grupo. Terei de fazer as pessoas acreditar”, disse Patricio em abril. Em cinco anos, ele levou a ABInBev para a liderança de mercado de cervejas premium na China.

A experiência chinesa voltou a ser reforçada na conferência desta quinta-feira. “Precisamos entender para onde o mercado vai crescer, e chegar na frente dos outros. Se entendermos o futuro, vamos ganhar”, afirmou.

O caminho é longo. Em dois anos, as ações da Kraft Heinz despencaram 70%.

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