Mercados

Lendário trader está perdendo amigos ao doar bilhões

Aos 38 anos, John Arnold decidiu passar o resto de sua vida doando seu dinheiro de forma tão contrária à lógica quanto a forma em que ele o tinha ganho


	Gestor de fundo John Arnold e sua mulher, Laura: "minha vida foi 100 por cento voltada para ganhar dinheiro na primeira fase, e depois, 100 por cento voltada a tentar fazer o bem na segunda”
 (John and Laura Arnold Foundation)

Gestor de fundo John Arnold e sua mulher, Laura: "minha vida foi 100 por cento voltada para ganhar dinheiro na primeira fase, e depois, 100 por cento voltada a tentar fazer o bem na segunda” (John and Laura Arnold Foundation)

DR

Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2015 às 18h38.

Quando John Arnold era um trader, ele tinha uma forma serena – alguns diriam sem coração -- de ver o mundo.

Ele queria a verdade, a verdade dura, e abraçou o poder de uma ideia que ninguém mais estava vendo.

Então apostou quase tudo o que tinha nessa ideia.

Em 2006, o fundo hedge de Arnold, Centaurus Advisors, assumiu uma forte posição contrária sobre os preços do gás natural e ganhou uma fortuna. Em 2008, ele antecipou a queda das commodities.

Três anos atrás, com a tenra idade de 38 anos, casado, com três filhos e US$ 4 bilhões mais rico, Arnold fechou seu fundo e decidiu passar o resto de sua vida profissional doando seu dinheiro de forma tão contrária à lógica quanto a forma em que ele o tinha ganho.

Ele ganhou milhões na Enron e bilhões na Centaurus, indo para um lado quando todos iam para o outro.

Agora, essa pessoa estranha que vai ficando menos popular quanto mais doa, está se concentrando em dilemas que arrastam o país para baixo, em assuntos que mais ninguém quer encarar.

Sentado no escritório de sua fundação em Houston, ele explica: “Quando eu negociava com ativos eu me preocupava com o fato de que era difícil fazer o vínculo direto entre o setor financeiro e o bem comum. Minha vida foi 100 por cento voltada para ganhar dinheiro na primeira fase, e depois, 100 por cento voltada a tentar fazer o bem na segunda”.

Causas esquecidas

Arnold e sua esposa, Laura, uma ex-advogada corporativa, têm como alvo causas pouco populares e desvalorizadas, coisas como a integridade das pesquisas, reforma penal de delitos por drogas, doação de órgãos e sistemas de aposentadoria falidos, uma questão especialmente radioativa.

A reforma das aposentadorias chamou a atenção de Arnold desde que leu pela primeira vez sobre o assunto.

O problema é complexo, aparentemente insolúvel, e quase ninguém mais estava disposto a se envolver.

E Arnold, um democrata moderado que acredita que um país rico como os EUA deveria proporcionar uma rede de segurança melhor para os seus cidadãos, acha que as apostas são altas, colocando em jogo até mesmo a sobrevivência do próprio governo que fornece essa rede.

Qualidade de vida

As aposentadorias funcionam assim: todos os anos, funcionários e o governo depositam em um fundo, e quando os empregados se aposentam o governo usa esse fundo para pagá-los até o dia em que morrem.

Há um espaço de décadas entre os momentos em que o dinheiro entra e sai, então o governo pode investir o fundo e garantir que o dinheiro estará ali.

Mas surgiram problemas. Como as contribuições dos empregados são tiradas diretamente de seus salários, prefeitos e governadores não estão pagando rotineiramente sua parte, argumentando (muitas vezes equivocadamente) que conseguem um retorno maior do que o previsto. Além disso, a queda do mercado de 2008 eliminou mais de US$ 1 trilhão dos ativos de fundos de pensões.

Um estudo de mais de 150 fundos locais e estaduais encontrou um passivo a descoberto total de entre US$ 1,1 trilhão e US$ 3,1 trilhões.

Resolver o problema das aposentadorias

Este não é um problema que a maioria dos filantropos tenha mostrado algum interesse em resolver.

“Resolver” as aposentadorias significa, quase por definição, cortar pagamentos para pessoas que precisam deles e que esperavam recebê-los, aumentar a idade de se aposentar, reduzir os gastos para viver, introduzir planos de contribuição definidos para novos trabalhadores e aumentar o quanto cada funcionário deve contribuir para seu plano de aposentadoria.

Os Arnolds argumentam que, apesar da dor causada, sem as alterações tanto os governos quanto os pensionistas não têm futuro.

Os críticos dizem que a reforma das aposentadorias é um eufemismo para negar aos trabalhadores o que foi prometido e pelo qual eles pagaram. Um jornalista da revista Rolling Stone chamou Arnold de “a jovem eminência parda da direita”.

Arnold, que já estava acostumado a ser impopular quando era investidor, diz que os resultados do trabalho compensam todas as críticas.

Ele reconhece que a política é um reino mais complicado que o mundo dos mercados financeiros, orientado por métricas.

O fracasso é parte frequente, e até mesmo elementar, do sucesso.

Acompanhe tudo sobre:CommoditiesExecutivosMercado financeiro

Mais de Mercados

"Não faz sentido correr risco com esse nível de juros", diz maior fundo de pensão do Nordeste

Ações da Usiminas (USIM5) caem 16% após balanço; entenda

"Se tentar prever a direção do mercado, vai errar mais do que acertar", diz Bahia Asset

"O dólar é o grande quebra-cabeça das políticas de Trump", diz Luis Otavio Leal, da G5 Partners

Mais na Exame