O que é a Lei das estatais e por que a possibilidade de mudança assusta investidores
Lula estaria cogitando rever legislação para permitir indicações políticas, diz Eurasia
Beatriz Quesada
Publicado em 12 de dezembro de 2022 às 15h39.
Última atualização em 12 de dezembro de 2022 às 17h01.
O grande assunto nos mercados nesta segunda-feira, 12, é a possibilidade de ameaça à Lei das Estatais . Aprovada na gestão de Michel Temer (MDB), a lei estabelece parâmetros de governança para empresas estatais, exigindo qualificação técnica para as indicações e vendando, entre outros pontos, nomeações políticas.
A Lei foi uma resposta aos desafios de governança, em especial na Petrobras , durante a gestão de Dilma Rousseff (PT). Com a volta do PT ao poder, o temor dos investidores é que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva reveja o mecanismo para permitir indicações políticas.
O alerta foi dado pela consultoria Eurasia. Em documento publicado mais cedo, a consultoria disse que o presidente eleito pretende revogar a lei já em seus primeiros dias de mandato, via Medida Provisória (MP).
“A revogação dessa legislação facilitaria significativamente as nomeações políticas para os conselhos das estatais”, informa o documento, dizendo que Lula abre assim caminho para indicações rápidas ao cargo de presidência da Petrobras e também para os bancos públicos.
A consultoria reforça ainda que a alteração na Lei das Estatais ajudaria nas negociações do governo com os partidos de centro, garantindo indicações do governo e controle de grande parte do orçamento.
A questão central é a governança. Segundo analistas, as indicações políticas diminuem a transparência das decisões da empresa e minam a confiança dos investidores de que as decisões tomadas são realmente as melhores para a sustentabilidade da empresa. Tanto é que as ações de Petrobras (PETR3/PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) entraram em forte trajetória de queda nesta segunda.
“Houve o entendimento de que ocorreram excessos em interferência política no governo Dilma. Isso levou o Congresso a apertar o cerco contra a participação de políticos no comando das empresas, o que foi importante para proteger os acionistas. Porém, o novo governo entende que os políticos foram criminalizados e que podem estar dentro das estatais. Mas o mercado fica desconfiado”, avalia Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos.
Em um primeiro momento, a expectativa era que Lula usasse o mecanismo para indicar o senador Jean Paul Prates (PT) para o comando da estatal, uma vez que Prates vem sendo apontado há semanas como principal cotado para o cargo.
Nesta segunda, no entanto, a coluna de Lauro Jardim no O Globo informou que Aloizio Mercadante, ex-ministro da Casa Civil de Dilma, poderia ser indicado por Lula ao comando tanto da Petrobras quanto do BNDES. O petista foi um dos principais nomes da estratégia de campanha do presidente eleito.
No caso de Mercadante, um adendo: a Lei das Estatais veda a indicação para presidência de quem atuou em estrutura decisória de partidos políticos nos últimos 36 meses, o que inibiria, de cara, sua indicação.
Mercadante não quis comentar os rumores, mas disse desconhecer qualquer iniciativa de modificar o instrumento de governança. "No governo de transição, desconheço iniciativa de alterar a Lei das Estatais", disse Mercadante ao chegar à cerimônia de diplomação do presidente Lula, e do vice-presidente eleito Geraldo Alckmin na tarde desta segunda-feira.
Leia também: Petrobras desaba com possibilidade de Mercadante na presidência
Vale lembrar que a Lei das Estatais já esteve sob ataque este ano durante a gestão de Jair Bolsonaro. Em meio à escalada do preço dos combustíveis, a administração do atual presidente buscou flexibilizar a lei para fazer indicações políticas ao comando da estatal.
A possibilidade de mudança foi ventilada em junho deste ano, mas não avançou. Logo na sequência, Caio Paes de Andrade foi eleito CEO da estatal – sob protestos. Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), Paes de Andrade não atendia aos requisitos, exigidos na Lei das Estatais e acolhidos pela governança da Petrobras, para chefiar a empresa.
Ele é formado em Comunicação Social com pós-graduação em administração e, apontou a FUP, não tem experiência executiva ou formação acadêmica relacionada ao setor de petróleo e gás.
Entenda o que é a Lei das Estatais
A Lei das Estatais foi criada em 2016, sob a gestão Michel Temer, e estabeleceu novas regras para nomeação de diretores e conselheiros de estatais. Entre elas, a proibição de que dirigentes partidários, ocupantes de cargos políticos ou políticos que disputaram eleições recentes ocupem diretorias ou conselhos. Por meio dessa restrição, busca-se evitar que sejam feitas indicações políticas para o comando das estatais.
A lei também estabelece regras para o funcionamento de comitês e conselhos, com o objetivo de melhorar as práticas dentro das companhias. A norma abrange todas as companhias controladas pelo Estado - o que inclui empresas públicas, sociedades de economia mista e subsidiárias, e sociedades cuja maioria do capital votante pertença direta ou indiretamente à União.
* Com agências