IOF valoriza bônus internacional brasileiro atrelado ao real
Papéis a venda no exterior é 3,72% mais barato do que o vendido no Brasil depois do aumento do IOF
Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2010 às 10h45.
Nova York/Xangai - O Tesouro Nacional pode vender títulos da dívida externa denominados em reais pela primeira vez em três anos. O custo de uma captação com esse tipo de papel é o menor em sete meses por conta do aumento do imposto sobre investimentos estrangeiros em renda fixa, que está transferindo a demanda para o exterior.
Os bônus soberanos globais atrelados ao real com vencimento em 2016 estão se valorizando mais rápido do que os títulos domésticos de prazo semelhante desde o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras em 4 de outubro. A diferença entre as taxas dos papéis em reais colocados no exterior e no mercado doméstico é de 372 pontos-base, ou 3,72 pontos percentuais, a mais alta em sete meses. A diferença estava em 214 pontos em 13 de julho, segundo dados da Bloomberg.
A demanda pelos títulos globais aumentou após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dobrar o imposto sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa para conter a valorização do real, que chega a 34 por cento nos últimos dois anos. Colômbia, Chile e Filipinas estão vendendo papéis denominados em moeda local no exterior para aproveitar a crescente demanda por maior rendimento, já que os juros nos Estados Unidos, Europa e Japão estão em mínimas históricas.
"É uma boa oportunidade para o governo vender dívida", disse Diego Donadio, estrategista para América Latina do BNP Paribas em São Paulo, numa entrevista por telefone. "É caro investir localmente porque você tem de pagar mais imposto. Os ativos brasileiros são vistos como uma boa oportunidade para os estrangeiros."
Títulos de mercados emergentes denominados em moeda local subiram 20 por cento este ano, após um ganho de 22 por cento em 2009, de acordo com o Índice Diversificado GBI-EM Global do JPMorgan Chase & Co.
Grande demanda
A maior economia da América Latina pode vender bônus internacionais denominados em real antes do fim do ano, disse Arno Augustin, secretário do Tesouro, a repórteres em Brasília em 14 de outubro. Augustin estava viajando e indisponível para comentários adicionais em 15 de outubro, de acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda. Paulo Valle, secretário-adjunto do Tesouro, se recusou a fazer comentários.
Países em desenvolvimento captaram US$ 2,8 bilhões com a venda de dívida em moeda local no exterior, a maior quantia desde 2007, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A Rússia também planeja oferecer papéis em rublos para investidores internacionais este ano, disse o vice-ministro das Finanças, Dmitry Pankin, a repórteres em Moscou em 8 de setembro.
"A demanda dos investidores tem sido grande por bônus globais", disse Ram Bala Chandran, analista de moedas e juros para América Latina do Citigroup Inc., numa entrevista por telefone de Nova York. "Se o Brasil quiser emitir, o mercado tem apetite."
O Brasil elevou o IOF incidente na compra de ativos de renda fixa por estrangeiros de 2 por cento para 4 por cento este mês, após o real atingir o maior nível em mais de dois anos. O governo manteve o IOF em 2 por cento para investimentos em ações.