Investidor aposta no Congresso para aprovação da reforma
Mercado vê chances maiores de o governo aprovar uma reforma com economia de pelo menos R$ 600 bilhões em dez anos
Karla Mamona
Publicado em 21 de maio de 2019 às 09h27.
Última atualização em 21 de maio de 2019 às 09h29.
(Bloomberg) -- Apesar das incertezas políticas que envolvem o governo de Jair Bolsonaro, os investidores veem um cenário mais favorável para a reforma da Previdência, na expectativa de que o Congresso tomará a frente do projeto.
"Acreditamos que o governo será capaz de aprovar a reforma", disse a gestora SPX, em sua carta mensal. "Não por mérito próprio, mas porque boa parte dos congressistas sabe que sem a reforma o país caminharia para uma crise fiscal permanente.”
A Eurasia elevou as chances de aprovação da reforma de 70% para 80%, com a avaliação de que a resistência dos parlamentares ao tema hoje é menor. Apesar do aumento do barulho em torno do governo Bolsonaro, o senso de urgência no Congresso é agora maior, de acordo com o diretor da Eurasia para as Américas, Christopher Garman.
A perspectiva mais construtiva levou o Bank of America Merrill Lynch a elevar a recomendação dos títulos soberanos brasileiros para overweight. "Agora temos mais confiança de que o governo pode realizar uma reforma que seria considerada positiva pelos investidores", escreveram os analistas Jane Brauer e Lucas Martin em relatório na semana passada.
A diretora de dívida emergente da AllianceBernstein, Shamaila Khan, vê maiores chances de o governo aprovar uma reforma com economia de pelo menos R$ 600 bilhões em dez anos. "Acreditamos que a probabilidade de um número maior tenha aumentado ligeiramente devido ao amplo acordo sobre a importância da reforma", disse Khan.
A ideia de que o Congresso pode assumir o protagonismo da reforma vem ganhando corpo nos últimos dias, diante da falta de articulação e perda de capital político do governo. Na semana passada, os ativos financeiros passaram por estresse com derrotas no Congresso, manifestações contra os cortes na educação, redução das projeções de crescimento econômico e suspeitas sobre Flávio Bolsonaro - negadas pelo senador. A carta compartilhada pelo presidente, de um autor que chama o país de ingovernável, também azedou o clima político.