Coronavírus: doença de origem asiática se alastra por outros continentes e preocupa investidores (Adriano Machado/Reuters)
Guilherme Guilherme
Publicado em 27 de fevereiro de 2020 às 18h18.
Última atualização em 27 de fevereiro de 2020 às 18h47.
São Paulo - Pânico! Foi esse o sentimento que aflorou em parte dos investidores ao ver seus ativos passarem por forte desvalorização nos últimos dias. Nesta semana, a preocupação sobre os efeitos do coronavírus foi reacesa no mercado financeiro com o aumento do número de casos fora da China - epicentro da doença. Na busca por ativos de segurança, os principais índices acionários do mundo, como o americano S&P 500 e o pan-europeu Stoxx 600 chegaram a cair mais de 9% em quatro dias. No Brasil, o Ibovespa acumula queda de 10,13% na semana.
Com os temores em alta, o índice de volatilidade VIX, também conhecido como “índice do medo” chegou a subir mais de 100% desde segunda-feira (24). Na máxima desta quinta-feira (27), o VIX bateu 36,36 pontos, o maior patamar desde o início de fevereiro de 2018, quando Jerome Powell assumiu o comando do Federal Reserve. Ou seja, nem os momentos mais tensos do conflito comercial e nem a morte do general iraniano Qassem Soleimani assustaram mais o mercado financeiro do que o coronavírus.
Celso Toledo, economista e diretor da consultoria LCA, vê o VIX acima dos 30 pontos como um “sinal de alerta”. Segundo ele, o índice acima dos 20 já representa um estado de maior nervosismo entre os investidores. “Mas quando passa dos 30, as coisas realmente ficam tensas”, disse.
Apesar de Toledo considerar a variação de 10 a 20 pontos como o “normal” para o VIX, o economista vê o índice mais sensível às altas desde o início da guerra comercial entre China e Estados Unidos. “De 2018 para cá, a gente viu a economia mundial perder um pouco de força e agora a probabilidade de ver o VIX acima de 20 pontos é muito maior do que foi entre 2016 e 2018, por exemplo.”
O índice VIX , que representa a volatilidade esperada para o S&P 500 em trinta dias anualizados, tem como base de cálculo os contratos de opções das ações que compõem o principal índice americano. “Quando ele está muito alto, é sinal de que as pessoas estão dispostas a pagar um preço elevado para se protegerem. Isso mostra que há o medo de que alguma coisa possa acontecer”, explicou Toledo.
De acordo com Adriano Candreva, sócio da Portofino Investimentos, essas altas repentinas costumam ocorrer quando os investidores são surpreendidos por algum acontecimento bem diferente das expectativas, como o avanço dos casos de coronavírus em diferentes países do mundo, como Itália, Irã e Estados Unidos. “Em geral, esses picos costumam ser breves. Assim como o VIX sobe rapidamente, ele também cai. Uma vez que a poeira abaixa, o pessoal volta a operar com base em fatos e não em pânico”, disse.
Para Celso Toledo, o período em que o índice fica em níveis elevados é um fator fundamental para se observar. “A primeira reação depois de um susto é de nervosismo mesmo, mas se continua nervoso depois de uma semana, o sinal é de uma coisa muito pior. Se ficar acima dos 30 pontos durante 7 ou 15 dias, dificilmente a economia real escapa”, comentou.
Julio Erse, diretor de gestão da Constância Investimentos, lembra de como os vírus da Sars e do H1N1 impactaram o mercado financeiro, mas acha difícil de mensurar os impactos que o coronavírus vai ter na economia. “O mundo está crescendo menos. Dessa vez, a China é muito mais importante do que era na época da Sars (2002). O determinante vai ser a extensão do dano econômico”, afirmou.