BM&FBovespa: índice de empresas enredadas em escândalos, que inclui a Petrobras e a Eletrobras, registrou o triplo do retorno das empresas sem envolvimento com investigações (REUTERS/Nacho Doce)
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2016 às 17h25.
No mercado de ações brasileiro, o campeão de performance no mundo neste ano, ironicamente são as empresas relacionadas a supostos casos de corrupção que lideram o rali.
Enquanto o Ibovespa acumula alta de 25 por cento em 2016, um índice simulado pela Bloomberg de 10 empresas envolvidas em investigações de corrupção tem ganhos de 40 por cento.
Esse grupo também supera outro índice simulado de empresas cujas práticas foram reconhecidas pela BM&FBovespa como sustentáveis.
O índice de empresas enredadas em escândalos, que inclui a Petrobras e a Eletrobras, registrou o triplo do retorno das empresas sem envolvimento com investigações.
O que tem impulsionado o rali para muitas das ações de empresas cuja imagem foi manchada recentemente é justamente um fator tido como negativo nos anos anteriores: o governo.
Enquanto a presidente Dilma Rousseff foi criticada pela interferência excessiva na Eletrobras para reduzir as tarifas de energia e por usar a Petrobras como instrumento de política econômica, quando o novo governo assumiu, o Ibovespa passou a ter o melhor desempenho do mundo com as apostas de que a governança corporativa das empresas estatais melhorará e de que o pior que as investigações tinham a revelar já veio à tona.
“Essas ações foram atingidas muito duramente no ano passado, abrindo espaço para que os traders especulativos tirassem vantagem de sua liquidez”, disse Adeodato Volpi Netto, chefe de mercados de capitais da Eleven Financial Research em São Paulo.
Contudo, a governança é o principal foco dos investidores e as ações podem se transformar em grandes perdedoras novamente se a situação não der sinal de melhora, disse ele.
Passaram-se dois anos desde que a Petrobras foi envolvida no enorme escândalo de corrupção conhecido como Lava Jato, e sua ação ainda acumula baixa de 24 por cento no período, mesmo após ter ganhado 55 por cento neste ano.
Outro membro do índice de empresas relacionadas a corrupção, o banco de investimento Grupo BTG Pactual, cujo fundador André Esteves foi preso em novembro passado por supostamente obstruir a Lava Jato, também se recuperou neste ano, mas ainda acumula desvalorização de cerca de 45 por cento desde a detenção do executivo.
Mas para cada ação do índice que sofreu impacto negativo com as investigações que todos os dias pipocam na imprensa, há uma companhia cuja menção em escândalos mal parece ter sido notada pelos investidores.
O Bradesco, segundo maior banco do Brasil em valor de mercado, acumula alta de 12 por cento desde que seu presidente e outros dois executivos foram acusados de irregularidades pela Polícia Federal, em maio, na operação Zelotes.
A siderúrgica Gerdau subiu 66 por cento desde que foi envolvida na mesma investigação, em fevereiro. E a Eletrobras, cujo ex-chefe de energia nuclear foi acusado em julho de 2015 de aceitar propinas de construtoras, quase triplicou desde então.
A Eletrobras e a Petrobras disseram que estão cooperando com os investigadores e as demais empresas incluídas no indicador de companhias relacionadas a corrupção negaram irregularidades.
A Gerdau disse que a performance da sua ação neste ano reflete “o histórico e a seriedade que a empresa vem demonstrando ao longo de seus 115 anos de existência”.
O Santander Brasil disse que não é investigado diretamente. Os jornais O Globo, Folha de S.Paulo e Jornal do Comercio noticiaram, em maio, que o banco foi acusado por procuradores de supostamente pagar propinas para evitar o pagamento de impostos.
O banco disse que o desempenho de suas ações em 2016 “reflete sua performance operacional e financeira, além da confiança dos investidores na solidez dos seus resultados e no comando da instituição”.