Ibovespa cai e volta aos 121 mil pontos com realização e cautela nos EUA
Petrobras e Vale pressionaram índice para baixo em dia de vencimento de opções; dólar encerra em queda
Guilherme Guilherme
Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 09h25.
Última atualização em 13 de janeiro de 2021 às 18h20.
O Ibovespa perdeu a marca dos 122.000 pontos nos últimos minutos do pregão desta quarta-feira, 13, com os investidores realizando lucros após altas recordes da última semana. Blue chips como Petrobras (PETR3; PETR4), Vale (VALE3) e grandes bancos pressionam o índice negativamente. O Ibovespa fechou em queda de 1,67%, aos 121.933 pontos.
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O dia foi também de vencimento de contratos de Ibovespa futuro, o que levou investidores a optar por embolsar ganhos diante de riscos ligados ao cenário fiscal brasileiro. O processo de impeachment do presidente dos Estados Unidos Donald Trump também impôs doses de cautela nos mercados.
A votação sobre o possível afastamento de Trump teve início hoje na Câmara dos Deputados, mas pode ficar parada no Senado. Isso porque o líder da maioria na Casa, o republicano Mitch McConnell, disse ao principal democrata da Senado, Chuck Schumer, que não está disposto a convocar uma sessão de emergência para considerar a remoção de Trump do cargo após a provável aprovação do impeachment na Câmara.
"Trump já vai deixar o cargo na semana que vem, então o impeachment não muda nada. Ainda assim, é algo traumático. Ele foi o candidato derrotado com o maior número de votos da história dos Estados Unidos, então isso poderia incitar uma instabilidade ainda maior", comenta Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo.
A Câmara, controlada pelos democratas, tenta aprovar nesta quarta-feira o impeachment do presidente por sua participação no cerco ao Capitólio dos Estados Unidos na semana passada, quando apoiadores de Trump violaram a segurança do prédio, forçaram a fuga de parlamentares e deixaram cinco mortos em seu rastro, incluindo um policial.
"O mercado tem medo de o impeachment de Trump gerar uma revolta de apoiadores", acrescenta Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
Já para o cenário interno, o estrategista também destaca que a ações com grande peso no Ibovespa tiveram bastante espaço para realização no pregão de hoje, em especial empresas atreladas à commodities como Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3).
A petroleira foi impactada pela queda no preço do petróleo. A commoditie recuou por preocupações de que o avanço da pandemia em todo o mundo afete a demanda global por combustíveis. A mineradora enfrente situação parecida: o aumento de casos de Covid-19 na China faz com que os investidores temam uma diminuição da demanda do país por minério de ferro.
No pregão de hoje, as ações da Petrobras recuaram mais de 4,2%, enquanto as perdas da Vale ficaram em 2,84%. Ações dos grandes bancos, também com participação relevante no Ibovespa, são negociadas em queda e ajudam a dar o tom negativo. Confira os principais destaques de ações em detalhesaqui.
Câmbio
O dólar fechou em leve queda ante o real nesta quarta-feira, ao fim de uma sessão marcada por intenso vaivém nos preços, com a moeda brasileira terminando o dia entre os poucos destaques positivos nos mercados globais de câmbio.
A divisa americana recuou 0,226% frente ao real e encerrou o dia negociada a 5,310 reais. Na véspera, o dólar apresentou a maior queda em mais de dois anos (3,28%) e encerrou o dia negociado a 5,322 reais. A moeda devolveu -- em apenas um dia -- mais da metade do ganho acumulado nos primeiros dias de 2021.
A instabilidade do câmbio ocorreu em dia de fluxos pontuais, sem drivers com força suficiente para dar uma direção mais clara ao mercado. De forma geral, estiveram no radar notícias positivas do setor de serviços em novembro, perspectiva de início de vacinação, corrida para eleição nas duas casas legislativas brasileiras, apostas sobre os rumos da política monetária e o noticiário político nos Estados Unidos.
Não é de hoje que o real se destaca pelo vaivém, mas nas últimas sessões a moeda ampliou o "gap" ante os pares, sinal de percepção de maior incerteza sobre os rumos da taxa de câmbio. "Essa volatilidade do real tem espaço por causa do juro baixo. O Brasil não é um país que comporta um prêmio de risco tão baixo para o estrangeiro", disse Cleber Alessie, gerente da mesa de derivativos financeiros da Commcor DTVM.
Esse prêmio de risco é o juro, que, pela taxa básica, está na mínima histórica de 2% ao ano, mais baixa que os juros de rivais do Brasil na disputa por atração de investimentos, como México, Colômbia e África do Sul.
Agentes de mercado dizem que a divisa brasileira só deve fechar o "gap" de excesso de desvalorização ante seus pares quando a economia voltar a crescer de maneira consistente --o que, para analistas, só acontecerá no curto prazo com o controle da pandemia.
Dados econômicos
Apesar das incertezas do clima majoritariamente negativo nos mercados, no Brasil, dados desta manhã revelaram recuperação mais forte do que a esperada no setor de serviços. Segundo o IBGE, o crescimento mensal em novembro alcançou 2,6% contra expectativas de 1,2% de alta. Na comparação anual, a queda foi reduzida de 7,4%, em outubro, para 4,8%.
"A evolução da pandemia é um risco relevante no curto prazo para a continuidade da retomada do setor", avalia A rthur Mota, economista daEXAME Research. Segundo ele, a retomada da atividade pode voltar aos níveis pré-pandemia ainda no primeiro trimestre deste ano.
Na Zona do Euro, dados da produção industrial também surpreenderam positivamente, com crescimento mensal de 2,5% em novembro. Em relação ao mesmo período de 2019, a queda foi de 0,6% ante a esperada queda de 3,3%.
Com Reuters