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Hoje o mercado está refém da Lava Jato, diz Loyola

Para o sócio da Tendências Consultoria, o cenário é incerto e os movimentos da polícia e da política vão determinar a trajetória do mercado


	O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola: "o cenário econômico continua bastante nebuloso", disse
 (José Cruz/ABr)

O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola: "o cenário econômico continua bastante nebuloso", disse (José Cruz/ABr)

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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2016 às 17h09.

São Paulo - Ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Integrada, o economista Gustavo Loyola, diz que a alta do Bolsa e a queda do dólar que ocorreram nos últimos dias é uma reação de curto prazo em relação aos recentes episódios políticos que aumentaram a probabilidade de interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff.

Para ele, o cenário é incerto e os movimentos da polícia e da política vão determinar a trajetória do mercado. "O mercado está refém da Lava Jato", diz. A seguir, os trechos da entrevista.

Como o sr. vê o cenário econômico, depois dos episódios políticos de hoje (ontem)?

O cenário continua bastante nebuloso. A diferença dos últimos acontecimentos é o aumento da probabilidade da interrupção do mandato da presidente Dilma (Rousseff) antes de 2018.

Isso evidentemente mexe com o preço dos ativos: dólar, juros, Bolsa. Os mercados reagiram. Evidentemente, todos os olhos voltam-se para a questão política. Sem dúvida, o início da solução do problema econômico passa pela política.

O governo está hoje com dificuldades para implementar uma agenda de ajustes, principalmente na área fiscal, sem a qual não há como falar em reversão de expectativas e possibilidade de melhora da conjuntura econômica.

Nos últimos dias, o dólar tem caído e a Bolsa subido. As expectativas estão se revertendo?

Essa é uma reação de curto prazo. Não há nenhuma segurança de que vá se manter. Até porque o processo de impeachment da presidente e mesmo o processo no TSE são demorados e não necessariamente sem turbulências. Acho que o mercado pode estar subestimando as dificuldades.

A verdade é que os cenários são muito medíocres do ponto de vista econômico até 2018. E quando há a possibilidade de um fato novo que possa vir com outra disposição, uma base de apoio político maior e com uma outra agenda também - talvez mais forte e comprometida com reformas - evidentemente os analistas se animam e passam a colocar fichas nesse cenário. É claro que há questões técnicas do mercado.

Tinham posições no dólar e na Bolsa vendidas e agora essas posições estão sendo desfeitas porque elas ficaram mais arriscadas. Enfim, tem também ajustes tipicamente de mercado. Mas acho que o pano de fundo é esse. Tanto é que esse movimento vem ocorrendo desde a prisão do marqueteiro.

Essa tendência do dólar e da Bolsa vai continuar?

Depende. Hoje temos uma trajetória que é muito dependente de fatores não econômicos. Estamos (o mercado) basicamente reféns da Lava Jato porque, de repente, acordamos com uma delação premiada bombástica como aquela do senador Delcídio (Amaral). No outro dia acordamos e temos a condução coercitiva do ex-presidente Lula.

É isso fundamentalmente que está trazendo muito mais volatilidade para os mercados. Evidentemente que vemos, agora, alguns analistas políticos dizendo que aumentaram as chances de impeachment. Mas isso não traz certeza, do ponto de vista do mercado.

É uma questão de aumento de probabilidade. O momento é muito incerto. Os mercados financeiros vão ter muita volatilidade nas próximas semanas. Acho que os movimentos da política e da polícia é que vão determinar a trajetória do mercado financeiro. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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