Mercados

Gol completa 15 anos, mas investidor não tem o que comemorar

Companhia perdeu 12 bilhões de reais em valor de mercado e problemas parecem longe de acabar

Avião da Gol LInhas Aéreas (Wikicommons)

Avião da Gol LInhas Aéreas (Wikicommons)

DR

Da Redação

Publicado em 16 de janeiro de 2016 às 06h44.

São Paulo – Na sexta-feira (15) a Gol completou 15 anos de voos pelo Brasil, mas o investidor que quiser embarcar no Boeing da companhia precisa apertar os cintos e torcer para que a turbulência chegue logo ao fim. 

Em 2015 as ações da Gol (GOLL4) caíram 83,4%. No início deste ano, os papéis foram retirados da carteira do Ibovespa e desde então já caíram 49,6%. O valor de mercado da companhia, que chegou aos 13 bilhões de reais no segundo ano de negociações na BM&FBovespa, em 2005, hoje está próximo dos 450 milhões de reais.

E não são apenas os investidores brasileiros que fogem das ações da companhia aérea. As ADRs da empresa, que já foram negociadas na casa dos 39 dólares, hoje valem 29 centavos de dólares na Bolsa de Nova York (NYSE) e podem ser suspensas da bolsa norte-americana caso continuem cotadas em centavos.

A receita dessa tragédia é uma combinação de 60% de despesas em dólares (moeda que se valorizou 48% em 2015 ante o real) e cerca de 90% da receita em real. Acrescente a isso a desaceleração da economia brasileira e um cenário de competição cada vez mais acirrado entre as companhias aéreas.

Como se a situação já não fosse ruim o suficiente, nesta semana a International Accounting Standards Board (IFRS), instituição que define regras contábeis, determinou que as empresas agora precisam registrar as operações de leasing como dívida em seus balanços. 

Para se ter uma ideia, os leasings da Gol chegaram a 7,5 bilhões de reais no terceiro trimestre do ano passado, um aumento de 55% em relação ao mesmo período de 2014. Se existe uma boa notícia nesta história é que a regra de incorporar o leasing às dívidas só vale a partir de 2019.

Os problemas são tantos que têm impactado diretamente as ações da Smiles, controlada da Gol.

Os efeitos para a Smiles

A visão da maioria dos analistas é que com forte geração de caixa e dívidas baixas, a Smiles poderia ser a ação dos sonhos dos investidores brasileiros, não fosse a Gol.

Os papéis da Smiles (SMLE3) caíram 21% em 2015 e já começaram 2016 com uma queda de 20,4%. “Nós recomendamos que investidores evitem as ações da Smiles no curto prazo, pelo menos até que (e se) a Gol melhorar suas operações”, avalia o analista Rogerio Araujo, em relatório recente do UBS.

Por mais que tenha anunciado uma série de parcerias com programas de fidelidade de outros países, analistas e investidores ainda veem a companhia fortemente atrelada à Gol.

Para exemplificar a ligação, o UBS calcula que, em caso de falência da companhia aérea, as ações da Smiles, que hoje são cotadas na bolsa a 26,23 reais, devem cair até os 8,60 reais.

Cortes no orçamento

Em uma teleconferência em novembro do ano passado, o presidente da Gol, Paulo Kakinoff, disse que o pior momento da companhia havia ficado para trás. "É completamente impossível cravarmos o cenário macroeconômico para o próximo ano, mas a nossa percepção é que a volatilidade vista em 2015 não se repetirá em 2016", disse

Na época, a Gol cortou o número de boeings novos em sua frota de 15 para apenas quatro entre 2016 e 2017. A empresa também congelou as vagas de funcionários e anunciou a redução de sua capacidade em 2016 em até 6%.

"A Gol provavelmente precisará fazer cortes adicionais em 2016 para evitar um consumo enorme de caixa", comentou Cristiane Spercel, analista sênior da Moody's, em relatório na época.

“Nas condições atuais do mercado, calculamos que a GOL queimará R$ 340 milhões por trimestre e precisará de outra capitalização no primeiro trimestre de 2017”, afirma o analista do UBS em relatório.

//e.infogr.am/js/embed.js?UM6

Possíveis Soluções

A saída não é fácil, alguns sonhadores afirmam que o governo poderia socorrer a companhia, a exemplo do que aconteceu com a Japan Airlines (JAL).

Após ser socorrida três vezes pelo governo japonês em menos de dez anos e chegar a um valor de mercado de apenas 150 milhões de dólares, a JAL entrou com um pedido de concordata junto ao governo para não ir à falência, no início de 2010.

Na época, como parte do acordo com o governo, as ações da companhia deixaram de ser negociadas. Em setembro de 2012 seus papéis voltaram para Bolsa de Valores de Tóquio, registrando o segundo maior IPO do mundo naquele ano, no valor de 8,5 bilhões de dólares. Hoje, o valor de mercado da JAL é de 13,08 bilhões de dólares.

Mas, ao que tudo indica, a história não deve se repetir no Brasil. O mais provável é que os atuais acionistas aumentem seu capital na empresa. A mais cotada para isso é a Delta Air Lines, que em agosto do ano passado aumentou sua fatia na Gol de 2,93% para 9,48%, com um aporte de meio bilhão de reais.

Analistas acreditam que a Delta vê no mercado brasileiro uma boa oportunidade e avaliam que outros investidores podem ter interesse em entrar no negócio. Afinal, apesar de todos os problemas, a Gol ainda é a maior no Brasil, em número de passageiros.

Em resposta a esta reportagem a Gol disse que está confiante de que seu trabalho "aliado às medidas adotadas pela companhia, nos levarão a superar os desafios atuais com segurança e garantindo que saiamos mais fortes ao final do período."

Acompanhe tudo sobre:AçõesADRAviaçãobancos-de-investimentocompanhias-aereasEmpresasEmpresas brasileirasEmpresas suíçasGol Linhas AéreasIbovespaLeasingMercado financeiroNyse Euronextprogramas-de-fidelidadeServiçosSetor de transporteSmilesUBS

Mais de Mercados

Temores sobre interferência no BC são exagerados e dólar deve cair, diz Gavekal Research

Seis desdobramentos da reunião do Copom que manteve a Selic em 10,50%, segundo o BTG Pactual

Ibovespa tem leve alta e dólar sobe a R$ 5,46 com Lula e Copom no radar

‘Banco dos restaurantes’: iFood quer dobrar de tamanho com lançamento do iFood Pago

Mais na Exame