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Futuro do euro é preocupante, diz conselheiro da Comissão Europeia

Para Charles Wyplosz, professor de economia internacional da Universidade de Genebra, os governos da Zona do Euro cometeram graves erros nas últimas semanas e, por isso, outros devem chegar

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Da Redação

Publicado em 24 de maio de 2010 às 14h13.

São Paulo - Uma série de erros cometida pelos governos europeus enquanto tentavam resolver o problema fiscal da Grécia mostra que o caminho para novas decisões equivocadas continua aberto, explica o professor de economia internacional da Universidade de Genebra, Charles Wyplosz. Conselheiro independente do presidente da Comissão Europeia, o economista participou intensamente o debate sobre a crise grega antes da decisão de uma ajuda de quase um trilhão de dólares para os países com problemas na região.

"Os políticos ficaram assustados e pressionaram o BCE (Banco Central Europeu) com sucesso, que deveria ser independente. Teria sido muito mais fácil ter deixado a Grécia ir ao FMI há meses e, caso necessário, renegociar o pagamento da dívida. Agora teremos o FMI e também a renegociação da dívida, mas ficamos sem uma ferramenta efetiva para encorajar a disciplina fiscal", disse o economista. Wyplosz ainda cita o Brasil como um país a ser seguido por países da União Europeia ao tornar lei algumas medidas de controle fiscal. Confira a entrevista concedida à Exame.com:

EXAME - O Sr. está otimista com o futuro do euro?

Charles Wyplosz - Estou preocupado. Os governos cometeram grandes erros durante as últimas semanas, então eu posso enxergar outros se aproximando. Espero que eles pensem de uma maneira mais econômica do que política daqui para frente.

EXAME - A decisão da ajuda foi correta?

Wyplosz - Nem tanto. O Tratado Europeu inclui uma cláusula anti-ajuda (no-bailout) que proíbe os governos de se ajudarem. O BCE (Banco Central Europeu) também não deveria fazer isso. Os políticos ficaram assustados e pressionaram o BCE com sucesso, que deveria ser independente. Essas medidas são cruciais para atingir a disciplina fiscal com uma união monetária na qual a política fiscal continua uma soberania nacional.

Teria sido muito mais fácil ter deixado a Grécia ir ao FMI há meses e, caso necessário, renegociar o pagamento da dívida. Agora teremos o FMI e também a renegociação da dívida, mas ficamos sem uma ferramenta efetiva para encorajar a disciplina fiscal.


EXAME - O Sr. disse que "os mercados financeiros pensam que uma semana é um século então eles veem muitas coisas insustentáveis". A decisão da Alemanha de proibir a venda a descoberto de CDS (Credit Default Swaps - contratos de proteção contra calotes) soberanos e de dez ações do setor financeiro vai ajudar a dificultar a especulação?

Wyplosz - A ação alemã irá diminuir a pressão nos ativos que são apenas negociados na Alemanha. Pode até adicionar medo aos investidores, temendo mais intervenções, por uma semana ou duas. Então tudo será esquecido. Os políticos frequentemente falham em entender como os mercados funcionam e acreditam que intervenções são a resposta para um comportamento aparentemente irracional. Em breve eles vão descobrir que os mercados são extraordinariamente flexíveis e sempre encontram maneiras de driblar as intervenções.

EXAME - A ajuda criou um perigoso risco moral na região? O que a Comissão precisa fazer para restaurar a confiança nos Tratados?

Wyplosz - O problema é que as políticas fiscais estão exclusivamente nas mãos dos governos. A Comissão, por isso, não tem forças. Ela pode fazer barulho e até impor punições, mas os orçamentos continuarão a ser decididos por cada governo e o seu parlamento com as preocupações domésticas acima da opinião da Comissão ou de outros países. A ideia de endurecer o Pacto de Estabilidade é equivocada e condenada ao fracasso. O Pacto não preveniu a perda de controle do orçamento atual ou as anteriores. Punir um estado democrático é impensável. Uma solução seria alterar o Tratado e transferir alguma soberania ao nível Europeu mas, em minha visão, isso seria impossível politicamente neste momento. A melhor solução seria pedir para que cada país adote uma regra do orçamento parecido com a que a Alemanha inseriu em sua Constituição no ano passado. Isso respeitaria a soberania e deixaria a disciplina fiscal para cada país. Isso é como o Brasil fez no passado.

EXAME - Caso a Grécia tivesse cancelado os pagamentos (default) o Sr. acredita que isso poderia ter levado a um problema sistêmico para o setor bancário europeu?

Wyplosz - Sim, um default era e ainda é possível, e isso não seria um evento catastrófico. A Grécia pode declarar uma suspensão por dois ou três anos e então sentar com o credor para acordar uma renegociação. As negociações poderiam focar no haircut, que é o montante da dívida que seria perdoada. A elevadíssima taxa de juros cobrada dos títulos de dívida gregos refletem o mercado antecipando um default da Grécia, de fato, já é um pagamento adiantado de um eventual default, então os credores estariam hábeis a absorver parte das perdas. Caso contrário, isso seria a declaração de que alguns bancos ainda não limparam os seus balanços depois da crise de 2008, o que seria um vergonhoso caso de falta de gerência.


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