Marco Maciel, economista da gestora Kairós Capital | Foto: Leo Martins/Divulgação (Leo Martins/Divulgação)
Guilherme Guilherme
Publicado em 4 de julho de 2021 às 07h00.
Última atualização em 4 de julho de 2021 às 14h52.
A sinalização do Federal Reserve (Fed) de que começará a elevar a taxa de juros americana em 2023, um ano antes do previsto inicialmente, chegou a provocar uma onda de aversão ao risco nos mercados, com impactos sobre emergentes. Porém o cenário pode ser antecipado: Marco Maciel, economista da gestora Kairós Capital, acredita que os juros podem começar a subir ainda antes, em 2022.
“O Fed vai encontrar uma inflação mais alta do que gostaria e aí vai ter que começar a discutir a alta de juros não em 2023, mas em 2022. Pelas minhas projeções, a curva de juros deve pedir para que se comece a subir o juro no segundo semestre do ano que vem”, diz Maciel em entrevista exclusiva à Exame Invest.
Referência para a política monetária americana, o núcleo do índice de preço de despesas para consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês) atingiu a maior alta desde 1991, acumulando variação de 3,4% nos 12 meses encerrados em maio.
Para o Fed, o número irá cair para 3% até o fim do ano e encerrar 2022 em 2,1%. Maciel discorda. Segundo o economista, o PCE deve terminar 2021 entre 3,3% e 3,5% e, em 2022, entre 2,5% e 2,7%. “Na nossa visão, a inflação americana tende a ficar mais alta.”
Dada a situação, diz Maciel, o Fed vai começar o “tapering” (redução de estímulos via menor compra de títulos no mercado) ainda neste ano, em setembro. “Eu gostaria que fosse antes, mas querem deixar o anúncio para o discurso do Jerome Powell [presidente do Fed] no Simpósio de Jackson Hole, no fim de agosto.”
Maciel também espera que o aperto monetário no Brasil supere as estimativas do mercado. Enquanto as projeções do último boletim Focus apontam para uma taxa Selic de 6,5% ao ano no fim de 2021, o economista já trabalha com o juro básico a 7,25% ao ano.
Para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária, prevista para a primeira semana de agosto, Maciel espera uma alta de 1 ponto percentual, para 5,25% ao ano. “O principal ponto para trazer a inflação para a meta é agir o mais rápido possível neste ano.”
A inflação, de acordo com Maciel, deve ser pressionada principalmente por bens industriais, serviços e gastos domiciliares. “A mesma falta de chuva que deixa a conta de energia mais cara impacta a inflação do alimentos. Isso acompanhado da maior mobilidade social acaba afetando as expectativas de inflação. Então, o BC tem que acalmar essa situação para poder falar que a inflação vai estar sob controle no ano que vem.”
O segundo texto da reforma tributária entregue pelo Ministério da Economia ao Congresso teve impacto negativo sobre os ativos brasileiros na última semana. No centro das críticas do mercado estão a taxação de 20% sobre dividendos e o provável aumento da carga tributária.
Para o economista da gestora Kairós, a proposta do governo foi “desastrosa”. “A segunda etapa da reforma tributária não teve nada de neutra. E por não ser neutra ataca o crescimento potencial do Brasil. Foi um desapontamento grande”, afirma.
Segundo o economista, a receita originada com a tributação sobre dividendos deve exceder as perdas com a arrecadação com Imposto de Renda, cuja alíquota passaria de 25% para 20%. “Como efeito prático, quem tinha projeção de Ibovespa em 135.000 ou 140.000 pontos para o fim do ano está revisando para baixo.”