Falência do Silicon Valley acentua crise do Credit Suisse; entenda
Banco suíço enfrenta série de escândalos e questões legais. Plano de recuperação corre o risco de emperrar em meio às perdas do setor financeiro associado ao Silicon Valley Bank
Agência de notícias
Publicado em 15 de março de 2023 às 07h20.
Segundo maior banco suíço, o Credit Suisse preocupa o mercado ao atravessar uma longa crise - agora acentuada pela falência decretada pelo Silicon Valley Bank ( SVB ). A instituição financeira enfrenta nos últimos anos uma série de escândalos, além de mudanças de liderança e questões legais.
A queda das ações foi um dos alertas mais recentes para o Credit Suisse, que busca uma reestruturação complexa na tentativa de devolver o banco à lucratividade após polêmicas que fizeram o preço das ações despencar na bolsa e clientes sacarem bilhões do credor. Um processo que agora está sob o risco de emperrar em meio às perdas do setor financeiro associado ao caso SVB.
Em mais um capítulo dessa crise que se arrasta nos últimos trimestres, o Credit Suisse afirmou ter encontrado “fraqueza material” em seus balanços ontem e descartou o pagamento de bônus a executivos após o pior desempenho anual da instituição desde a crise financeira global.
Fraqueza material é um jargão do setor contábil que indica que algum dos controles internos da companhia não foi eficaz, que a empresa tem controles inadequados, o que aumenta o risco do banco, segundo o consultor Renato Chaves.
Segundo Gustavo Flausino Coelho, sócio do Bastilho Coelho Advogados, a divulgação dessa "fraqueza material" vem logo depois de incidentes recentes, como a postergação para publicação do relatório anual:
"O reconhecimento por parte da administração e da auditoria de que há uma fraqueza no procedimento interno gera um burburinho de mercado. Mas, em nenhum momento, disseram que os números do banco estão errados."
O Credit Suisse foi forçado a adiar na semana passada a divulgação do relatório anual após a Securities and Exchange Commission (SEC, órgão que regula o mercado de capitais nos EUA) apresentar questionamentos de última hora sobre a evolução do fluxo de caixa de 2019 e 2020, discussões que o banco disse terem sido concluídas.
Queda histórica das ações
As ações do Credit Suissecaíram até 15% em dois dias, sendo a maior queda de qualquer grande banco europeu em meio ao colapso do Silicon Valley. O custo do Credit Default Swaps (CDS) do Credit Suisse, uma espécie de derivativo de crédito que oferece ao comprador proteção contra inadimplência, subiu para o nível mais alto já registrado.
Isso porque a falência do SVB despertou preocupações sobre um contágio mais amplo no setor bancário, num momento em que o Federal Reserve, banco central americano, realiza um agressivo aperto monetário.
Reestruturação
Outro desafio é o rebaixamento das classificações, que aumentam os custos de financiamento. Enquanto isso, a reformulação da instituição depende de uma força-tarefa anunciada em outubro do ano passado.
A reestruturação inclui ocorte de 9 mil empregos e captação de US$ 4 bilhõescom investidores. Além disso, depende da decisão de partes do negócio do banco de investimento sob a marca Credit Suisse First Boston, que o banco busca desmembrar sob um clima de difícil negociação.
Tudo isso acentua uma grave crise enfrentada pelo banco suíço, fundado em 1856. Em 2021, o Credit Suisse sofreu uma perda de US$ 5,5 bilhões diante do colapso envolvendo o fundo Archegos Capital Management, ligado ao investidor Bill Hwang. O Credit Suisse reformulou completamente o alto escalão desde então e está em seu segundo plano de reorganização em dois anos.
Acordos na justiça também mancharam a imagem do banco, como o pagamento de US$ 495 milhões para encerrar uma acusação nos Estados Unidos e o de US$ 234 milhões na França para evitar processos por lavagem de dinheiro agravada, fraude fiscal e recrutamento ilícito de clientes.