Ex-BC vê "missão cumprida" em controle da inflação internacional e projeta mercado em alta para 2024
Bruno Serra, gestor multimercado da Itaú Asset, acredita em valorização do real e em possibilidade de Selic cair abaixo de 9%, com "boa transição" no BC
Repórter
Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 10h41.
Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 17h44.
Sinais de desaceleração da inflação nas principais economias do mundo motivaram fortes altas nas bolsas e queda do dólar. Para Bruno Serra, gestor de multimercados da Itaú Asset e ex-diretor do Banco Central , a missão dos bancos centrais em controlar a inflação internacional está "cumprida".
"O grande problema para os ativos financeiros nos últimos dois anos foi a inflação e estamos em vias de perceber que, de fato, isso já foi resolvido", afirmou Bruno Serra em encontro com clientes da Itaú Asset realizado nesta terça-feira, 5.
A expectativa de Serra é de que os bancos centrais da Europa e dos Estados Unidos entrem em um ciclo de cortes "moderado". "Não importa se começará no fim do primeiro trimestre ou início do segundo. O importante é que no primeiro semestre isso começará a se reverter e passaremos a olhar para o outro lado do vale".
Esse no momento do mercado, afirmou, deverá propiciar um "ambiente muito mais positivo para a performance dos ativos financeiros em geral". "A não ser que ocorra uma mudança de tendência muito forte, o Federal Reserve (Fed) está próximo de cortar juros. O Fed deverá fazer o soft-landing (pouso suave)."
A percepção sobre a possibilidade de cortes logo no início do próximo ano ganhou força ao longo do último mês, com dados da inflação americana e europeia saindo abaixo das expectativas. Nos Estados Unidos, o Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) caiu para 3,2% ante a máxima de 2022, de 9,1%. Já o núcleo do Índice de Preço sobre Consumo Pessoal ( PCE, em inglês), principal métrica do Fed para avaliar a inflação, caiu de 5,5% para 3,5%. Na Europa, o CPI foi de 10,6% para 2,4%.
Serra ainda ressalta os dados de inflação de outras regiões, como do Japão e da China, que também vêm saindo abaixo das expectativas de economistas.
O ciclo de queda de juros no Brasil
Para o ciclo de cortes no Brasil, Serra não vê o Banco Central elevando o ritmo de corte de juros para 0,75 ponto percentual (p.p.). "O Banco Central deve continuar entregando cortes de 0,5 p.p. até o fim do ciclo". Serra, no entanto, está mais otimista para a duração do ciclo de afrouxamento monetário no Brasil. "Quando saí do BC para a Itaú Asset, o BC estava começando a cortar juros. Naquele momento, via espaço para cortes até uma Selic de 10%. Agora acho que pode chegar a 9%."
Uma "boa transição" no BC, contudo, teria o potencial de contribuir para a extensão do ciclo de cortes, na avaliação de Bruno Serra. O mandato do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, se encerra no fim do ano que vem. "É do interesse de todos que a transição seja bem feita. Se não for, gera volatilidade na taxa de câmbio, para as expectativas de inflação e exige uma taxa de juros mais alta. Se isso for bem feito a Selic pode ir até abaixo de 9%."
Bruno Serra vê cenário "muito bom" para o real
Serra ainda avalia que, mesmo com a queda de juros no Brasil, o cenário deve continuar "muito bom" para o real. Além do iminente ciclo de queda de juros nos Estados Unidos, o gestor do Itaú avalia que a dinâmica comercial do país deve contribuir para a valorização da moeda local.
"Depois, veio uma safra espetacular e ainda há uma outra por vir. Isso tudo virou dólar. Além disso, deve haver um saldo comercial de petróleo de US$ 10 bilhões, que não estava na conta de muita gente. E, para o ano que vem, a produção de petróleo brasileiro deve subir mais US$ 10 bilhões. Acho que tem chance de um cenário bastante positivo para o real, além do que conseguiríamos imaginar 6 meses atrás", afirmou.