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Esquerda ou direita, investidor se deleita com América Latina

Analistas e gestores afirmam que os ralis dos ativos brasileiros e mexicanos podem se disolver em breve

Bolsonaro: prometeu privatizações e cortes de gastos ao investidor (Ueslei Marcelino/Reuters)

Bolsonaro: prometeu privatizações e cortes de gastos ao investidor (Ueslei Marcelino/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 19 de janeiro de 2019 às 08h56.

Última atualização em 19 de janeiro de 2019 às 08h56.

(Bloomberg) -- As duas maiores economias da América Latina têm novos líderes, ainda que de lados opostos do espectro político. Ambos estão exercendo a Presidência com mercados em expansão. E logo, dizem os investidores, ambos provavelmente trarão frustração.À primeira vista, esperava-se que os retornos dos investimentos divergissem após as eleições de Jair Bolsonaro no Brasil e Andres Manuel Lopez Obrador no México. Afinal, enquanto ambos prometeram reprimir a corrupção e o crime, eles têm idéias muito diferentes sobre como gerir suas economias.

O primeiro prometeu privatizações e cortes de gastos, enquanto o segundo está empenhado em acabar com políticas que favorecem investidores em detrimento dos mexicanos comuns. Mas o fato é que ativos dos dois países - sejam ações, moedas ou títulos soberanos - estão se movendo de modo parecido e com ganhos que superam os de mercados emergentes até agora neste ano.

Analistas e gestores incluindo os do Wells Fargo e Schroders dizem que ambos os ralis dos ativos podem se disolver em breve. No Brasil, as grandes esperanças que os investidores depositaram na agenda econômica de Bolsonaro abrem um amplo espaço para decepção caso suas propostas - especialmente a da reforma da Previdência Social em frangalhos - enfrentem problemas no Congresso fragmentado.

O caso mexicano é diferente. Enquanto os investidores gostariam que Bolsonaro tivesse uma clara maioria no Legislativo, provavelmente prefeririam que isso não fosse verdade no caso de AMLO, já que isso aumenta a probabilidade de suas promessas populistas de campanha saírem do papel, ainda que analistas digam que ele se inclinou para o centro recentemente, entregando um orçamento para 2019 que está amplamente alinhado com o de seus predecessores conservadores.

"Quando Bolsonaro se estabelecer, os mercados vão querer ver algum progresso na agenda", disse Brendan McKenna, estrategista de câmbio do Wells Fargo em Nova York.

"É quando a moeda pode começar a passar por dificuldades".Ele vê tempos mais difíceis à frente para o peso mexicano também. “AMLO tem sido mais amigável ao mercado, e o orçamento de 2019 foi uma grande surpresa, mas ainda estamos cautelosos no longo prazo.”Mas não parece haver muita cautela de curto prazo em evidência nos mercados agora.

Os desempenhos do real e do peso mexicano estão entre os melhores das principais moedas do mundo. O índice de ações Ibovespa do Brasil está sendo negociado perto do recorde, um marco aplaudido pelo próprio Bolsonaro (imitando os hábitos no Twitter do presidente dos EUA, Donald Trump), e assim o mesmo acontece com o índice de títulos soberanos brasileiros. As ações mexicanas, por sua vez, entregaram o melhor retorno em dólar do mundo desde que Lopez Obrador assumiu o poder em 1º de dezembro.

A euforia se espalhou pela região, com ativos da Argentina à Colômbia subindo.Os investidores do Brasil estão apostando que o ministro da Economia, Paulo Guedes, entregará um estado mais enxuto e enfrentará as dificuldades fiscais da maior economia da América Latina.

Mas os primeiros dias do novo governo estavam repletos de recuos e falhas de comunicação, refletindo a falta de experiência com o aparato estatal colossal, bem como o desacordo dentro do Executivo.

A consultoria política Eurasia diz que os problemas iniciais provavelmente não são suficientes para afetar as chances de aprovação da reforma da Previdência - mas, diz, essas chances não eram grandes pois a a medida é amplamente impopular.

"O risco de decepção é muito maior no Brasil", onde Bolsonaro precisa seguir sua agenda política para "conter a deterioração dos índices de endividamento", disse Jim Barrineau, diretor de dívida de mercados emergentes da Schroders, em Nova York. Ele está overweight no peso mexicano, vendo os juros locais como mais atraentes do que no Brasil, onde o rali retirou a maior parte do valor. O desempenho mexicano é, pelo menos em parte, um rebote, nascido de alívio após um período de turbulência no final do ano passado.

Entre a vitória nas urnas e sua posse cinco meses depois, Lopez Obrador cancelou a construção de um aeroporto de US$ 13 bilhões apoiado por alguns dos empresários mais ricos do país - provocando um solavanco no mercado e uma disputa com os detentores de bônus do projeto. Houve outra turbulência, embora menor, depois que seu partido mirou nas altas taxas cobradas pelos bancos mexicanos.Nas últimas semanas, muito dessa angústia se dissipou.

O líder de esquerda chegou a um acordo com os detentores de títulos e apresentou uma proposta orçamentária que agradou os investidores. Ele também revelou um amplo plano para aumentar as ofertas públicas e incentivar os empréstimos bancários.Mas as preocupações dos investidores poderiam ressurgir a qualquer momento, disse Greg Lesko, gerente de fundos da Deltec Asset Management, em Nova York.

"Em última análise, o AMLO dá as ordens", disse ele. "Eu poderia facilmente vê-lo limitando as taxas de juros nos bancos, ou alguma política de esquerda que seria horrível."Quanto ao Brasil, "está indo em uma nova direção que pode ser incrivelmente boa para os mercados", disse Lesko. Mas ele acrescenta um alerta importante: há "toneladas de riscos de execução".

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