Espírito Santo International balança mercados de bônus de SP
Um calote de um dívida da empresa portuguesa está causando estragos no Brasil
Da Redação
Publicado em 11 de julho de 2014 às 14h56.
Nova York e São Paulo - Um calote de uma dívida da Espírito Santo International SA, de Portugal, está causando estragos no Brasil.
Os bônus da unidade brasileira do Banco Espírito Santo SA caíram recordes 8,6 por cento nos últimos dois dias com a especulação de que seus custos de financiamento subirão.
As notas da Oi SA estão em baixa de 3,4 por cento desde 30 de junho, quando a parceira de fusão Portugal Telecom SGPS SA disse pela primeira vez que possuía US$ 1,2 bilhão em notas comerciais de uma unidade da Espírito Santo International.
As negociações dos papéis do Banco Espírito Santo em bolsa foram suspensas ontem depois que aumentaram as especulações de que ele não será capaz de lidar com as consequências decorrentes do pagamento não cumprido da dívida da Espírito Santo International.
Até aqui a crise está sendo mais sentida no Brasil, que tem laços culturais e econômicos com Portugal, do que em outros países latino-americanos.
A queda de 3,8 por cento nos bônus de 2015 emitidos pela BES Investimento SA, a unidade brasileira do banco português, que tem sede em São Paulo, foi a maior dos mercados emergentes ontem.
“O que tem sido incorporado no movimento de preço dos bonds é a degradação, se não a retirada, do apoio presumido das companhias controladoras” disse Michael Roche, estrategista de mercados emergentes do Seaport Group LLC, em entrevista por telefone. “A queda do preço dos bônus das companhias brasileiras associadas é, de uma forma ou outra, permanente”.
Bônus da BES
A Espírito Santo International deixou de pagar notas comerciais para “alguns clientes”, segundo um comunicado de 8 de julho.
A BES Investimento disse, em resposta por e-mail a perguntas enviadas ontem, que buscará recomprar seus bônus depois da queda. A empresa preferiu não fazer mais comentários.
O montante de US$ 1,5 bilhão em notas da Oi com vencimento em 2022 caiu 0,8 por cento desde que a S&P emitiu seu comunicado, citando o risco de perdas resultantes do investimento da Portugal Telecom.
Um dia antes a Oi, empresa de telefonia mais endividada do Brasil, disse que não tinha informação de que a Portugal Telecom havia adquirido 897 milhões de euros (US$ 1,2 bilhão) em notas comerciais emitidas pela Rioforte. As companhias anunciaram um plano de fusão em outubro.
A assessoria de imprensa da Portugal Telecom não respondeu a um pedido de comentário. Uma porta-voz da Oi preferiu não comentar, em uma resposta a perguntas enviada por e-mail.
A Standard Poor’s disse em 4 de julho que estava avaliando um rebaixamento da nota de crédito da Oi, hoje em BBB- por causa das potenciais perdas para a Portugal Telecom.
‘Mais pressão’
“O mercado tem considerado o risco de que as notas comerciais não serão pagas, e nós entendemos que há um risco para a Oi nisso”, disse Luisa Vilhena, analista da S&P em São Paulo, em entrevista por telefone.
“Estamos falando de duas companhias que estão em um processo de fusão. Uma possível perda poderia resultar em uma demora para a Oi desalavancar”.
A Fitch Ratings tem a mesma nota para a Oi e colocou o rating em perspectiva negativa em fevereiro.
“Isso obviamente não é encorajador para a Oi e para os detentores de seus títulos”, disse Andreas Fischer, gestor de portfólio do Credit Suisse Group AG em Zurique, Suíça, em entrevista por telefone.
“O risco claramente é de que possa acontecer um corte na nota de crédito para abaixo do grau de investimento na sequência, o que poderia colocar ainda mais pressão nos bonds no curto prazo”.
Robert Jaeger, analista de crédito do Société Générale, disse que a venda generalizada dos bonds da Oi foi exagerada e que os preços devem ser corrigidos assim que a volatilidade diminuir.
“À medida que as coisas se acalmarem, continuamos a ver espaço para uma compressão de spread para níveis mais adequados com o impacto do crédito”, ele escreveu em resposta a um e-mail com perguntas.
Um default por parte da Rioforte reduziria a liquidez combinada de Oi e Portugal Telecom em 11 por cento, disse Jaeger.
US$ 1,6 bi
O Banco Espírito Santo disse ontem à noite que tem uma exposição de US$ 1,6 bilhão a empresas do Grupo Espírito Santo e que está aguardando a divulgação do plano de reestruturação do grupo para avaliar potenciais perdas.
Os bonds da BES Investimento e da Oi continuarão sob pressão até que a situação se torne mais clara, segundo o Seaport Group.
“Nunca há apenas uma barata saindo do armário”, disse Eric Conrads, gestor de portfolio que ajuda a administrar US$ 500 milhões em ações da América Latina no ING Groep NV, por telefone. “Sempre parece que sairão outras”.