Mercados

É preciso adaptar aplicação a novo ciclo econômico, diz HSBC

O novo ciclo da economia americana, a maior do planeta, provocará um ajuste de preços em todos os ativos ao redor do mundo, observa Gilberto Poso


	“A mudança no câmbio se reflete em todos os ativos, pois muda os preços relativos da economia”, observa Poso
 (REUTERS/Gregg Newton)

“A mudança no câmbio se reflete em todos os ativos, pois muda os preços relativos da economia”, observa Poso (REUTERS/Gregg Newton)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2013 às 16h40.

A economia mundial passa por uma mudança de ciclo e o investidor precisa ajustar suas aplicações a essa nova realidade, que vai mexer com os preços de todos os ativos, afirma Gilberto Poso, superintendente executivo de gestão de patrimônio do HSBC. “Há dois aspectos, um global, pela perspectiva de recuperação da economia e normalização de juros e incentivos nos Estados Unidos, e outra local, pelas mudanças na postura do Banco Central brasileiro e outras atitudes das autoridades locais que virão com essa nova realidade internacional”, explica.

A mudança na posição do BC brasileiro em combater com mais rigor a inflação provocou um impacto maior nos investidores no curto prazo, porque a maioria das aplicações no Brasil estão em renda fixa, observa Poso. “Mas, no médio e longo prazo, as mudanças na economia dos EUA serão mais relevantes”, observa.

Mudanças nos preços e na economia dos países

O novo ciclo da economia americana, a maior do planeta, provocará um ajuste de preços em todos os ativos ao redor do mundo, observa Poso. Haverá ajustes em taxas de juros, moedas, preços de commodities, ouro e mercados acionários. Os ajustes, por sua vez, vão mudar as relações econômicas entre os países e dentro de seus mercados. “Vamos ter forças negativas atuando no curto prazo, mas depois virão fatores positivos”, observa.

Horizonte de ajuste incerto

A questão sobre esses ajustes que já estão ocorrendo, como no dólar e nos juros, é até que ponto elas irão e em que nível os preços se estabilizarão na nova realidade mundial. “A mudança no câmbio se reflete em todos os ativos, pois muda os preços relativos da economia”, observa Poso.

Ele cita a alta de 10% em poucos dias da moeda americana em relação ao real. “Pode ser que vejamos uma acomodação do dólar nos próximos três meses, mas a direção predominante é de desvalorização do real”, afirma Poso. “O dólar pode baixar dos R$ 2,27 atuais, mas não volta aos R$ 2,00 do início do ano.”


Outro impacto vem das taxas de juros globais, que sobem acompanhando os juros dos EUA. No Brasil, Poso acredita que esse impacto é menor, pois o juro aqui é definido mais por fatores internos e já é normalmente um dos maiores do mundo. Mas ele provoca ajustes em outros ativos também.

Lado positivo da alta do dólar

O lado positivo da forte alta do dólar, explica Poso, é que ele reflete a melhora da economia americana. E isso trará impactos positivos para as economias com relacionamento comercial direto com os Estados Unidos, caso do Brasil, e para todo o mundo. Além dos impactos diretos, há os indiretos, como a melhora das vendas da China aos EUA, o que deve aumenta a demanda por commodities e por produtos brasileiros.

Há ainda o aumento da competividade das exportações brasileiras por conta da desvalorização do real. Com isso, a balança comercial brasileira tende a melhorar, aliviando o déficit externo, apesar de não revertê-lo totalmente. A alta do dólar tende a reduzir as remessas de lucros e dividendos e os gastos de brasileiros no exterior. “Consumo e viagens são itens importantes no déficit externo brasileiro”, afirma Poso.

Poso espera que, em três meses, os benefícios já devem começar a ser sentidos no comércio exterior, com aumento da competitividade brasileira via taxa de câmbio. E isso pode levar a um maior crescimento do país, com empresas beneficiadas pela melhora dos EUA e da economia chinesa.

Um fator positivo é que as empresas brasileiras não tinham tantas dívidas em dólar como na crise de 2008, quando companhias como Aracruz e Sadia quebraram. “Vai ter impacto nas que devem em moeda estrangeira, mas não leva à ruptura”, afirma Poso.


Mercado acionário vai se ajustar

Avaliando o mercado acionário, empresas ligadas à economia americana ou exportadoras devem ser beneficiadas no médio prazo pela alta do dólar. Mas a bolsa ainda deve sofrer com os fluxos globais e as mudanças de preços relativos de ações em todo o mundo, alerta Poso. “E há um mau humor e ceticismo dos estrangeiros em relação ao Brasil na parte fiscal”, afirma.

Poso chama a atenção para o fato de Índice Bovespa estar cerca de 35% ou 27 mil pontos abaixo do pico de meados de 2008, quando o país recebeu a classificação de baixo risco (investment grade). E a queda se acelerou nos últimos dias por conta das incertezas internas e pelas mudanças externas. “A questão é até onde isso tudo está nos preços das ações ou se a queda ainda vai persistir por mais algumas semanas” diz.

O estrategista acredita que é difícil uma retomada do mercado acionário no curto prazo. “A tendência nos próximos um ou dois meses não é positiva, teremos alguns pregões positivos, outros de queda e estabilidade”, estima.

A recuperação talvez ocorra no segundo semestre, agosto ou setembro, mas sempre com a “espada sobre a cabeça” de novas mudanças, como parte fiscal, que são alvo da maior desconfiança dos investidores externos. “Uma reversão de fluxos no Brasil seria por conta dos resultados fiscais e, se não tem confiança, o estrangeiro não traz recursos, por isso é preciso reconquistar confiança no aspecto fiscal.”, afirma.

Oscilações poderiam ser menores

Se as contas públicas brasileiras estivessem equilibradas, avalia Poso, o impacto do ajuste internacional nos ativos seria menor. “Essa incerteza vai deflagrando vendas, decisões atrás de decisões, com o estrangeiro constantemente revisando carteiras e, se for vender de algum lugar, vende o Brasil, pois além de tudo há a desconfiança do governo em manter os compromissos fiscais”, explica o estrategista.

Assim, Poso alerta o investidor que as oscilações não são passageiras, são sinais de um novo ciclo e de novos valores para os ativos e na volatilidade dos preços. Nesse cenário, há chances de ganhos, pois sempre há exageros nesses processos de ajuste e a melhora dos EUA ajudará muitas empresas. Empresas mais ligadas à economia americana, por exemplo, serão mais beneficiadas. “E além dos impactos racionais, perceberemos problema em relação a fluxo de investimentos para o Brasil, o que leva a decisões de vendas”.


Disciplina para aproveitar oportunidades

Nesse ambiente, a disciplina premiará ainda mais o investidor, afirma Poso. E disciplina implica em, apesar da tendência negativa do mercado, continuar comprando gradualmente à medida que os preços ficam mais baixos. “Seria ousadia tentar acertar o ponto exato de compra, por isso, o melhor é cada investidor avaliar seu perfil e capacidade de lidar com perdas imediatas e fazer compras frequentes” avalia Poso. “Mas só comprar um volume grande hoje, ou fazer mudança grande de carteira e não mexer mais não é recomendável, é melhor revisar o posicionamento, se houver estômago e capacidade financeira”, diz.

Opções na renda fixa

Na renda fixa, surgem oportunidades nas taxas prefixadas mais curtas, que estão acima de 10,5% ano ano para janeiro de 2015 e de 11% para prazos de três anos e meio, para 2017. “São taxas boas, a não ser que se acredita que o Banco Central vai ser muito leniente com a inflação, o que levaria a juros mais altos no futuro”, diz.

As taxas mais longas são mais perigosas por conta da flutuação maior de preços dos papéis, que podem fazer o investidor vender o título com prejuízo no curto prazo. Uma recuperação dos preços dos papéis mais longos só deve ocorrer quando houver segurança maior em relação à atuação do BC e as taxas longas devem recuar, diz Poso.

O que fazer com o dólar
No dólar, Poso considera a aplicação em moeda americana perigosa . “A tendência ainda é de alta, mas em qualquer mercado com essas oscilações a taxa pode recuar se a situação se acalmar”, diz. Para ele, um dólar a R$ 2,15 se justificaria para o fim deste ano, e não no curto prazo. Assim, quem precisar comprar a moeda americana deve aproveitar os movimentos de queda da moeda.

Já quem não vai viajar agora poderia esperar que o mercado se acalme nas próximas três ou quatro semanas. “Se sair um número ruim da economia americana, o dólar pode perder força e pode ser a oportunidade para comprar mais barato, talvez em R$ 2,15 de novo”, diz. Poso lembra que quem viajou no início de junho, saiu do país com o dólar a R$ 2,05 e vai pagar R$ 2,25 no cartão de crédito.

Quem já está perdendo

Aos que já estão no mercado sofrendo os prejuízos com as quedas das ações e a alta dos juros e do dólar, Poso sugere calma. “É necessário rever a carteira de investimentos como um todo dentro desse novo ciclo mundial”, diz. Se antes as aplicações eram voltadas para uma economia mundial fraca, com mercado interno mais forte e juros mais baixos, agora a situação mudou. “Pode-se reduzir as ações de empresas que serão menos beneficiadas pelo novo cenário e aumentar as que vão tirar vantagem”, diz.

Poso diz que não se deve, porém, tomar decisões apenas por conta das perdas registradas em alguns ativos. “A mudança deve ter em mente o novo ciclo econômico mundial”, diz.

Acompanhe tudo sobre:aplicacoes-financeirasBancosCâmbioeconomia-brasileiraEmpresasEmpresas inglesasHSBC

Mais de Mercados

Não é só o Brasil: Argentina faz maior venda de reservas internacionais em um dia para segurar dólar

Por que a China domina o mercado de carros elétricos? 'Padrinho dos EVs' explica o motivo

Japão evita dar pistas sobre aumento dos juros e vai acompanhar os riscos à economia

Ibovespa ganha fôlego com bancos, Petrobras e Vale e fecha acima dos 121 mil pontos