Dólar cai 1,4% com recuo de ‘Trump Trade’ e expectativa de corte fiscal
Desvalorização da divisa americana ocorreu após pesquisa eleitoral mostrar que Kamala Harris superou Donald Trump em Iowa, estado onde o republicano costuma ganhar
Repórter de finanças
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 12h45.
Última atualização em 4 de novembro de 2024 às 17h42.
Dando continuidade à agitação do mercado da última sessão, o câmbio é novamente o foco - mas, dessa vez, no campo negativo. Os ganhos de +1,53% da última sexta-feira, 1º, que levaram odólara fechar no segundo maior valor nominal da história, cotado a R$ 5,87, foram quase integralmente devolvidos.Nesta segunda-feira, 4, a divisa americana fechou em queda de 1,43% a R$ 5,783.
Hoje, são dois os fatores que pressionam a moeda para baixo: eleições americanas e expectativa de corte fiscal no Brasil.
De olho nos Estados Unidos, uma nova pesquisa do Des Moines Register/Mediacom divulgada no sábado, 2, mostrou que a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, impulsionada em parte pelo apoio de mulheres e eleitores mais velhos, superou Donald Trump em Iowa, estado onde o ex-presidente venceu nas duas últimas eleições.
Com 47% das intenções de voto, Harris se encontra 3 pontos à frente de Trump, que tem 44%. A pesquisa foi realizada pela Selzer & Co. de 28 a 31 de outubro e possui margem de erro de 3,4 pontos percentuais.
A pesquisa agitou os mercados de apostas políticas. Após sua publicação, as chances de vitória de Trump caíram.Na plataforma Polymarket, 47% do mercado passou a precificar a vitória de Kamala, versus 35% de uma semana atrás.
Essa virada de voto para Kamala Harris em um estado historicamente republicano fez a divisa americana se desvalorizar. Isso porque agentes do mercado começaram a desmontar algumas de suas posições no que o mercado tem chamado de ‘Trump Trade’ - uma estratégia de proteção aos possíveis efeitos inflacionários previstos pela vitória de Donald Trump.
“Entretanto, essa pesquisa não muda o cenário total e a eleição americana ainda segue muito acirrada - praticamente empatada”, afirma Mattos.
Em um memorando neste domingo, 3, a campanha de Trump chamou a pesquisa de "absurda” e divulgou outro levantamento que mostrou o ex-presidente com uma vantagem de 10 pontos sobre Harris em Iowa.
No Brasil, o destaque é para a questão fiscal.O mercado aguarda com ansiedade o anúncio do pacote de gastos fiscais pelo governo e a demora em detalhar as medidas (e o tamanho) colaborou com o mau humor dos investidores na sexta-feira.
Era esperado que o anúncio ocorresse depois das eleições municipais. Entretanto, a notícia de que ele deveria ser adiado por conta de uma viagem do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), à Europa nesta semana piorou ainda mais o cenário.
"O mercado todo espera esses dados para fazer conta, e quanto mais tempo se passa sem esse direcionamento, os preços se deterioram, porque passa a ser precificado a instabilidade de não ter uma resposta concreta", explica Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Com os ânimos do mercado exaltados, Haddad cancelou sua viagem, atendendo a um pedido do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O movimento aumentou a expectativa para o anúncio das medidas de cortes de gastos nos próximos dias.
Hoje, circula na mídia a informação de que o governo pode anunciar ainda nesta segunda-feira o pacote de corte de gastos. Segundo o jornalista Lauro Jardim, do O Globo, o objetivo de Lula para que Haddad cancelasse a viagem foi justamente o de acelerar o anúncio do pacote e conter as más expectativas do mercado.
Haddad, ministros e Lula se reuniram durante a manhã, mas o ministro informou que o teor da conversa foi sobre os encontros do G20. Entretanto, disse que a reunião sobre corte de gastos deve acontecer ainda hoje à tarde.
Sendo assim, o movimento colaborou para a valorização do real. Haddad também disse acreditar que o governo está pronto para anunciar esta semana o plano de corte de gastos e comentou que Lula passou o fim de semana trabalhando no corte de gastos.