Mercados

Detentor de bônus do Cruzeiro quer resgate da dívida

FGC planeja preparar o banco para a venda enquanto a PricewaterhouseCoopers conclui uma auditoria, disse Antonio Carlos Bueno, presidente do Fundo Garantidor de Créditos

Banco Cruzeiro do Sul (Reuters/Ricardo Moraes)

Banco Cruzeiro do Sul (Reuters/Ricardo Moraes)

DR

Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2013 às 18h08.

São Paulo - A intervenção no Banco Cruzeiro do Sul SA deveria ser considerada um evento de crédito que permitisse aos detentores de títulos externos do banco pedir o resgate antecipado de toda a dívida, segundo esses credores disseram aos administradores do banco.

O Banco Central interveio no Cruzeiro do Sul, sediado em São Paulo, citando “graves” violações financeiras, e disse que o banco seria gerido pelo Fundo Garantidor de Créditos, fundo privado que vive da contribuição dos grandes bancos, por um período de cerca de 180 dias. Durante a intervenção, todas as dívidas que vencerem serão pagas, disse o FGC.

“Qualquer intervenção do Banco Central ou FGC é um evento de crédito e dessa forma dá aos credores o direito de acelerar” o pagamento da dívida, disse Matthew Campbell, operador de mercados emergentes do Goldman Sachs Group Inc., ontem durante uma teleconferência do FGC com analistas e investidores.

Campbell disse que ao autorizar que o banco opere com uma gestão temporária está se permitindo também a venda de ativos que seriam por direito também dos detentores de títulos externos.

“Se você vai continuar a honrar o pagamento aos depositantes e aos detentores de certificados de depósitos que estão vencendo durante esse período, essencialmente deixando os ativos saírem pela porta afora antes que os detentores de bônus possam pedir esses ativos, parece que a liquidação do banco seria a melhor alternativa para os detentores de títulos”, disse Campbell.

Campbell evitou fazer mais comentários, segundo Michael DuVally, porta-voz do Goldman Sachs baseado em Nova York.

Preparação para a venda

Luciana Dias, diretora da Comissão de Valores Mobiliários, disse em uma entrevista ontem que a CVM e o Banco Central vinham olhando o Cruzeiro do Sul mais de perto por “um longo período”.

“O mercado sabia das fragilidades da instituição”, ela disse em entrevista na sede da Bloomberg em Nova York.

O FGC planeja preparar o banco para a venda enquanto a PricewaterhouseCoopers conclui uma auditoria, disse Antonio Carlos Bueno, presidente do FGC, na teleconferência. O período de controle do FGC pode ser menor do que 180 dias se o processo for concluído mais rapidamente, disse o FGC.

A polícia federal vai começar a investigar o Cruzeiro do Sul por causa de uma possível fraude, de acordo com um comunicado por e-mail.

Carteira "boa"

Os pagamentos durante o período de intervenção estão sendo feitos com ativos que o Cruzeiro do Sul vendeu ao FGC no ano passado em um Fundo de Investimentos em Direito Creditório. O fundo tem R$ 2,3 bilhões a serem desembolsados durante o período de 180 dias, segundo Fabio Mentone, um membro do FGC.

“Nós estamos confiantes que essa carteira é boa”, disse Mentone. “Nós não temos um problema com futuros desembolsos pelos próximos 180 dias.”


A intervenção “cria desigualdade entre os credores que possuem dívida de vencimento no curto prazo e aqueles que possuem dívida vencendo após 180 dias”, disse Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating no Brasil, em entrevista por telefone.

A solução encontrada pelo BC estimula todos os credores a resgatar sua dívida na primeira oportunidade, Santacreu disse.

Tomando riscos

“Nenhum credor vai tomar o risco de rolar a dívida por causa de todas as acusações contra o banco”, disse ele. “Se isso fosse um processo de liquidação, todos os credores seriam tratados da mesma forma de acordo com a lei.”

Mentone disse durante a teleconferência que nenhuma preferência está sendo dada a nenhum credor durante o processo de intervenção. O principal e os juros dos títulos serão pagos quando eles vencerem, assim como vai acontecer com os demais credores, disse ele.

“Entendemos que depois que tivermos todos os números avaliados pela empresa de auditoria, acreditamos que seremos capazes de ter uma solução de continuidade para o banco”, diss Mentone. “Mas não podemos garantir isso.”

As ações do banco caíram 45 por cento neste ano até 1 de junho, o último dia de negócios antes que a intervenção fosse anunciada. O banco disse ontem em um comunicado oficial que as ações voltarão a ser negociadas hoje.

A Moody’s Investors Service cortou a nota do Cruzeiro do Sul de Caa1 para B2, citando as “incertezas” sobre a capacidade do banco em cumprir com os compromissos de sua dívida.

“A força financeira do banco e sua solvência foram duramente afetadas pela fraca qualidade de seus ativos e condições de financiamento, que representam um risco de crédito muito elevado para os detentores de bônus”, escreveram Ceres Lisboa e Maria Celina Vansetti-Hutchins, analistas da Moody’s, em um comunicado por e-mail.

Acompanhe tudo sobre:Banco Cruzeiro do SulBancosBancos quebradosDívidas empresariaisEmpresasFGCFinanças

Mais de Mercados

Funcionário esconde R$ 750 milhões em despesas e provoca crise em gigante do varejo

TotalEnergies suspende investimentos no Grupo Adani após acusações de corrupção

Barclays é multada em mais e US$ 50 milhões por captar fundos ilegalmente no Catar

Ibovespa fica no zero a zero com investidores ainda à espera de anúncio do pacote fiscal