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Cruzeiro do Sul perde no mercado de dívida após corte de nota

Os títulos do Cruzeiro do Sul pagam 1.562 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2017, de acordo com dados compilados pela Bloomberg

Sede da Moody's em Nova York: a agência cortou o rating do banco de Ba3 para B2 em 29 de março diante do fracasso em diversificar suas fontes de financiamento (Stan Honda/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2012 às 09h10.

Nova York - O Banco Cruzeiro do Sul SA está registrando as maiores perdas no mercado de títulos brasileiros em dólar após a Moody’s Investors Service ter reduzido a nota de crédito da instituição em dois níveis diante do fracasso em diversificar suas fontes de financiamento.

As taxas dos títulos em dólar do Cruzeiro do Sul com vencimento em 2016 subiram 532 pontos-base nas últimas três semanas, a maior alta entre papéis emitidos por empresas brasileiras no exterior, para 17,52 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. A Moody’s cortou o rating do banco de Ba3 para B2 em 29 de março. O rendimento médio de papéis de empresas com nota de crédito similar globalmente subiu 16 pontos-base, ou 0,16 ponto percentual, no mesmo período, para 7,82 por cento, mostram dados do Bank of America Corp..

O Cruzeiro do Sul tem buscado novas formas de financiamento no Brasil, onde o juro real mais alto do G-20 e a inflação que chegou a patamares de 6.000 por cento em 1990 deixaram no investidor uma cultura de aversão ao risco de longo prazo. O banco, que promove road show com investidores em Nova York e Miami nesta semana, ampliou a dependência em depósito com garantia e acordos de securitização de ativos com o Fundo Garantidor de Créditos, disse Ceres Lisboa, analista da Moody’s.

“A implicação negativa dessa dependência pode indicar que o banco pode não ter acesso a outros tipos de financiamento para apoiar o negócio de originação”, disse Lisboa em e-mail de resposta a perguntas da Bloomberg. “A principal preocupação é a ausência de diversificação de fontes de financiamento.”

Os títulos do Cruzeiro do Sul pagam 1.562 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2017, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A nota de crédito B2 do banco é cinco níveis inferior ao grau de investimento e seis níveis inferior à nota soberana.

‘Mais rebaixamentos’

O custo de captação do banco também é maior do que o de instituições de pior classificação de risco em âmbito global. Títulos emitidos por empresas com classificação Caa1 ou inferior pagam 12,72 por cento, de acordo com o Bank of America Corp.

Debêntures garantidas pelo Fundo Garantidor de Créditos e acordos de securitização representam um terço dos fundos do Cruzeiro do Sul, de acordo com a Moody’s. O Cruzeiro do Sul, especializado em crédito consignado, disse em 20 de março que a margem de intermediação líquida caiu para 5,4 por cento, comparado a 10 por cento um ano antes, por causa do custo maior de captação.

A assessorial de imprensa do Cruzeiro do Sul em São Paulo não quis fazer comentários para esta reportagem.

“O Cruzeiro já está sendo negociado como um banco com classificação de risco CCC”, disse Natalia Corfield, analista de crédito para mercados emergentes do Standard Bank Group Ltd., em entrevista por telefone. “Eles têm problemas com a captação de recursos. Eles têm problemas com as margens. Haverá mais rebaixamentos.”

O Cruzeiro do Sul pretende vender empréstimos securitizados ao FGC para pagar os US$ 175 milhões em títulos em dólar que vencem em setembro e têm cupom de 8 por cento, disse a Moody’s em relatório em 29 de março.


‘Fonte importante’

“Dadas as condições atuais de preço no mercado externo, estamos trocando nossos vencimentos externos por fontes de financiamento mais baratas em moeda local”, o Cruzeiro do Sul afirmou em comunicado enviado por e-mail em 29 de março. “No entanto, consideramos captações externas uma fonte importante de recursos para o banco, e vamos voltar a acessar o mercado assim que se tornar atraente outra vez.”

A última captação externa do Cruzeiro do Sul foi em abril de 2011. Na ocasião, foi a sexta colocação de dívida denominada em dólares em um período de 20 meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O banco contratou a BCP Securities LLC e o UBS AG para coordenar reuniões com investidores de títulos esta semana, segundo informação dada na semana passada por uma pessoa a par das conversas que pediu anonimato porque as discussões são privativas.

Apoio do governo

O Cruzeiro do Sul faz parte de um grupo de bancos brasileiros com patrimônio inferior a R$ 2,2 bilhões, cujas opções limitadas de financiamento de longo prazo levaram a rebaixamentos em suas classificações de risco. O Banco BMG SA, especializado em crédito consignado e sediado em Belo Horizonte, foi rebaixado em dois níveis para B pela Fitch Ratings em 28 de março.

Para Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes na Tradition Asiel Securities, o governo brasileiro deve dar apoio ao Cruzeiro do Sul antes de um calote.

“Eles estão sob supervisão do Banco Central”, disse Pasquarelli em entrevista por telefone. “Os títulos estão sendo negociados com o apoio implícito do governo.”

O BC não respondeu a um pedido de comentário para esta reportagem.

As taxas dos bônus do Cruzeiro do Sul caíram no início do ano, com especulações de que o acesso a recursos melhoraria com o incentivo dado pelo BC para os concorrentes usarem R$ 30 bilhões para comprar ativos de bancos de médio porte. Os incentivos foram anunciados em 22 de dezembro para estimular grandes bancos a investir parte de seus depósitos compulsórios nas carteiras de empréstimos de instituições financeiras médias.

O Cruzeiro do Sul informou em 22 de março que o lucro líquido subiu 32 por cento no quarto trimestre, para R$ 31,7 milhões.

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Nova York - O Banco Cruzeiro do Sul SA está registrando as maiores perdas no mercado de títulos brasileiros em dólar após a Moody’s Investors Service ter reduzido a nota de crédito da instituição em dois níveis diante do fracasso em diversificar suas fontes de financiamento.

As taxas dos títulos em dólar do Cruzeiro do Sul com vencimento em 2016 subiram 532 pontos-base nas últimas três semanas, a maior alta entre papéis emitidos por empresas brasileiras no exterior, para 17,52 por cento, segundo dados compilados pela Bloomberg. A Moody’s cortou o rating do banco de Ba3 para B2 em 29 de março. O rendimento médio de papéis de empresas com nota de crédito similar globalmente subiu 16 pontos-base, ou 0,16 ponto percentual, no mesmo período, para 7,82 por cento, mostram dados do Bank of America Corp..

O Cruzeiro do Sul tem buscado novas formas de financiamento no Brasil, onde o juro real mais alto do G-20 e a inflação que chegou a patamares de 6.000 por cento em 1990 deixaram no investidor uma cultura de aversão ao risco de longo prazo. O banco, que promove road show com investidores em Nova York e Miami nesta semana, ampliou a dependência em depósito com garantia e acordos de securitização de ativos com o Fundo Garantidor de Créditos, disse Ceres Lisboa, analista da Moody’s.

“A implicação negativa dessa dependência pode indicar que o banco pode não ter acesso a outros tipos de financiamento para apoiar o negócio de originação”, disse Lisboa em e-mail de resposta a perguntas da Bloomberg. “A principal preocupação é a ausência de diversificação de fontes de financiamento.”

Os títulos do Cruzeiro do Sul pagam 1.562 pontos-base a mais do que a dívida do governo brasileiro com vencimento em 2017, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. A nota de crédito B2 do banco é cinco níveis inferior ao grau de investimento e seis níveis inferior à nota soberana.

‘Mais rebaixamentos’

O custo de captação do banco também é maior do que o de instituições de pior classificação de risco em âmbito global. Títulos emitidos por empresas com classificação Caa1 ou inferior pagam 12,72 por cento, de acordo com o Bank of America Corp.

Debêntures garantidas pelo Fundo Garantidor de Créditos e acordos de securitização representam um terço dos fundos do Cruzeiro do Sul, de acordo com a Moody’s. O Cruzeiro do Sul, especializado em crédito consignado, disse em 20 de março que a margem de intermediação líquida caiu para 5,4 por cento, comparado a 10 por cento um ano antes, por causa do custo maior de captação.

A assessorial de imprensa do Cruzeiro do Sul em São Paulo não quis fazer comentários para esta reportagem.

“O Cruzeiro já está sendo negociado como um banco com classificação de risco CCC”, disse Natalia Corfield, analista de crédito para mercados emergentes do Standard Bank Group Ltd., em entrevista por telefone. “Eles têm problemas com a captação de recursos. Eles têm problemas com as margens. Haverá mais rebaixamentos.”

O Cruzeiro do Sul pretende vender empréstimos securitizados ao FGC para pagar os US$ 175 milhões em títulos em dólar que vencem em setembro e têm cupom de 8 por cento, disse a Moody’s em relatório em 29 de março.


‘Fonte importante’

“Dadas as condições atuais de preço no mercado externo, estamos trocando nossos vencimentos externos por fontes de financiamento mais baratas em moeda local”, o Cruzeiro do Sul afirmou em comunicado enviado por e-mail em 29 de março. “No entanto, consideramos captações externas uma fonte importante de recursos para o banco, e vamos voltar a acessar o mercado assim que se tornar atraente outra vez.”

A última captação externa do Cruzeiro do Sul foi em abril de 2011. Na ocasião, foi a sexta colocação de dívida denominada em dólares em um período de 20 meses, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O banco contratou a BCP Securities LLC e o UBS AG para coordenar reuniões com investidores de títulos esta semana, segundo informação dada na semana passada por uma pessoa a par das conversas que pediu anonimato porque as discussões são privativas.

Apoio do governo

O Cruzeiro do Sul faz parte de um grupo de bancos brasileiros com patrimônio inferior a R$ 2,2 bilhões, cujas opções limitadas de financiamento de longo prazo levaram a rebaixamentos em suas classificações de risco. O Banco BMG SA, especializado em crédito consignado e sediado em Belo Horizonte, foi rebaixado em dois níveis para B pela Fitch Ratings em 28 de março.

Para Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes na Tradition Asiel Securities, o governo brasileiro deve dar apoio ao Cruzeiro do Sul antes de um calote.

“Eles estão sob supervisão do Banco Central”, disse Pasquarelli em entrevista por telefone. “Os títulos estão sendo negociados com o apoio implícito do governo.”

O BC não respondeu a um pedido de comentário para esta reportagem.

As taxas dos bônus do Cruzeiro do Sul caíram no início do ano, com especulações de que o acesso a recursos melhoraria com o incentivo dado pelo BC para os concorrentes usarem R$ 30 bilhões para comprar ativos de bancos de médio porte. Os incentivos foram anunciados em 22 de dezembro para estimular grandes bancos a investir parte de seus depósitos compulsórios nas carteiras de empréstimos de instituições financeiras médias.

O Cruzeiro do Sul informou em 22 de março que o lucro líquido subiu 32 por cento no quarto trimestre, para R$ 31,7 milhões.

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