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Crise do Credit Suisse: qual o futuro do banco e quais os impactos para o setor bancário global?

Uma das maiores instituições financeiras da Europa e do mundo, o banco vem sofrendo com problemas desde 2021, o que só se acentuou após a falência do SVB

Credit Suisse - 22/06/2020
 (Arnd Wiegmann/Reuters)

Credit Suisse - 22/06/2020 (Arnd Wiegmann/Reuters)

Raquel Brandão
Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 17 de março de 2023 às 07h16.

Última atualização em 17 de março de 2023 às 11h00.

Com o sopro de esperança do socorro de 50 bilhões de francos suíços pelo Banco Nacional Suíço, o Credit Suisse tenta agora desenhar os próximos passos e seu futuro. O banco, que emprega mais de 50 mil pessoas globalmente, é uma das maiores instituições financeiras da Europa e do mundo, mas vem sofrendo com problemas desde 2021, o que só se acentuou após a quebra do Silicon Valley Bank. Qual o futuro do Credit Suisse e o que acontece com o cenário bancário global agora?

Na quinta-feira, 16, o temor deu lugar ao alívio para as ações do Credit. Se no dia anterior os papéis tinham caído 20%, ontem eles avançaram na mesma magnitude por bom tempo do pregão, desaceleraram e terminaram 11% mais altas. Isso porque o banco central da Suíça garantiu que vai, sim, dar apoio financeiro. Antes disso, o Banco Nacional Saudita, que tem participação majoritária no Credit, havia dito que não o resgataria, o que assustou ainda mais o mercado já à flor da pele.

Nesta sexta-feira, 17, as ações do banco recuavam 3,9% às 6h40 (horário de Brasília) na Bolsa de Zurique, na Suíça.

Por que o Credit Suisse está em crise?

Depois do pânico gerado pela falência do SVB, foi a vez do Credit Suisse adicionar doses de preocupação ao mercado. Na terça-feira, 14 de março, o banco afirmou ter encontrado “fraqueza material” em seus balanços e descartou o pagamento de bônus a executivos após o pior desempenho anual da instituição desde a crise financeira global.

Mas a verdade é que desde 2022, o banco já vem fazendo cortes de custos, o que incluiu fechamento de postos de trabalho. Em 2021, o banco sofreu uma perda de R$ 5,5 bilhões, relacionada ao fundo Archegos Capital Management. O banco também sofreu perdas bilionárias com o Greensill.

Agora, em março de 2023, a Securities and Exchange Commission (SEC), que é a CVM dos EUA,  apresentou questionamentos sobre a evolução do fluxo de caixa de 2019 e 2020.

Qual o futuro para o Credit Suisse? O banco vai quebrar?

Pode ser cedo para uma avaliação precisa, mas é dificíl apostar na quebra de um banco gigante como o Credit Suisse, especialmente pela capacidade de resgate do Banco Nacional Suíço. Ainda assim, não dá para negar que a vida do CEO, Ulrich Koerner, está difícil.

O impacto na reputação do Credit desde 2022 se intensificou e, com ele, trouxe desconfiança dos clientes. Notícias de diversos portais e agências dão conta de que vários clientes ultra-ricos continuaram a reduzir sua exposição nesta semana, tanto na Europa, quanto na Ásia e em outras partes do mundo. No Oriente Médio, alguns clientes pediram ao banco que convertesse os depósitos em dinheiro em títulos e títulos do tesouro.

"O problema do Credit é o acúmulo dos problemas anteriores que já o colocavam na necessidade de ter reforço de capital. Agora, se agrava no momento em que o sistema se mostra fragilizado e os depositantes, por cautela, começam a tirar o dinheiro", explica o diretor-executivo e sócio do Banco Master, Eduardo Centola, em entrevista à EXAME Invest.

Centola argumenta que o Credit estava precisando fazer reforma grande da sua análise de crédito e risco e já estava fazendo. Um exemplo são os cortes que vinha fazendo e sua redução de custos. Mas foi pego no contrapé pela crise do SVB. "Estava no meio do processo de recuperação de credibilidade quando esse episódio veio. Agora deverá sofrer no mercado acionário", diz Centola, que também já passou por Goldman Sachs, MerrIL Lynch, UBS e Santander.

A expectativa agora é com o futuro do Credit Suisse. Além do resgate financeiro do banco central, o banco suíço pode virar alvo de concorrentes com dinheiro no bolso. Essa é a tese, por exemplo, da equipe de análise do JP Morgan, que aposta numa aquisição. Um dos nomes mais cotados entre reportagens como potencial comprador é o UBS, também suíço, mas não há sinalização de que uma operação aconteça. 

Kian Abouhossein, do JPMorgan, prevê que, se o UBS assumisse o Credit Suisse, faria uma IPO da CS Swiss, fecharia o banco de investimentos do Credit Suisse e manteria os braços de gerenciamento de ativos e patrimônio. O analista diz, porém, que fechar o banco de investimentos do Credit Suisse implicaria 9,7 bilhões de francos suíços em custos de reestruturação, embora rendesse algo em torno de 64 bilhões de francos suíços.

Ontem, segundo a agência de notícias "Reuters", o Credit Suisse se tornou alvo de uma ação coletiva proposta em um tribunal federal em Camden, Nova Jersey, que o acusa de enganar os investidores ao não revelar que estava sofrendo saídas "significativas" de clientes e que tinha fraquezas materiais em seus controles internos sobre relatórios financeiros.

 

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