Como a chinesa DeepSeek causou uma sangria nas ações das Big Techs
Em "Bloody Monday", mercados americanos reportam queda, com papéis como os da Nvidia recuando mais de 16%; para especialistas, esse é o "momento Sputnik" da IA
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Repórter Exame IN
Publicado em 27 de janeiro de 2025 às 11h35.
Última atualização em 27 de janeiro de 2025 às 18h55.
É uma segunda-feira sangrenta para os mercados americanos e as ações das Big Techs. Os futuros da Nasdaq-100, que reúne diversos papéis de tecnologia, recuaram 2,76%. Por trás da sangria está o lançamento do modelo de inteligência artificial (IA) chinês DeepSeek R1, que promete serviço de inteligência artificial de ponta por 5% do custo das empresas que hoje lideram esse mercado, como a OpenAI, dona do ChatGPT.
Depois de acumular valorização expressiva, a Nvidia é uma das ações que têm sofrido nesta segunda-feira, 27. As ações recuaram mais de 16%, com o valor de mercado encolhendo cerca de US$ 600 bilhões — a maior perda já registrada por uma única empresa. As ações da Meta, dona do Facebook, caíram 3,40% no pré-mercado, mas conseguiram se recuperar e fechar com alta de 1, 91%. Já os papéis da Microsoft, acionista relevante da OpenAI, recuaram 2,14% no dia.
Também são registrados declínios significativos em empresas como ASML e ASM International. Ambas, no mercado europeu, recuaram 10% e 14% nas mínimas do dia, respectivamente.
Na Ásia, as ações relacionadas a chips japoneses estavam amplamente em baixa. O impacto também foi sentido fora do setor tecnológico, com investidores fugindo de ativos de maior risco. Bitcoin, por exemplo, recuou 5,56%.
A ascensão da DeepSeek
Fundada em 2023 por Liang Wenfeng, gestor de um fundo hedge que usa IA para identificar padrões em preços de ações, a DeepSeek começou como um projeto financiado pelo próprio Wenfeng. Utilizando chips H800, menos avançados e mais baratos do que os H100 da Nvidia (barrados de exportação para a China devido a sanções dos EUA), a startup conseguiu criar um modelo de IA altamente eficiente com um custo de apenas US$ 6 milhões – uma fração do que é normalmente investido por empresas como OpenAI ou Meta.
Esse modelo, chamado DeepSeek R1, já ultrapassou o ChatGPT e outros rivais em vários benchmarks de desempenho. Em menos de uma semana após o lançamento, o aplicativo da DeepSeek liderou os downloads na App Store nos EUA e no Reino Unido, demonstrando um apelo global e imediato.
"Momento Sputnik" da IA
O sucesso da DeepSeek foi rapidamente apelidado de "momento Sputnik" da inteligência artificial, uma referência ao marco histórico da corrida espacial, quando a União Soviética surpreendeu os Estados Unidos ao lançar o primeiro satélite em órbita.
Marc Andreessen, um dos mais influentes investidores do Vale do Silício, acredita que o lançamento do DeepSeek R1 simboliza um ponto de inflexão na disputa entre China e EUA pela liderança em tecnologia de ponta.
Enquanto a DeepSeek celebra seu sucesso, o impacto dessa inovação vem dividindo opiniões entre investidores e especialistas em tecnologia. Alguns analistas, como os da Bernstein, argumentam que a startup pode ter aproveitado os avanços de outros modelos, como o ChatGPT, para acelerar seu processo de desenvolvimento, o que tornaria mais difícil manter sua liderança no longo prazo.
Por outro lado, especialistas como Dylan Patel, da SemiAnalysis, acreditam que a redução dos custos para treinar e operar modelos de IA pode impulsionar a adoção global de aplicações baseadas em IA. “Avanços em eficiência têm sido um fenômeno constante na indústria de semicondutores. Isso abre novas possibilidades para empresas e consumidores”, afirmou Patel em entrevista ao Financial Times.
O caso DeepSeek sinaliza um alerta para as gigantes de tecnologia: investimentos massivos não garantem uma vantagem competitiva definitiva. Com a previsão de que o investimento em infraestrutura de IA atinja US$ 280 bilhões até 2025, conforme relatório do UBS, as empresas ocidentais precisarão reavaliar suas estratégias para não serem superadas por modelos mais ágeis e acessíveis.