Com volume menor de vendas no 3º tri, Alpargatas vai mirar na compra por impulso
Número de pares vendidos caiu 4%, mas companhia conseguiu uma receita 10% maior do que um ano antes
Graziella Valenti
Publicado em 3 de novembro de 2022 às 19h34.
Última atualização em 3 de novembro de 2022 às 19h35.
O impulso de comprar. É isso que a Alpargatas (ALPA4) , dona da Havaianas, quer capturar no quarto trimestre. De olho no Natal e no verão, a empresa vai concentrar seus esforços no canal alimentar (supermercados) com um mix de produtos que faça o consumidor não resistir a colocar um par de sandálias no carrinho de compras.
"Hoje, o consumidor não planeja a compra de Havainas no supermercado. Lá, a compra por impulso passa a ser fundamental. Vamos aproveitar todo o calendário promocional do varejo, como Copa, Black Friday e Natal. Também vamos capturar e criar oportunidades para fazer um presenteável muito fácil", diz Roberto Funari, presidente da companhia, em entrevista àExame Invest.A empresa, por exemplo, está criando embalagens presenteáveis para a gôndola de supermercados.
O movimento é estratégico porque foi justamente nesse canal que ficou mais pressionado no terceiro trimestre. Nesse período, o volume total de Havaianas caiu 4%, com o mercado internacional crescendo 15% e o mercado nacional recuando 6%. " O vento contra é o poder de compra no canal alimentar. O poder de compra ainda não se restabeleceu. Há uma el asticidade cruzada no canal alimentar, [o preço da] cesta básica come a renda de quem vai fazer compra e acabamos sofrendo ", avalia o executivo.
No terceiro trimestre, a receita líquida da Alpargatas cresceu 10%, para R$ 1,08 bilhão, com a receita líquida por par avançando 14,7%. O lucro líquido caiu 71,5%, para R$ 44,9 milhões, por causa do efeito da operação da Rothy's, empresa americana em que a Alpargatas investiu no ano passado. Se desconsiderada a operação da marca americana de sapatilhas, o lucro líquido da Alpargatas seria de R$ 105,4 milhões, uma queda de 31%.
Reposição de preços
A companhia tem conseguido melhorar a margem bruta da operação brasileira, que chegou a 42,7%, 1,2 ponto percentual maior do que um ano antes e 3 pontos percentuais acima do segundo trimestre. Isso se deve a repasses de preços e melhoria no mix, conta Funari. A receita bruta por par cresceu 19%, sendo 15% de reajustes e 4% de mix. "Mais um trimestres que crescemos preços acima da inflação, mas há também um aumento importante de premiumnização."
Com isso, a receita da companhia no mercado interno ficou 12% maior, mas houve impacto para o volume, que recuou 6%, mesmo com crescimento de duplo dígito nos canais especializados, ou seja, lojas de calçados. O Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) recorrente da operação ficou em R$ 189,5 milhões, 4% acima do terceiro trimestre de 2021, enquanto o consolidado ficou em R$ 180 milhões, um recuo de 4,1% em reais e 3,4% em moeda constante.
Efeito euro
A companhia conseguiu uma temporada forte de vendas na Europa, o que ajuda a explicar o aumento de 15% no volume, que também começa a refletir o início da temporada do hemisfério Sul. No entanto, alguns fatores impactaram a rentabilidade da operação. A margem bruta ficou 9,4 pontos percentuais e margem Ebitda recuou 6,6 pontos percentuais.
A margem bruta, por exemplo, caiu pela diferença do câmbio, com a valorização do real e a desvalorização do euro. O impacto foi relevante dada a importância de participação das vendas do mercado europeu. O segundo efeito na margem é que a empresa vendeu menos nos Estados Unidos, mercado que tem uma margem melhor. A empresa está reestruturando seus canais de venda no país.
Recentemente a companhia anunciou uma reestruturação das operações internacionais, simplificando a estrutura de gerenciamento das operações. "Estamos fazendo um processo de reestruturação das operações nos Estados Unidos e estamos num processo de melhoria da cadeia logística para melhoria de serviços dos mercados internacionais com o novo centro de distribuição que inauguramos no mês passado", conta Funari, destacando que a melhoria na disponibilidade de produtos na Europa, por exemplo, já é uma realidade. "Eu diria que onde ainda estamos em evolução é a reestruturação dos Estados Unidos. Toda a questão de repasses de preços também já foi implementada."