Cenário econômico é o mais diferente dos últimos 20 anos, diz André Esteves
Durante o BTG Talks, André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual, afirmou que o mundo passa por um novo momento após a mudança global de patamar de juros e diante do arrefecimento da inflação
Editora de Finanças
Publicado em 28 de junho de 2023 às 13h23.
Última atualização em 28 de junho de 2023 às 15h44.
O atual cenário econômico é o mais diferente das duas últimas décadas. É o que afirmou André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual (BPAC11), nesta quarta-feira, 28, durante o evento BTG Talks. Durante a conversa com Roberto Sallouti, presidente do BTG Pactual (mesmo grupo de controle da EXAME), Esteves afirmou que é um novo momento após a mudança global de patamar de juros e diante do arrefecimento da inflação.
Esteves destacou o aumento da inflação em todo o mundo e a forma como os bancos centrais agiram. Segundo ele, o Banco Central Europeu e o Federal Reserve (FED) demoraram para agir e a começar a subir os juros, ao contrário do que aconteceu no Brasil. “Dado nosso passado, somos muito cautelosos com a inflação e temos a resposta pronta: que é taxa de juro mais apertada. Agora, chegamos no pico e começamos a discutir quando será a redução.” Ele acredita que o primeiro corte deve acontecer no mês de agosto, quando ocorrerá a próxima reunião do Copom . “O mundo caminha para um início da queda de juros. Os Estados Unidos devem ter mais uma alta, mas está perto do fim do ciclo. E a Europa se aproxima também.”
Renda fixa nos portfólios
Apesar de o mundo caminhar para iniciar cortes nas taxas de juro, Esteves afirma que o investidor terá de conviver com taxas mais altas. Não é esperado que os juros voltem ao patamar de antes da pandemia. “É um ambiente de taxas de juro mais altas e com uma inflação pouco acima das metas. Nos países do G7, a meta de inflação é de 2%. No caso do Brasil, é 3%. Os bancos centrais vão apertar a taxa de juro e buscarão uma convergência com as metas um pouquinho mais lenta. Eles vão tirar os excessos inflacionários, mas vamos demorar um pouquinho mais para chegar no nosso target.”
Com as taxas de juro mais altas, Esteves afirma que os investimentos em renda fixa terão uma forte retomada dentro dos portfólios. “Isso não significa que o investidor não deve ter investimento em ações, mas a parcela de renda fixa estava muito restrita e é isso que deve mudar. Um pouco mais renda fixa é saudável e recomendável. Nós vamos adequar nosso portfólio nesta direção.”
Cenário brasileiro
Durante o painel, Esteves e Sallouti comentaram ainda sobre a perspectiva do cenário econômico do país. O presidente do BTG Pactual apontou uma série de fatores que impactaram o mercado brasileiro. “Além da pressão inflacionária externa, tivemos ainda uma mudança de governo, a dúvida em relação à PEC de transição e de qual seria o novo arcabouço fiscal. Discutimos ainda a mudança de meta de inflação e quem seria indicado ao Banco Central. Muitos fatores que trouxeram volatilidade”, disse Sallouti.
Esteves destacou, sobre a transição de governo, que houve um período em que as políticas ainda não estavam muito claras. "Isso trouxe volatilidade. O cenário começou a ficar mais tranquilo após a aprovação do arcabouço fiscal", disse. “O arcabouço nos garante uma trajetória razoável. Em outras palavras: aquele eventual risco de cauda do Brasil passar por estresse econômico vai morrendo com o novo arcabouço.”
Ele acredita que o Brasil não passa por nenhum grande desafio econômico e que, por apresentar contas externas equilibradas, reservas altas e ter o Banco Central agindo para controlar a pressão inflacionária, o país está com um ambiente fiscal mais previsível. “O Brasil não tem problema macroeconômico relevante. Temos de fazer uma reforma que facilite a criação de empresas, o empreendedorismo e a tomada de risco do setor privado. Precisamos de um setor público que regule bem e que siga as melhores regras internacionais. Basta deixar o ambiente fluir que teremos surpresas agradáveis.”
Para ele, a economia tem surpreendido como reflexo de reformas feitas nos últimos anos, como a reforma da Previdência e a trabalhista, além de investimentos no setor privado, com a lei de saneamento, mudanças na lei de falências, entre outros. Após a consolidação do arcabouço fiscal, o foco deve ser na agenda de microeconomia. “É só manter nossa posição no mundo como neutro, continuar nossa relação com China, Europa, Estados Unidos, África e nossos vizinhos da América Latina. Podemos oferecer segurança alimentar ao mundo e energia limpa. Tem potencial. O sucesso só depende de nós. Agora, devemos nos concentrar em uma agenda de produtividade.”