Centro de controle do Itaú: oferta elevou emissões brasileiras no ano a US$ 10,9 bi (Alexandre Battibugli/INFO)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2010 às 07h32.
Nova York - A primeira emissão de títulos em reais no exterior pelo Itaú Unibanco Holding SA em mais de três anos deu destaque à vantagem de se captar lá fora em vez de buscar o mercado domésico.
O Itaú, maior banco brasileiro por valor de mercado, emitiu na semana passada R$ 500 milhões em dívida internacional com prazo de cinco anos e taxa de 10,5 por cento, 180 pontos-base abaixo de títulos do governo de prazo similar emitidos no mercado local.
As emissões de bônus em reais no exterior bateram recorde este ano após o governo brasileiro impor uma alíquota de 6 por cento do Imposto sobre Operações Financeiras em investimentos estrangeiros em renda fixa, para tentar limitar a disparada do real. Emissores de dívida em reais no exterior podem usar os recursos para comprar títulos soberanos de maior rendimento no mercado doméstico, sem pagar o imposto. A diferença de rendimentos mostra como a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de taxar o fluxo de dólares de investidores estrangeiros está abrindo possibilidades de “arbitragem” para emissores, de acordo com a Nomura Securities Inc.
“Isso é o que acontece quando governos tentam esses controles de capital mas começam a escolher os fluxos”, disse Tony Volpon, estrategista para América Latina da Nomura em Nova York, numa entrevista por telefone. “As pessoas simplesmente fazem arbitragem. É uma consequência de política governamental mal pensada. Vamos ver muitos negócios.”
Alíquota triplicada
A demanda por dívida em moeda local vendida no exterior está aumentando com a busca dos investidores por alternativas de maior rendimento do que as taxas de juros próximas de zero nos Estados Unidos, Europa e Japão. O Peru vendeu US$ 1,5 bilhão em títulos denominados em sóis em 10 de novembro, a maior emissão de dívida em moeda local já feita por um governo latino- americano.
Colômbia, Filipinas e Brasil também venderam bônus denominados em suas respectivas moedas este ano, enquanto a Rússia planeja uma venda internacional de dívida em rublos.
A oferta do Itaú elevou as emissões de dívida em reais no exterior para US$ 10,9 bilhões este ano, quase o dobro dos US$ 5,5 bilhões emitidos em 2007, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O banco paulista vendeu os bônus um mês após o governo triplicar o IOF sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa para deter a valorização de 39 por cento do real em dois anos e também o aumento do déficit em conta corrente, que chegou a um recorde anual de US$ 47 bilhões.
O rendimento dos títulos em real do Itaú a 10,5 por cento é inferior à taxa básica de juros do País, de 10,75 por cento. A assessoria de imprensa do Itaú em São Paulo disse que não comentaria a oferta porque a transação não foi concluída. O rendimento da Nota do Tesouro Nacional da série F com cupom 10 por cento e vencimento em 2015 estava em 12,3 por cento em 19 de novembro.
“Ter a oportunidade”
O IOF aumentou a demanda estrangeira por títulos internacionais em reais porque eles permitem aos investidores lucrar com a segunda maior taxa básica de juros do mundo sem pagar o imposto. Entre os 46 países acompanhados pela Bloomberg, apenas a Croácia tem juro maior que o Brasil, descontando a inflação.
“Ao criar esses impostos e impor regulamentações, criam-se segmentos de mercado que permitem que as pessoas aproveitem certas oportunidades”, disse Pablo Cisilino, que ajuda a administrar US$ 14 bilhões em dívida de mercados emergentes na Stone Harbor Investment em Nova York, numa entrevista por telefone. “Alguns podem ter a oportunidade de fazer isso. Outros menores não podem. Então, na verdade, o País está pior do que antes. Mas alguns estão melhores.”