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Brasil pode ser vítima da própria “guerra cambial”

Financial Times e Reuters discutem os efeitos das medidas cambiais brasileiras

Brasil pode ser vítima de sua guerra cambial (Antonio Cruz/ABr)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de março de 2012 às 06h00.

São Paulo – Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisa que o governo continuará intervindo no câmbio para tornar a moeda brasileira mais competitiva, os estrangeiros entendem como um verdadeiro alerta sobre o efeito da flutuação do real.

Mantega justifica as medidas como um instrumento importante para colocar os produtos brasileiros num patamar mais competitivo. “Se não as tivéssemos as tomado, o câmbio estaria a R$ 1,40 e o setor de commodities já teria quebrado”, disse em uma reunião realizada no Senado na semana passada.

Foi o ministro da Fazenda que criou o termo “Guerra Cambial” ao questionar a enxurrada monetária dos grandes Bancos Centrais do mundo que tinha o objetivo de reativar as economias, mas que para ele tinham o claro objetivo de desvalorizar o dólar e proteger a indústria.

Reformas

A visão estrangeira para as atitudes do governo brasileiro, contudo, está ficando cada vez mais crítica. O blog Beyondbrics, do Financial Times, chama o Brasil de “chefe mundial da guerra cambial”. Num post no blog, Jonathan Wheatley discute se o país teria motivos para aumentar o conflito cambial num momento em que o real está longe de seu pico (o dólar já girou em torno de R$ 1,60 durante a crise de 2008 e em setembro de 2011) e as medidas para injetar liquidez nas economias desenvolvidas parecem estar num estado de espera ou próximas do fim.

Para o FT, comprar essa guerra cambial é só uma maneira que a presidente Dilma Rousseff teria encontrado para preparar o terreno para uma mudança de política para atacar problemas crônicos, como juros muito altos. O jornal cita uma entrevista concedida pela presidente ao blog do jornalista Luis Nassif, “um blogueiro de esquerda”, diz o FT.

“A redução dos juros, pelo Banco Central, não é só para esquentar a economia brasileira. Cumprimento o BC porque a intenção maior é equilibrar a taxa interna com a internacional. Hoje em dia esse diferencial é responsável pela maior arbitragem que existe no mundo”, disse Dilma na entrevista. Foi um recado direto para os companheiros de partido, afirma o jornal.


“Os parceiros de esquerda do Partido dos Trabalhadores nunca gostaram das reformas liberais preparadas por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula e pai da atual prosperidade do Brasil. Mas Dilma pode ver a necessidade delas”, diz o jornal.

Tiro no pé

O texto do FT veio em resposta a outro artigo que pinta o Brasil como um vilão cambial no exterior. Em uma análise publicada na Reuters, Mike Dolan escreve sobre a possibilidade de a guerra cambial lançada há três anos ter acabado de completar um ciclo e está agora se voltando contra o próprio país como resultado.

“O curso reverso da depreciação das moedas de emergentes tem riscos significativos, desde dificultar decisões de investimentos até prejudicar a política comercial”, afirma Dolan. Ou seja, ao contrário de aproveitar o momento e aplicar reformas necessárias, o país poderá vivenciar mais uma vez uma desvalorização acentuada assim que as economias desenvolvidas voltem a crescer e a opção de investimentos nos mercados emergentes não seja mais óbvia. Dilma, assim, poderia perder o timing das reformas.

O colunista da Reuters cita um relatório recente do UBS sobre o assunto. “Nas próximas semanas ou meses acreditamos que será mais provável escutar uma retórica sobre as guerras cambiais do que inflacionárias – e é por isso que hoje temos uma recomendação tática de curto prazo para a compra de dólares”, afirmou o banco em uma nota aos clientes.

Vale lembrar que em setembro do ano passado, quando o humor dos mercados azedou e o dólar chegou acima de R$ 1,90, a equipe de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, precisou vender 2,7 bilhões de dólares em contratos de swap tradicional. Foi a primeira operação desse tipo desde junho de 2009.

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São Paulo – Enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisa que o governo continuará intervindo no câmbio para tornar a moeda brasileira mais competitiva, os estrangeiros entendem como um verdadeiro alerta sobre o efeito da flutuação do real.

Mantega justifica as medidas como um instrumento importante para colocar os produtos brasileiros num patamar mais competitivo. “Se não as tivéssemos as tomado, o câmbio estaria a R$ 1,40 e o setor de commodities já teria quebrado”, disse em uma reunião realizada no Senado na semana passada.

Foi o ministro da Fazenda que criou o termo “Guerra Cambial” ao questionar a enxurrada monetária dos grandes Bancos Centrais do mundo que tinha o objetivo de reativar as economias, mas que para ele tinham o claro objetivo de desvalorizar o dólar e proteger a indústria.

Reformas

A visão estrangeira para as atitudes do governo brasileiro, contudo, está ficando cada vez mais crítica. O blog Beyondbrics, do Financial Times, chama o Brasil de “chefe mundial da guerra cambial”. Num post no blog, Jonathan Wheatley discute se o país teria motivos para aumentar o conflito cambial num momento em que o real está longe de seu pico (o dólar já girou em torno de R$ 1,60 durante a crise de 2008 e em setembro de 2011) e as medidas para injetar liquidez nas economias desenvolvidas parecem estar num estado de espera ou próximas do fim.

Para o FT, comprar essa guerra cambial é só uma maneira que a presidente Dilma Rousseff teria encontrado para preparar o terreno para uma mudança de política para atacar problemas crônicos, como juros muito altos. O jornal cita uma entrevista concedida pela presidente ao blog do jornalista Luis Nassif, “um blogueiro de esquerda”, diz o FT.

“A redução dos juros, pelo Banco Central, não é só para esquentar a economia brasileira. Cumprimento o BC porque a intenção maior é equilibrar a taxa interna com a internacional. Hoje em dia esse diferencial é responsável pela maior arbitragem que existe no mundo”, disse Dilma na entrevista. Foi um recado direto para os companheiros de partido, afirma o jornal.


“Os parceiros de esquerda do Partido dos Trabalhadores nunca gostaram das reformas liberais preparadas por Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula e pai da atual prosperidade do Brasil. Mas Dilma pode ver a necessidade delas”, diz o jornal.

Tiro no pé

O texto do FT veio em resposta a outro artigo que pinta o Brasil como um vilão cambial no exterior. Em uma análise publicada na Reuters, Mike Dolan escreve sobre a possibilidade de a guerra cambial lançada há três anos ter acabado de completar um ciclo e está agora se voltando contra o próprio país como resultado.

“O curso reverso da depreciação das moedas de emergentes tem riscos significativos, desde dificultar decisões de investimentos até prejudicar a política comercial”, afirma Dolan. Ou seja, ao contrário de aproveitar o momento e aplicar reformas necessárias, o país poderá vivenciar mais uma vez uma desvalorização acentuada assim que as economias desenvolvidas voltem a crescer e a opção de investimentos nos mercados emergentes não seja mais óbvia. Dilma, assim, poderia perder o timing das reformas.

O colunista da Reuters cita um relatório recente do UBS sobre o assunto. “Nas próximas semanas ou meses acreditamos que será mais provável escutar uma retórica sobre as guerras cambiais do que inflacionárias – e é por isso que hoje temos uma recomendação tática de curto prazo para a compra de dólares”, afirmou o banco em uma nota aos clientes.

Vale lembrar que em setembro do ano passado, quando o humor dos mercados azedou e o dólar chegou acima de R$ 1,90, a equipe de Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, precisou vender 2,7 bilhões de dólares em contratos de swap tradicional. Foi a primeira operação desse tipo desde junho de 2009.

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