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Bolsas em todo mundo perdem US$ 1,5 trilhão com surto de coronavírus

Companhias listadas na B3 reduzem valor de mercado em R$ 135 bilhões em uma semana

Hong Kong: Homem usa máscara para se prevenir de infecção (Miguel Candela/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

Hong Kong: Homem usa máscara para se prevenir de infecção (Miguel Candela/SOPA Images/LightRocket/Getty Images)

GG

Guilherme Guilherme

Publicado em 28 de janeiro de 2020 às 16h30.

Última atualização em 28 de janeiro de 2020 às 17h55.

São Paulo - O risco de uma contaminação global pelo coronavírus que surgiu na China mostrou mais uma vez que o mercado financeiro nem de longe é imune a doenças. Desde segunda-feira passada (20), quando os casos de infecção ganharam repercussão mundial, os prejuízos já chegam ao décimo dígito.

Até a última segunda-feira (27), as bolsas do mundo inteiro somaram perdas de 1,519 trilhão de dólares. Com isso, as bolsas deixaram de valer 89,156 trilhões de dólares em valor de mercado para 87,637 trilhões de dólares. No Brasil, a soma do valor de mercado das companhias listadas na B3 passou de 4,756 trilhões de reais para 4,611 trilhões de reais, de acordo com dados da consultoria Economatica. 

Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reclassificou o risco internacional do coronavírus de “moderado” para “alto”. Ao menos 15 países confirmaram algum caso de infecção. No mundo todo, a doença já infectou mais de 4,5 mil pessoas e deixou 106 mortos - todos na China. No Brasil, há um caso sob suspeita em Minas Gerais.

Com o número crescente de infectados, a OMS não descarta decretar “emergência de saúde pública de importância internacional”. O termo foi empregado pela primeira vez em 2009, em meio à pandemia de H1N1 (gripe suína). Naquela ocasião, as bolsas globais chegaram a sofrer os efeitos do vírus em um primeiro momento, mas terminaram o ano com fortes altas.

Apesar do mercado já ter atravessado situações semelhantes, os investidores começam a adotar uma postura mais defensiva em relação aos ativos de maior risco, como as ações. “Sem entender a gravidade do assunto, os investidores vendem as ações primeiro, depois fazem perguntas”, disse Pablo Spyer, diretor da Mirae Asset. 

No Brasil, as empresas que mais se desvalorizaram na Bolsa foram aquelas que têm uma relação comercial mais próxima com a China, como é o caso das companhias da indústria do aço.

A empresa que mais perdeu valor de mercado desde que o surto de coronavírus ganhou força foi a Vale, que teve desvalorização de 35,13 bilhões de reais em valor de mercado. No período, as ações da CSN e Gerdau tiveram respectivas quedas de 8,9% e 10,4%, embora tenham sido beneficiadas pelo aumento do preço do aço. 

“Há temores de que a atividade econômica chinesa não consiga retomar o retomar os ganhos. Então a gente vê reação nos preços”, disse o economista-chefe da Infinity Investimentos, Jason Vieira. 

Analista da Mirae Asset, Pedro Galdi ressalta que a grande participação da Vale no Ibovespa também faz com que a mineradora sinta primeiro os efeitos de aversão ao risco. “As ações da Vale e da Petrobras têm forte liquidez, então isso bate direto nelas”, disse.

Em pouco mais de uma semana, a Petrobras perdeu 27,26 bilhões de reais, ficando atrás apenas da Vale entre as maiores perdas de valor de mercado. O que explica um pouco dessa queda é a desvalorização do petróleo, que se desvalorizou cerca de 10% no mercado futuro. “Todas as commodities sofrem com o problema da China”, afirmou Galdi

Apesar do efeito imediato na precificação dos ativos, o economista acredita que ainda seja cedo para prever se o vírus vai ter impacto na demanda chinesa. “Ninguém sabe. Precisa ver se a China vai deixar as empresas fechadas por mais tempo e o impacto disso no PIB. Mas, no curto prazo, qualquer empresa que tem negócio com a China tem um enorme potencial de sofrer.”

Frigoríficos

Nesse campo, também estão os frigoríficos, que aumentaram a exportação de carne para o país asiático em 2019. Na Bolsa, o setor também esteve entre os que mais sofreram desde a última semana. Até segunda-feira (27), as ações da Minerva recuaram 19%, liderando as quedas do setor. A 

A JBS e a BRF foram as também sentiram o baque, perdendo 6,7 bilhões de reais e 3,4 bilhões de reais respectivamente. Entre os quatro maiores do segmento, a Marfrig foi que saiu mais inteira, se desvalorizando 737 milhões de reais. 

“Em um primeiro momento, os frigoríficos sofrem [com o surto de coronavírus], mas a grande pressão em cima deles é a renegociação de preços que os chineses estão pedindo”, comentou Galdi.

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