Bolsa começa 2021 com nível recorde de R$ 33 bilhões em oferta de ações
Valor supera em mais de cinco vezes o total levantado no primeiro bimestre de 2007, último "boom" de IPOs
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de fevereiro de 2021 às 15h18.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2021 às 09h04.
Graças à volta dos estrangeiros à Bolsa e ao maior apetite do investidor brasileiro por aplicações de maior risco, reflexo direto dos juros baixos, as emissões de ações bateram recorde neste início de 2021 e surpreenderam até os mais otimistas. Nos primeiros 45 dias do ano, 13 empresas fizeram sua oferta pública inicial ( IPO , na sigla em inglês) na B3, a Bolsa paulista. Somando essas operações às emissões de ações de empresas já listadas, o volume chega a R$ 33 bilhões.
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O valor é mais de cinco vezes maior do que o registrado no primeiro bimestre de 2007, último "boom" de oferta de ações no Brasil. Por causa disso, instituições financeiras já começam a revisar suas projeções de ofertas de ações. Já há quem aponte volume de mais de R$ 200 bilhões para 2021, ante projeção média anterior de R$ 150 bilhões.
"A movimentação neste início de ano não estava prevista e surpreendeu. Diria que o volume poderá ser 30% superior ao do ano passado", afirma o sócio e chefe da área de renda variável do BTG Pactual , Fabio Nazari. Em 2020, o volume financeiro de todas as operações em Bolsa no Brasil somou R$ 117 bilhões.
Em poucas semanas, o volume de ofertas de ações já bateu um quarto do volume total de 2020. E a fila de candidatas para abertura de capital segue extensa, com mais de 30 empresas já com pedido de oferta de papéis na Comissão de Valores Mobiliários ( CVM ).
E a conta ainda não inclui as vendas bilionárias previstas pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que devem inflar os números.
Os números podem ganhar outro reforço caso a Caixa Econômica Federal cumpra a promessa de levar suas subsidiárias à B3. A operação da holding de seguros está mais adiantada, mas unidades de cartões e de loterias também fazem parte dos planos.
Por ora, a operação de maior peso na Bolsa peso foi a abertura de capital da CSN Mineração, que movimentou R$ 5,2 bilhões. No entanto, o destaque ao longo de 2021 deve ir para uma maior quantidade de operações de menor porte - com forte participação do setor de tecnologia (leia mais abaixo).
Olhando adiante, são esperadas ainda para o primeiro semestre ofertas de peso, como a do Banco BV (ex-Votorantim); as varejistas Big (ex-Walmart) e Kalunga e a Nadir Figueiredo, dona da marca Marinex e famosa pelo pratos de vidro marrom e copos americanos.
Capital externo
Vitor Saraiva, responsável pela área de renda variável em mercado de capitais da XP Investimentos, aponta que, diante de um início de ano histórico, a estimativa para o volume de ofertas de ações - iniciais e as emissões de ações subsequentes (follow-on) - chega a R$ 200 bilhões divididos em cerca de cem operações. "Isso é fruto de taxas de juros estruturalmente baixas, maior fluxo de investidor local e, desde novembro, a vinda de investidores estrangeiros", ressalta.
Outro fator que empurra um número cada vez maior de empresas para uma abertura de capital é o fato de que elas finalmente enxergam a Bolsa como uma alternativa atraente para a captação de recursos.
"Temos muitas conversas acontecendo", afirma Saraiva. O movimento, segundo ele, começa a se espalhar por empresas de regiões brasileiras fora do eixo Rio-São Paulo, além de trazer também uma maior diversidade setorial.
O diretor global do banco de investimento do Itaú BBA, Roderick Greenless, aponta que o ritmo de ofertas de ações deve se manter aquecido nos próximos meses, tendo em vista as ofertas já com pedido de registro na CVM.
"Temos condições de terminar o mês de abril com 50 operações, entre IPOs e ofertas subsequentes", aponta o executivo. No fim do ano, o Itaú BBA estimava um volume de ofertas próximo de R$ 150 bilhões, mas já vê espaço para ajustar esse número chegar a R$ 180 bilhões.
O time do banco de investimento, que já cresceu ano passado, ganhará algumas contratações pontuais em 2021, tendo em vista o grande volume de operações na mesa.