BofA vê chance de dólar abaixo de R$5 e Ibovespa a 130 mil pontos em 2021
Na América Latina, o mercado de ações brasileiro é o único com recomendação "acima da média do mercado"
Beatriz Quesada
Publicado em 2 de dezembro de 2020 às 16h48.
Última atualização em 2 de dezembro de 2020 às 16h54.
(Reuters) - O Bank of America está "overweight" nas ações brasileiras em 2021, vê chances de o dólar cair abaixo de 5 reais e recomenda posições vendidas nos DIs janeiro 2022 e janeiro 2023. O banco americano aposta em um cenário de "organização" fiscal, que contemple manutenção do teto de gastos e progresso em reformas micro.
"O fluxo estrangeiro virou, mas óbvio que uma intensidade maior nesse movimento vai depender do nosso fiscal", disse David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank of America, prevendo que o Brasil receberá 60 bilhões de dólares em investimento direto no país (IDP) em 2021, acima dos 45 bilhões de dólares previstos para este ano.
O BofA vê o Ibovespa em 130 mil pontos no próximo ano, um acréscimo ao redor de 16% em relação ao patamar atual, puxado por perspectiva de recuperação dos lucros em 2021 e 2022 para setores cíclicos, que têm maior peso no índice -- materiais básicos, energia e finanças.
Na América Latina, o mercado de ações brasileiro é o único com recomendação "acima da média do mercado". O BofA está "marketweight" em México e Peru, "underweight" no mercado chileno e sem exposição a Argentina e Colômbia.
No caso do câmbio, o banco calcula o dólar a 5,10 reais no término de 2021, abaixo dos 5,23 reais desta quarta-feira. "Ficamos entre 5,50 reais e 6 reais por muito tempo, o risco agora é romper os 5 reais, mas apenas se o Brasil fizer a lição de casa fiscal e o exterior se mantiver favorável", disse Beker.
Uma valorização mais acentuada do real ainda seguirá limitada, de acordo com Beker, pelo nível historicamente baixo da taxa de juros, que mantém a moeda brasileira atrás em termos de retornos na comparação com vários de seus principais pares.
Beker até projeta "normalização" da política monetária no ano que vem, com o Banco Central elevando a Selic para 3,25% até dezembro de 2021, frente os 2% atuais, num processo com início em alta de 0,25 ponto percentual em junho. "Mas se a gente estiver errado sobre o fiscal, a pressão será para subir antes disso", ponderou o executivo.
O gradualismo no aumento de juros em 2021, no cenário-base do BofA, se deve à perspectiva de que o quadro inflacionário continuará benigno. Beker ainda estima que, em termos anuais, o IPCA deva continuar em ascensão até o primeiro e segundo trimestres de 2021, mas na sequência começará a recuar, fechando 2021 com acréscimo de 3,6%, ainda abaixo do centro da meta do ano que vem (3,75%).
Num contexto de inflação benigna e Selic em alta apenas gradativa, Beker avalia que o mercado de juros está com excesso de prêmio e que faz sentido posição vendida nos DIs janeiro 2022 e janeiro 2023. O DI janeiro 2022, por exemplo, está em 3,015% ao ano, mais de 100 pontos-base acima do CDI atual, de 1,90%.
No caso do PIB, o executivo do BofA ainda vê crescimento de 3% em 2021, depois de queda projetada de 4,1% neste ano. O BofA diz ainda não ver elementos para "ir além" na expectativa de expansão da economia e cita, por exemplo, chance de encerramento do coronavoucher, com impacto no consumo das famílias. "Então no começo do ano a atividade pode ter desafios", disse.
Beker tem em seu cenário-base avanço do projeto de lei da autonomia do Banco Central, Lei de Falências, PEC emergencial, PEC dos fundos e "alguma coisa" da reforma tributária, com o Orçamento sendo aprovado também em 2021.
"O resumo da história é um cenário construtivo. Tem alguns riscos externos, principalmente o timing a vacina, a questão do comportamento das políticas nas economias globais e o risco doméstico principal que é o fiscal, mas as notícias mais recentes são encorajadoras", finalizou o executivo.