Apostas em valor de Wall Street colocam fundos quant em risco
Estrategistas do JPMorgan Chase ao Wells Fargo alertam que os dias de glória podem ter acabado para ações vistas como baratas
Bloomberg
Publicado em 18 de agosto de 2022 às 16h31.
Se Wall Street tiver razão, o grande renascimento do investimento em valor na era pós-pandemia corre o risco de desmoronar devido aos ganhos no mercado de títulos .
Estrategistas do JPMorgan Chase ao Wells Fargo alertam que os dias de glória podem ter acabado para ações vistas como baratas, já que investidores começam a vender papéis de empresas como produtores de petróleo e bancos na convicção de que a inflação atingiu o pico.
Com a aposta de traders de que uma desaceleração econômica vai aliviar as pressões de preços históricas, a estratégia de negociação “long-short” caiu 13% desde a máxima em meados de junho em rendimentos de títulos.
Ao mesmo tempo, empresas promovidas por seu potencial acima da média para elevar o lucro, conhecidas como ações de crescimento, superaram papéis de valor em julho com a maior vantagem em 22 anos, mostram os índices MSCI, depois que gigantes de tecnologia como Apple se recuperaram.
E, pela primeira vez em dois anos, a maioria dos investidores consultados pelo Bank of America no início de agosto disse que ações de valor ficarão aquém de empresas de crescimento daqui para frente. Há apenas alguns meses, o favoritismo dos papéis de valor estava no maior nível em mais de uma década.
“As macrotendências são muito favoráveis no longo prazo para o estilo crescimento”, disse Christopher Harvey, chefe de estratégia de renda variável do Wells Fargo, em entrevista. “Valor normalmente tem melhor desempenho ao sair de uma recessão e entrar em uma recuperação devido ao seu balanço patrimonial e alavancagem operacional.”
Todo esse ceticismo é uma grande virada para um dos trades mais populares em Wall Street nos mercados pós-pandemia - e desafia várias pesquisas quantitativas segundo as quais a relação entre juros e valor está longe de ser consistente historicamente.
Não é à toa que investidores sistemáticos como Cliff Asness alertam que aqueles que esnobam o estilo de investimento com uma reação automática à queda dos rendimentos têm sido sugados por uma teoria “enganosa” de que há uma relação simples – e direta – entre os dois.
Por enquanto, os céticos podem comprovar, com saídas de US$ 3,3 bilhões de fundos de índice dos EUA que acompanham ações de valor em julho, de acordo com dados compilados pela Bloomberg Intelligence. Enquanto isso, fundos de crescimento receberam US$ 5,4 bilhões em agosto, depois de US$ 3,8 bilhões no mês passado.
A sabedoria convencional argumenta que ações de valor como Exxon Mobil e Berkshire Hathaway tendem a ser mais cíclicas e oferecem fluxos de caixa de curto prazo, enquanto papéis de crescimento como de tecnologia são valorizados por suas perspectivas de longo prazo. Ações de crescimento são consideradas as maiores beneficiárias da queda dos rendimentos dos títulos, porque seus valuations e fluxos de caixa esperados são muito influenciados por mudanças nas taxas de juros.
Mas, apesar do aperto monetário mais rápido nos EUA desde a década de 1980, os rendimentos dos títulos caíram em relação às máximas, o que levou a uma rotação com a venda de ações baratas.
O JPMorgan diz que o fator de crescimento pode continuar ganhando, já que dados mais recentes sugerem que a economia está em desaceleração, mas Andrew Lapthorne, do Société Générale, não tem tanta certeza.
“Além de os bancos centrais não estarem apoiando os mercados como estiveram nos últimos anos, os lucros das ações de crescimento também têm se mostrado um pouco frágeis”, escreveu o chefe global de estratégia quantitativa em nota recente.