Americanas puxa todo o setor para baixo e ações da Via e Magazine Luiza desabam
Analistas temem que 'inconsistências contábeis" encontradas na Americanas sejam praticadas por outras varejistas
Guilherme Guilherme
Publicado em 12 de janeiro de 2023 às 12h52.
Última atualização em 12 de janeiro de 2023 às 13h40.
As ações da Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3) chegam a cair cerca de 10% nesta quinta-feira, 12, após a Americanas ter encontrado "inconsistências contábeis" avaliadas em R$ 20 bilhões em balanço do terceiro trimestre. As falhas foram reportadas ao mercado pela própria companhia em fato relevante divulgado na noite de quarta-feira, 12. Investidores temem que práticas semelhantes tenham sido empregadas por outras empresas do setor.
Segundo a Americanas,foi identificada a "existência de operações de financiamento de compras em valores da mesma ordem acima [R$ 20 bilhões], nas quais a Companhia é devedora perante instituições financeiras e que não se encontram adequadamente refletidas na conta fornecedores nas demonstrações financeiras" do terceiro trimestre de 2022.
O anúncio das inconsistências contábeis foi acompanhado dos pedidos de renúncia de Sérgio Rial ao cargo de CEO e de André Covres, ao de CFO. Ambos os executivos haviam assumido o comando da empresa no início do ano.
Os R$ 20 bilhões, segundo conferência de Rial com investidores nesta quinta, "é o que foi possível estimar com o que vimos em nove dias". O rombo pode ser maior. Segundo ele, a inconsistência está no Risco Sacado relacionado à contabilização de financiamento a fornecedores, o que diz ser um terreno cinzento há anos na contabilidade brasileira.
"Não posso garantir há quanto tempo, mas está mais para nove anos do que para três. Não é algo de 2022", disse o executivo.
O maior impacto, segundo analistas da Genial, deve ser no nível de alavancagem da Americanas, que "subestimou em seu balanço o tamanho do endividamento".
"Entendemos que a companhia deveria reconhecer o valor que negociou em risco sacado dentro da conta de Empréstimos e Financiamentos. Como a Americanas passa a dever as instituições financeiras e não a fornecedores, os números fidedignos não estariam sendo refletidos no balanço", disseram os analistas em relatório.
Medo de impacto setorial
A Genial ainda ressaltou que descoberta deve aumentar o receio do mercado com o varejo de e-commerce, em meio a temores que as outras empresas estejam adotando práticas semelhantes. "Nossa análise é de que outras empresas do setor também realizam operações de Risco Sacado, o que evidência um risco (e, nesse momento, apenas um risco) de ocultação de informações relevantes no balanço dessas companhias."
"O endividamento da Americanas é muito superior ao reportado, o que deve levar à necessidade de aumento de capital", disse Fernando Ferrer, analista da Empiricus.
A insufiência de controle da área financeira, segundo Rial, foi motivado pela necessidade de crescer a parte digital por meio de financiamento a fornecedores. "Isso nos leva a pensar que empresas de grande crescimento, bastante faturamento e margens baixas podem ser levadas a ter uma ideia de contabilidade criativa para que fique fluído o seu balanço. Pode ser que isso não ocorra só com a Americanas", afirmou Ferrer.
Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, acredita que o caso "pode acabar virando uma bola de neve mais para frente". "É algo muito sensível e pode respingar no mercado como um todo, escalando para uma crise de confiabilidade. Temos que acompanhar de perto já que isso pode trazer certa volatilidade para o mercado conforme mais desdobramentos forem saindo."