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“Ainda vejo muitas oportunidades” diz gestor de ações da Mauá Capital

Renato Ometto acredita que empresas da bolsa estão mais bem preparadas do que nunca para enfrentar a crise

Renato Ometto: gestor do fundo Mauá Capital Ações FIC FIA (Mauá Capital/Divulgação)

Renato Ometto: gestor do fundo Mauá Capital Ações FIC FIA (Mauá Capital/Divulgação)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 8 de junho de 2020 às 18h51.

Última atualização em 8 de junho de 2020 às 19h17.

O recente rali do Ibovespa, que caminha em ritmo acelerado para recuperar os 100 mil pontos, tem feito muitos investidores se perguntarem se ainda há espaço para as ações continuarem subindo. Para Renato Ometto, gestor do fundo Mauá Capital Ações FIC FIA, ainda há “muitas oportunidades” na bolsa.

Desde seu pior patamar do ano, quando fechou em 63.569,62 pontos, o Ibovespa já subiu mais de 50%, encerrando acima dos 97 mil pontos, nesta segunda-feira, 8. O forte movimento de alta, segundo Ometto, está relacionado, principalmente, aos pacotes de estímulos e à melhora da perspectiva econômica. “Tentaram antecipar uma coisa muito ruim. Mas essa coisa muito ruim virou uma coisa ruim. Por isso, tem essa escalonada de preços”, afirmou.

Com mais de 200 milhões de reais sob administração, o fundo que gere teve retornos superiores a 50% em 2019, mas não conseguiu escapar da forte onda de desvalorização que assolou as bolsas de valores entre fevereiro e março deste ano. Porém, com a taxa básica de juros Selic na mínima histórica de 3% ao ano e com perspectiva de novos cortes, Ometto ainda vê o mercado acionário como uma das melhores alternativas para quem busca rentabilidade. “As ações são uma das poucas classes que, se conseguir escolher os ativos, pagam dividendos maiores que o dobro da taxa de juros real.”

Ometto também comentou que, devido à maior quantidade de dinheiro em caixa, as empresas de capital aberto estão mais bem preparadas do que nunca para enfrentar a crise, sendo que vê algumas delas com chances de aproveitar o momento para se tornarem ainda mais relevantes em seus respectivos setores.

Apesar do otimismo, Ometto não descarta fortes quedas quando começarem a ser divulgados os balanços do segundo trimestre, que irão abranger o maior período da quarentena. De acordo com ele, no entanto, os resultados também podem provocar o efeito inverso. "Se a empresa teve prejuízo de 200 milhões de reais e se esperava 300 milhões de reais, a bolsa continua subindo. É um jogo de expectativas."

Confira a entrevista:

O que está fazendo a bolsa subir tão rápido?

Em primeiro lugar, todos os pacotes de estímulos que foram feitos ao redor do mundo por bancos centrais e governos, que foram importantes para a economia como um todo. Com taxas de juros extremamente baixas no mundo, que devem continuar assim por um bom tempo, as ações são uma das poucas classes que, se conseguir escolher ativos, pagam dividendos maiores que o dobro da taxa de juros real. A gente teve um choque de estímulo muito grande e na hora que passou a considerar alguns investimentos, viram que o negócio não vai acabar. Tentaram antecipar uma coisa muito ruim. Mas essa coisa muito ruim virou uma coisa ruim. Por isso, tem essa escalonada de preços.

Mas as bolsas não vão subir indefinidamente só por conta de pacote de estimulo. Nos próximos anos, essas empresas vão ter que começar a apresentar lucros. Você está pagando um preço por uma coisa que entrega lucro “X”. Então, vai ter que voltar a ter um padrão.

Segundo ponto: as pessoas começaram a entender as curvas da doença e viram que não era nada absurdo. Viram que tem fim e o mundo não acabou. A bolsa antecipa movimentos. Compra no boato e vende no fato. Elas anteciparam sem saber o que ia acontecer e depois teve uma correção para cima.

A bolsa brasileira chegou a ter um dos piores desempenhos do mundo. A queda foi exagerada?

A bolsa brasileira só chegou onde chegou por conta dos fundos multimercados. É uma turma que nunca teve muita bolsa e, ao longo dos últimos dois anos, compraram muitas ações. Tinham muito dinheiro e não tinham onde investir com o retorno esperado. Eles têm volatilidade bem menor [que fundos de ações] e, de repente, numa crise dessas, tiveram que stopar [vender para evitar volatilidade] a qualquer preço. Eles levaram a bolsa para baixo.  A bolsa deveria ter ido para 80 mil pontos, não para 63 mil pontos [mínima do ano]. Tem uns 15 mil pontos que atribuo aos multimercados. Teve um efeito “me tira daqui porque não aguento essa volatilidade”.

Se a renda fixa tivesse dando uma oportunidade boa, a primeira coisa que fariam seria tirar o dinheiro do risco mais volátil para ativos com retornos garantidos, só que dessa vez não tinha. Vai tirar da bolsa e vai para onde? Para a poupança? Com certeza, agora, estão voltando para a bolsa.

Como as empresas de capital aberto estão posicionadas para enfrentar a crise?

É a primeira vez que a maioria das empresas da bolsa está entrando em uma crise com um nível de caixa muito alto. Por conta da redução dos juros e da geração de caixa das companhias, elas estão com um balanço de caixa muito saudável.

Então, mesmo com a crise, as empresas que são líderes em seus segmentos e que já tinham dado passos em estratégias de digitalização vão sair mais fortes, enquanto algumas outras vão sentir mais dificuldade. Vai ter gente que vai aproveitar essa oportunidade. Se uma construtora com muito caixa vê descontos em preços de terrenos, vai acabar comprando e fazendo um ótimo negócio. O composto da bolsa está muito saudável. Mas é óbvio que vai ter o sofrimento da economia.

Tem espaço para as empresas da bolsa crescerem ainda neste ano?

A gente vai ter uma queda do lucro neste ano. Não tem jeito. As quarentenas começaram no mês de março e pegaram 15 dias do primeiro trimestre. Então, acho que o trimestre que vai pegar em cheio é o segundo.

Os balanços do segundo trimestre podem fazer a bolsa voltar a cair?

Com certeza, se números vierem piores do que o esperado, vão fazer a bolsa voltar a cair. Vai ter que corrigir isso. Agora, se a empresa teve prejuízo de 200 milhões de reais e se esperava 300 milhões de reais, aí a bolsa continua subindo. É um jogo de expectativas. Não sei como os investidores vão reagir. Cada um tem sua conta.

Os efeitos econômicos da pandemia preocupam?

Tem muitas engrenagens que preocupam. O desemprego no Brasil já aumentou, mas acho que vai aumentar ainda mais. Até alguns hospitais privados estão sem pacientes. Ninguém está preocupado com exame de rotina ou cirurgia bariátrica. Até quem pensava que estaria faturando mais, não está.

Ainda há boas oportunidades na bolsa?

A gente tá com 98% do fundo ativo. Ainda vejo muitas oportunidades. Nosso portfólio tem um upside de quase 50%. A gente ainda vê muito valor. Mas, também sabemos que não vai ser um mar de rosas. Não vai só subir. Mas é um jogo de paciência. Tem que saber identificar as empresas mais e menos afetadas e as medidas que os empresários estão tomando para poder superar a crise de curto prazo.

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