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A fabulosa estreia do Snapchat

Thiago Lavado A Snap Inc., companhia que detém a rede social de fotos e vídeos Snapchat, fez nesta quinta-feira uma das estreias mais fulminantes dos últimos tempos em Wall Street. Ontem, a companhia fixou o preço de sua abertura de capital em 17 dólares por ação. Hoje, no primeiro dia de negociações, os papéis dispararam […]

O SÍMBOLO DO SNAPCHAT NA BOLSA DE NY: as ações subiram 50% em seu dia de estreia  / Lucas Jackson/ Reuters

O SÍMBOLO DO SNAPCHAT NA BOLSA DE NY: as ações subiram 50% em seu dia de estreia / Lucas Jackson/ Reuters

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Da Redação

Publicado em 2 de março de 2017 às 17h53.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h30.

Thiago Lavado

A Snap Inc., companhia que detém a rede social de fotos e vídeos Snapchat, fez nesta quinta-feira uma das estreias mais fulminantes dos últimos tempos em Wall Street. Ontem, a companhia fixou o preço de sua abertura de capital em 17 dólares por ação. Hoje, no primeiro dia de negociações, os papéis dispararam e chegaram a subir 52%, para 26 dólares (até as 17h30 de Brasília a alta era de 46%), fazendo a Snap valer 33 bilhões de dólares.

O curioso é que a precificação a 17 dólares já era considerado excessivo por analistas. Com a alta desta quinta-feira, a Snap já tem valor de mercado equivalente a empresas tradicionais, e com faturamento bilionário, como a rede de hotéis Marriott e a rede varejista Target. A Snap fica atrás apenas da rede social Facebook e da operadora de cartões de crédito Visa na história de aberturas de capital do estado onde está o Vale do Silício, e deixou Google e Twitter para trás.

Mas o que os investidores estão vendo de especial na rede social? Com cerca de 158 milhões de usuários diários, o Snapchat é famoso por permitir a comunicação por meio de fotos e vídeos que desaparecem depois de 10 segundos. Tornou-se o queridinho dos jovens de 14 a 30 anos, que veem na rede social algo que não os definirá para sempre e que lhes permite escapar do controle parental. Os anunciantes procuram maneiras de se comunicar com o público do aplicativo e alcançar esse consumidor em potencial. Para muitos analistas e investidores, esse é o real valor do Snapchat.

A companhia responde a uma demanda: investidores estão sempre ávidos em busca do próximo Google ou da próxima Apple, companhias que causaram disrupção em seus respectivos mercados, e torcem para que a Snap seja o próximo Facebook. Há um sentimento de que o Snap poderia acordar o mercado de IPOs de tecnologia, que há muito aguarda a chegada à bolsa de companhias como o Uber, de transporte, e o Airbnb, de imóveis. Em janeiro, de acordo com o jornal Wall Street Journal, havia mais de 150 empresas avaliadas em 1 bilhão de dólares sendo monitoradas pelo clube de startups do índice Dow Jones — e que poderiam vir a público.

A empresa ainda foi à bolsa num momento iluminado. Ontem, os mercados americanos fecharam em forte alta, com o índice Dow Jones ultrapassando a marca recorde de 21.000 pontos. Há um otimismo desenfreado em Wall Street, com milhares de investidores loucos para fazer vistas grossas às fragilidades do negócio de olho em ganhos de curto prazo.

Os números da companhia, que dizem respeito às operações de 2015 e 2016, mostram uma empresa que cresce, mas perde rios de dinheiro. Em 2016, o faturamento foi de 404,4 milhões de dólares, quase 600% acima das vendas de 58,6 milhões de 2015; a meta é chegar o mais rápido possível a 1 bilhão de dólares. Segundo o banco Goldman Sachs, as receitas podem chegar a 2 bilhões ao final de 2018.

Atualmente, 98% da receita vem de anúncios e propaganda, uma atividade que a Snap só adotou há pouco tempo. Segundo as informações que a própria companhia divulgou antes do IPO, o aumento do faturamento é uma característica fundamental para que a Snap alcance a lucratividade. “Nós começamos as operações comerciais em 2011 e por toda a nossa história tivemos prejuízos e fluxos de caixa negativos. Se o faturamento não subir além das despesas, não há como alcançarmos e mantermos rentabilidade.”

A Snap foi sincera. Os prejuízos de 2015 foram de 372,9 milhões de dólares e subiram para 514,6 milhões de dólares no ano passado. Pelas contas, a companhia gastou 127% a mais do que ganhou em 2016. Segundo David Trainer, presidente e analista da companhia de investimentos New Construct Leverage, há uma grande divergência entre a avaliação atual da Snap e os fundamentos da companhia, o que torna o investimento um empreendimento de alto risco.

As críticas também giram em torno do crescimento da companhia, que adicionou 36 milhões de usuários diários à plataforma no primeiro semestre de 2016, e apenas 15 milhões no segundo semestre. Os números caíram justamente quando o concorrente Instagram, rede social de fotografias do Facebook, lançou o Stories em sua plataforma, uma ferramenta muito semelhante ao Snapchat. E o Facebook já deixou claro que vai copiar cada novo passo do Snapchat, o que é um perigo e tanto para a novata.

Entre as muitas dúvidas sobre a empresa, há uma certeza mais ou menos concretizada: as ações da Snap não valem 26 dólares no cenário atual. A companhia de análises Pivotal Research estima que as ações valerão 10 dólares no final do ano. “A Snap apresenta aos investidores a oportunidade de investir em uma companhia inovadora, com um viés jovem. Ao mesmo tempo, há riscos significativos em investir nessas oportunidades. Quem investir nessa companhia será exposto a uma competição com companhias muito maiores e uma promessa de faturamento que ainda é difícil de quantificar em última instância”, escreveu o analista Brian Wieser.

É cedo para dizer se a Snap repetirá a queda do Twitter ou a ascensão do Facebook. De qualquer forma, Evan Spiegel e Bobby Murphy, os dois fundadores que ainda detém 88% do poder de voto, não têm do que se queixar: dois anos depois de recusar 3 bilhões de dólares no total do Facebook, cada um levou 272 milhões de dólares no IPO e tem uma fortuna estimada em 3,6 bilhões de dólares.

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