O Brasil já foi um país com vinte ambientes de negociações de ações e outros ativos financeiros (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 15 de fevereiro de 2011 às 17h10.
São Paulo – Ken Conklin, vice-presidente sênior de desenvolvimento de negócios e marketing da BATS Global Markets, plataforma de negociação com sede em Kansas (Estados Unidos), tem uma difícil missão no Brasil. Criar uma nova bolsa de valores e derrubar o monopólio da BM&FBovespa (BVMF3). Acuado pela confidencialidade prevista no memorando de entendimentos assinado com a gestora de recursos brasileira Claritas, parceira na empreitada, Conklin falou a EXAME.com sobre as razões de criar um novo ambiente de negociações de ações no país, após anos de rumores sobre esta possibilidade.
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“Fizemos pesquisas e concluímos que uma nova bolsa de valores é possível no Brasil”, afirmou o executivo. Segundo ele, um dos principais objetivos é o de oferecer uma alternativa mais barata e com mais tecnologia, e que esta já seria uma demanda dos participantes do mercado no Brasil. “Os bancos e corretoras têm um grande desejo pela competição, e é o desejo para reduzir as taxas e oferecer uma melhor tecnologia e serviços do que os existentes hoje”, disse. “Em todos os mercados que chegamos o nosso objetivo é esse: melhorar os preços e os serviços”, ressalta. Conklin foi o responsável por grande parte da expansão da BATS na Europa.
O Brasil já foi um país com vinte ambientes de negociações de ações e outros ativos financeiros. Esse era o cenário brasileiro na década de 1990. Porém, ao longo dos anos seguintes o mercado se consolidou e, depois da quase quebra da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, então a maior do País, hoje só se fala na BM&FBovespa, fusão entre o ambiente de negociações de derivativos e commodities com o de ações, realizada em 2008.
Uma das principais barreiras para a chegada de um novo concorrente, segundo analistas, é o modelo integrado da BM&FBovespa. Além de bolsa, ela detém também a CBLC (Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia), que é a contraparte para o mercado de ações e de renda fixa e responsável pela fiscalização dos pagamentos e recebimentos. Por lei, a BM&FBovespa é obrigada a oferecer os serviços de compensação para qualquer outro participante do mercado. Contudo, a bolsa pode cobrar o preço que desejar, o que poderia impossibilitar a entrada.
“Sabemos que podemos trabalhar com eles, contudo eles já mudaram a estrutura de preços para evitar a competição. É uma clara indicação de uso do monopólio. A BM&FBovespa é um verdadeiro monopólio e eles têm orgulho disso”, dispara. “A nossa ideia é ter a própria câmara de compensação”, explica. Conklin destaca que a BATS está acostumada a entrar em mercados com outras bolsas de valores oferecendo uma opção alternativa. “Começamos uma nova empresa e vamos crescendo até ficar significantes”, diz. O executivo não falou sobre um cronograma de implementação da nova bolsa, mas afirma que ainda está em conversas com outros interessados.
A nova bolsa traria a opção de investimentos nas mesmas ações brasileira que hoje são negociadas na BM&FBovespa. “Qualquer ação da Bovespa poderia também estar na nova bolsa. A ideia é dar novas oportunidades”, conclui. Carlos Ambrósio, sócio da Claritas, confirmou hoje para EXAME.com que Luiz Eduardo Zago, ex-diretor do banco Itaú, está envolvido na operação, “assim como outras pessoas”. Ambrósio não quis comentar sobre a possível participação de ex-funcionários da BM&FBovespa. O executivo afirmou que não pode dar mais detalhes por conta de cláusulas de confidencialidade do contrato. Tanto a Claritas quanto a BATS se negaram a comentar o envolvimento da Bovesba (Bolsa da Bahia, Sergipe e Alagoas) na operação.
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