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Alta do real foi prevista a 10 mil km de distância

Equipes de analistas em lugares tão distantes como Itália, Polônia e Suécia previram melhor os movimentos do câmbio do que os brasileiros

Câmbio: analistas ignoraram instabilidade política e fizeram projeções baseados no comportamento de outros emergentes, dependentes da China. (Ricardo Moraes/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 8 de abril de 2016 às 13h07.

Um estrategista na Toscana, um analista em Varsóvia e outro em Estocolmo são a prova de que é possível acompanhar o mercado perto demais.

O que esses três homens têm em comum? Eles previram melhor a alta do real , a maior do mundo no primeiro trimestre, estando a até 10.000 quilômetros de distância de seus pares de São Paulo , que estão afundados até os joelhos nos protestos e nas polêmicas.

A italiana MPS Capital Services, a sueca Skandinaviska Enskilda Banken e a polonesa Cinkciarz.pl foram as empresas que adivinharam com mais precisão a movimentação do real nos rankings trimestrais da Bloomberg, superando grupos com muito mais experiência na região e equipes posicionadas no local.

O que chama a atenção em relação ao trio não é apenas a relativa baixa familiaridade com o Brasil -- dois dos três analistas-chefes nunca estiveram no país --, mas os lugares de onde eles vêm tirando sugestões.

A MPS Capital Services, a SEB e a Cinkciarz.pl ignoraram em grande parte a turbulência política do dia a dia que transformou os mercados brasileiros nos mais voláteis do mundo.

Em vez disso, juntaram o país com o restante de seus pares emergentes dependentes de commodities , cujos destinos estão intimamente ligados à China.

Os três analistas esperam uma queda do real até o fim do ano devido às dificuldades da China e à piora da economia do Brasil.

“Às vezes estar do lado de fora ajuda”, disse Antonio Cesarano, chefe de estratégia de mercado da MPS Capital Services. Sua equipe, na cidade medieval italiana de Siena, previu no fim do ano passado a alta do real no primeiro trimestre.

“De onde estávamos havia uma percepção de pessimismo excessivo em relação aos mercados emergentes e ao Brasil em particular”.

Turbulência interna

O real teve uma valorização de 10 por cento no primeiro trimestre, depois recuou, apagando parte dos ganhos neste mês. A moeda caiu 1,3 por cento, para R$ 3,6888 por dólar, em São Paulo, na quinta-feira.

É fácil entender por que alguém que acompanha o dia a dia da saga política do Brasil pode acabar se afogando nos detalhes.

A presidente Dilma Rousseff está lutando por sua sobrevivência política e, atualmente, está tentando reunir votos suficientes na Câmara dos Deputados para evitar seu impeachment.

A investigação da Lava Jato, que abalou as lideranças política e econômica, não mostra sinais de abatimento, com novas acusações e prisões sendo realizadas quase todas as semanas.

Enquanto isso, o Brasil afunda cada vez mais na pior recessão registrada em um século e o rombo no orçamento explodiu, chegando a 11 por cento do produto interno bruto.

Mudança nas projeções

Per Hammarlund, estrategista-chefe de mercados emergentes da SEB em Estocolmo, disse que é missão suicida tentar realizar previsões com base na política, porque existe muita incerteza.

“As coisas estão mudando muito rapidamente”, disse Hammarlund, o único dos três analistas que já esteve no Brasil e que cobre a moeda há mais de uma década. “Não podíamos mudar nossas projeções o tempo todo”.

Diante do cenário sombrio, muitos observadores do mercado avaliam a chance de um novo governo como a melhor esperança de uma recuperação do Brasil.

Embora a euforia em torno de um possível impeachment tenha ajudado a impulsionar a alta de 10 por cento do real no trimestre, esse ímpeto está perdendo fôlego.

O Brasil, em essência, ainda é muito dependente dos preços das commodities, disse Cesarano.

“A história das commodities deverá se consolidar no segundo trimestre e isso deverá continuar apoiando o real”, disse Cesarano, que prevê uma valorização da moeda, para R$ 3,50 por dólar, até o fim do primeiro semestre.

Marcin Lipka, analista de mercado da Cinkciarz.pl, também acredita que a trajetória do real estará intimamente ligada às commodities neste ano.

As matérias-primas respondem por mais da metade das exportações do Brasil, embora as empresas que dependem do setor respondam por cerca de um quinto do Ibovespa.

“Vemos alguma volatilidade forte para o real daqui para a frente”, disse Lipka, que começou a cobrir o real há um ano e meio.

A moeda será impulsionada “por fatores externos, como a China e os preços das commodities, e também por favores políticos internos”, disse ele.

A SEB e a MPS Capital Services projetam que o real encerrará o ano em R$ 3,90 por dólar, enquanto a Cinkciarz.pl coloca a moeda em R$ 4,00.

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Um estrategista na Toscana, um analista em Varsóvia e outro em Estocolmo são a prova de que é possível acompanhar o mercado perto demais.

O que esses três homens têm em comum? Eles previram melhor a alta do real , a maior do mundo no primeiro trimestre, estando a até 10.000 quilômetros de distância de seus pares de São Paulo , que estão afundados até os joelhos nos protestos e nas polêmicas.

A italiana MPS Capital Services, a sueca Skandinaviska Enskilda Banken e a polonesa Cinkciarz.pl foram as empresas que adivinharam com mais precisão a movimentação do real nos rankings trimestrais da Bloomberg, superando grupos com muito mais experiência na região e equipes posicionadas no local.

O que chama a atenção em relação ao trio não é apenas a relativa baixa familiaridade com o Brasil -- dois dos três analistas-chefes nunca estiveram no país --, mas os lugares de onde eles vêm tirando sugestões.

A MPS Capital Services, a SEB e a Cinkciarz.pl ignoraram em grande parte a turbulência política do dia a dia que transformou os mercados brasileiros nos mais voláteis do mundo.

Em vez disso, juntaram o país com o restante de seus pares emergentes dependentes de commodities , cujos destinos estão intimamente ligados à China.

Os três analistas esperam uma queda do real até o fim do ano devido às dificuldades da China e à piora da economia do Brasil.

“Às vezes estar do lado de fora ajuda”, disse Antonio Cesarano, chefe de estratégia de mercado da MPS Capital Services. Sua equipe, na cidade medieval italiana de Siena, previu no fim do ano passado a alta do real no primeiro trimestre.

“De onde estávamos havia uma percepção de pessimismo excessivo em relação aos mercados emergentes e ao Brasil em particular”.

Turbulência interna

O real teve uma valorização de 10 por cento no primeiro trimestre, depois recuou, apagando parte dos ganhos neste mês. A moeda caiu 1,3 por cento, para R$ 3,6888 por dólar, em São Paulo, na quinta-feira.

É fácil entender por que alguém que acompanha o dia a dia da saga política do Brasil pode acabar se afogando nos detalhes.

A presidente Dilma Rousseff está lutando por sua sobrevivência política e, atualmente, está tentando reunir votos suficientes na Câmara dos Deputados para evitar seu impeachment.

A investigação da Lava Jato, que abalou as lideranças política e econômica, não mostra sinais de abatimento, com novas acusações e prisões sendo realizadas quase todas as semanas.

Enquanto isso, o Brasil afunda cada vez mais na pior recessão registrada em um século e o rombo no orçamento explodiu, chegando a 11 por cento do produto interno bruto.

Mudança nas projeções

Per Hammarlund, estrategista-chefe de mercados emergentes da SEB em Estocolmo, disse que é missão suicida tentar realizar previsões com base na política, porque existe muita incerteza.

“As coisas estão mudando muito rapidamente”, disse Hammarlund, o único dos três analistas que já esteve no Brasil e que cobre a moeda há mais de uma década. “Não podíamos mudar nossas projeções o tempo todo”.

Diante do cenário sombrio, muitos observadores do mercado avaliam a chance de um novo governo como a melhor esperança de uma recuperação do Brasil.

Embora a euforia em torno de um possível impeachment tenha ajudado a impulsionar a alta de 10 por cento do real no trimestre, esse ímpeto está perdendo fôlego.

O Brasil, em essência, ainda é muito dependente dos preços das commodities, disse Cesarano.

“A história das commodities deverá se consolidar no segundo trimestre e isso deverá continuar apoiando o real”, disse Cesarano, que prevê uma valorização da moeda, para R$ 3,50 por dólar, até o fim do primeiro semestre.

Marcin Lipka, analista de mercado da Cinkciarz.pl, também acredita que a trajetória do real estará intimamente ligada às commodities neste ano.

As matérias-primas respondem por mais da metade das exportações do Brasil, embora as empresas que dependem do setor respondam por cerca de um quinto do Ibovespa.

“Vemos alguma volatilidade forte para o real daqui para a frente”, disse Lipka, que começou a cobrir o real há um ano e meio.

A moeda será impulsionada “por fatores externos, como a China e os preços das commodities, e também por favores políticos internos”, disse ele.

A SEB e a MPS Capital Services projetam que o real encerrará o ano em R$ 3,90 por dólar, enquanto a Cinkciarz.pl coloca a moeda em R$ 4,00.

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