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Com 4 meses, contrato de etanol da BM&F começa a ficar popular

Número de contratos ficou em torno de 7,4 mil, pouco abaixo dos 4 primeiros meses do milho, terceiro principal agropecuário da Bolsa hoje

Plantação de cana no Centro de Tecnologia Canavieira (Lia Lubambo/EXAME)

Plantação de cana no Centro de Tecnologia Canavieira (Lia Lubambo/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2010 às 18h24.

São Paulo - O contrato futuro de etanol hidratado da BM&FBovespa completa quatro meses de negociação nesta sexta-feira, com um volume de transações indicando que o Brasil finalmente pode ter encontrado um instrumento financeiro capaz de gerenciar riscos em um setor no qual o país dá as cartas no mundo.

Os números dos primeiros meses de negociações falam por si só. Com exclusiva liquidação financeira (sem entrega física), o derivativo registrou até o momento negócios da ordem de mais de 7.400 contratos, volume levemente abaixo do verificado nos quatro primeiros meses do "milho financeiro", lançado em 2008 e que hoje é o terceiro principal papel agropecuário da BM&F, atrás do café e do boi gordo.

"O etanol está ficando cada vez mais na boca do povo, na boca do mercado", afirmou o diretor de Commodities da BM&FBovespa, Ivan Wedekin, em entrevista à Reuters nesta sexta-feira, destacando que um produto que pode apresentar volatilidade de até 35 por cento oferece muitos riscos e requer um derivativo adequado.

Ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Wedekin salientou que, além do importante crescimento das negociações do etanol na BM&F, o papel também registra um grande aumento dos contratos em aberto, o que mostra a liquidez do mercado.

"Em 45 dias, mais que dobramos o volume de posições em aberto", declarou ele, lembrando que na quinta-feira havia 3.737 contratos em negociação. Cada contrato corresponde a volume de 30 mil litros de etanol hidratado.

"Então o que percebemos é que mais participantes estão operando o contrato", acrescentou, observando que além de produtores, exportadores, distribuidores (considerados "hedgers") há também investidores financeiros, incluindo estrangeiros, já negociando o etanol.


Pessoas físicas, que podem ser produtores de cana ou especuladores, também podem operar com o etanol, diferentemente do que acontece no mercado físico.

Do total dos contratos em aberto, 82 por cento está nas mãos de pessoas jurídicas não-financeiras, e o restante com instituições financeiras e outros investidores.

O diretor da BM&F lembrou que o contrato do biocombustível anterior da bolsa, de álcool anidro, com foco na exportação, não deu certo por conta dos aspectos tributários e regulatórios que interferem na comercialização física do etanol no Brasil, problema esse que não existe com a liquidação financeira.

Um dos entraves é a diferença do ICMS entre os Estados.

O contrato atual é liquidado com base no Indicador de Preços de Etanol Hidratado Paulínia, levantado pelo Cepea-USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). A liquidação é feita com base na média dos cinco últimos dias úteis antes do vencimento.

"Acreditamos que agora temos um instrumento para esse mercado super importante do Brasil. Tem contrato de etanol em (na bolsa de) Chicago, mas também eles têm o mesmo problema que tivemos, não tem grande liquidez", pontuou Wedekin, salientando que o mercado brasileiro não tem o subsídio governamental dos EUA. "A única intervenção do governo no mercado é na política de mistura...", completou.

Financeirização e opções

O sucesso inicial do contrato de etanol segue os bons resultados do contrato de milho, também financeiro, que levou a bolsa a extinguir o contrato com entrega física --o cereal também enfrenta as mesmas questões tributárias, com o ICMS.


A bolsa vem preparando o lançamento de outro contrato financeiro, o da soja, o único derivativo agropecuário que apresentou queda no volume de negócios neste ano ante 2009.

Mas ainda não há previsão de lançamento.

Tal contrato, se funcionar, poderá ampliar o volume total de negócios de derivativos agropecuários da BM&F, que registrou em agosto o maior patamar desde setembro de 2008, quando eclodiu a crise financeira global.

"Em 11 dias úteis em setembro já negociamos 160 mil contratos, o que já é acima de setembro do ano passado...", disse Wedekin, salientando que os negócios com opções estão crescentes.
Até quinta-feira, os contratos de opções agropecuárias representaram no acumulado do ano 15 por cento do volume total, contra 4,1 por cento no mesmo período do ano passado.

No milho, 25 por cento dos negócios totais são com opções, no boi gordo, 15,7 por cento, no etanol, 10 por cento, e na soja, 28 por cento.

"Nesses mercados nossos, liquidez gera liquidez, estamos no início da construção de uma indústria de opções agropecuárias", disse ele, lembrando que nas bolsas internacionais as opções (um instrumento mais fácil para o produtor negociar) representam de 30 a 35 por cento do volume.

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