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Dólar despenca 11% em um mês e mercado já projeta até R$ 4,25

Volta do apetite de investidores internacionais por ativos brasileiros e de emergentes amplia demanda pela moeda brasileira

Dólar: moeda acumula 10,8% de queda desde o início de novembro com volta do apetite a risco pelo investidor estrangeiro (Baris-Ozer/Getty Images)

Dólar: moeda acumula 10,8% de queda desde o início de novembro com volta do apetite a risco pelo investidor estrangeiro (Baris-Ozer/Getty Images)

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Guilherme Guilherme

Publicado em 4 de dezembro de 2020 às 06h00.

Última atualização em 7 de dezembro de 2020 às 09h55.

Vacinação contra a covid-19, transição de poder pacífica nos Estados Unidos, expectativa de mais estímulos fiscais e sinalização do fim do auxílio emergencial em Brasília. O cenário de redução das incertezas sobre a economia que parecia improvável até um mês atrás, quando o dólar era cotado acima de 5,80 reais, vem enfim se concretizando e derrubando o preço da moeda americana no mundo e no Brasil.

Desde o início de novembro, o dólar acumula queda de 10,8% contra o real, que perdeu o posto de moeda mais depreciada do mundo entre os principais países emergentes para a lira turca. E, para especialistas em câmbio consultados pela EXAME Invest, a moeda brasileira pode se valorizar ainda mais.

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O real ainda tem muito espaço para se apreciar e estamos muito otimistas para o cenário no ano que vem, quando esperamos que moeda chegue a 4,25 reais”, diz Samuel Castro, estrategista de câmbio e juros para a América Latina do banco francês BNP Paribas.

Somente nos três primeiros dias de dezembro, a queda do dólar beira os 4%. Parte dessa forte apreciação do real em um curtíssimo espaço de tempo, segundo Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital, se deve à forte demanda de investidores estrangeiros por ativos brasileiros, em especial, os títulos do governo.

“Na quarta, a oferta do Tesouro teve demanda três vezes superior à oferta. Isso mostra que o estrangeiro está interessado na parte de renda fixa do Brasil. Isso porque o Brasil tem uma reserva internacional bem significativa e dá segurança para investir em títulos atrelados ao dólar. Isso é um aspecto importante para entender por que o real deixou de ser a moeda mais depreciada”, explica.

Frasson também pontua que a forte demanda de investidores estrangeiros por ações brasileiras teve grande contribuição para a queda do dólar. Em novembro, o saldo de estrangeiros na bolsa ficou positivo em 33,3 bilhões de reais, sendo disparado o mês com a maior entrada de recursos externos na história da B3.

Tudo isso, de acordo com Álvaro Marangoni, sócio da Quadrante Investimentos, ajudou a moeda americana a perder um “suporte” importante, que era a casa de 5,28 reais. “Temos visto um fluxo estrangeiro vindo para ativos do Brasil e o câmbio estava muito estressado. Para nós, faz bastante sentido essa depreciação.”

Fernando Bergallo, presidente da corretora de câmbio FB Capital, conta que as menores incertezas macroeconômicas têm contribuído para a entrada de fluxo estrangeiro não só no Brasil como em outros países emergentes. “A questão externa ajuda muito, principalmente o avanço das vacinas."

Mesmo assim, a valorização do real contra o dólar tem sido superior à de seus pares, como o peso mexicano, o peso colombiano e o rand sul-africano, moedas que, em um mês, acumularam alta de 5% frente à divisa americana -- cerca da metade da valorização do real.

Segundo Castro, isso se deve à maior volatilidade da moeda brasileira. “O real sofre mais quando o dólar se valoriza no mundo e se beneficia mais quando o dólar cai. E como nossa moeda já vinha com uma depreciação maior do que a de outros emergentes, o espaço para ela se valorizar também é maior”, comenta.

Castro conta que a própria depreciação do real favoreceu sua posterior valorização devido ao comércio internacional. “Nos termos de troca, o preço das exportações brasileiras melhorou muito em relação ao das importações, o que tem um impacto positivo para a moeda.”

“Diferentes análises técnicas mostram que o preço correto do dólar seria entre 4,50 reais e 4,80 reais, mesmo com a deterioração do cenário fiscal. Então, esperamos que, em algum momento, ocorra esse desmonte de posições defensivas”, diz Bergallo.

Mas, de acordo com Castro, mesmo com a expectativa de apreciação do real, nossa moeda deve permanecer altamente volátil. “Nossa taxa de juros mais baixa deve manter o real mais suscetível aos movimentos globais.”

Efeitos em fundos cambiais e BDRs

A forte queda do dólar tem provocado impactos, principalmente, nos fundos cambiais, que até o fim de novembro acumulavam captação líquida de 1,5 bilhão de reais no ano, segundo dados da Anbima consolidados pela Economatica. Para Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo, faz sentido neste momento reduzir parte dessa alocação, principalmente se o investidor visa retornos de longo e médio prazo. “Em um cenário otimista, o dólar perde força. Isso pode até gerar um oportunismo de curtíssimo prazo, mas acaba sendo mais perigoso”, pondera.

“A expectativa pelo (boletim) Focus é que o dólar acabe o ano em 5,40 reais e que no ano que vem fique em 5 reais. Então não faz muito sentido entrar com ele ainda acima de 5 reais. A não ser que o investidor esteja prevendo um cenário muito adverso. Mas o que o mercado está vendo é o contrário”, afirma Franchini.

Outros investimentos que tendem a perder rentabilidade com a queda do dólar são fundos de investimentos no exterior e BDRs, que são recibos de empresas estrangeiras negociados no mercado brasileiro. Porém, para Bernardo Carneiro, analista de BDR da Exame Research, esse efeito não deve ser considerado para investidores que visam obter lucros no longo prazo.

“Um trader que quer ganhar no prazo de dias, semanas ou mês vai querer comprar um BDR quando o dólar estiver em 5 reais ou 4,80 reais. Mas, para quem visa ganhar no longo prazo, essas variações do dólar são irrelevantes. Há ações nos Estados Unidos ou na China que quintuplicaram de preços. O dólar não faz movimentos tão exponenciais como o valor das empresas. Então onde o investidor realmente vai ganhar ou perder é na escolha do BDR”, afirma.

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