Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 4 de novembro de 2024 às 09h46.
A implementação da inteligência artificial (IA) na sociedade brasileira traz o risco de ampliar as desigualdades já existentes. Embora a IA ofereça soluções promissoras, como chatbots que apoiam a educação e ferramentas que democratizam o acesso à saúde, o caminho para tornar essas inovações acessíveis a todos ainda é longo. Para muitos brasileiros, a infraestrutura básica necessária para acessar essas tecnologias permanece fora de alcance.
Como Satya Nadella, CEO da Microsoft, quer criar uma IA para 8 bilhões de pessoasA resposta não é simples. Quando pensamos em IA, tendemos a focar nas suas capacidades revolucionárias: chatbots que podem auxiliar na educação, ferramentas que democratizam o acesso à saúde, assistentes que aumentam nossa produtividade. Mas há um elemento crucial que frequentemente negligenciamos: a infraestrutura necessária para acessar essas tecnologias.
Para utilizar um simples chatbot, uma pessoa precisa ter acesso à internet estável, um dispositivo adequado e um ambiente propício ao aprendizado. Isso significa ter computador, monitor, teclado, mouse, uma mesa, uma cadeira confortável e, não menos importante, tempo e silêncio para aprender e trabalhar. São requisitos que, para muitos brasileiros, representam um luxo inalcançável.
A questão se torna ainda mais complexa quando consideramos os usos práticos da IA no ambiente profissional. Não basta apenas ter acesso básico à tecnologia - é preciso ter ferramentas adequadas para tarefas como elaborar apresentações, redigir propostas comerciais ou criar documentos complexos. A diferença entre ter um smartphone básico ou um último modelo pode significar a diferença entre estar incluído ou excluído dessa revolução tecnológica.
Contudo, não podemos simplesmente descartar o potencial transformador da IA. O verdadeiro desafio está em criar mecanismos que garantam uma distribuição mais equitativa desses recursos. Isso exige uma abordagem multifacetada, envolvendo políticas públicas robustas, iniciativas privadas comprometidas com a inclusão digital e programas educacionais que capacitem as pessoas a utilizarem essas ferramentas de forma efetiva.
Precisamos de projetos que levem internet de qualidade para áreas remotas, programas que disponibilizem dispositivos a preços acessíveis e iniciativas de capacitação digital que alcancem as populações mais vulneráveis. É fundamental que haja uma colaboração estreita entre governo, empresas e organizações da sociedade civil para criar soluções que enderecem essa questão de forma sistemática.
A IA pode, sim, ser um catalisador de mudanças positivas em nossa sociedade. Mas para que isso aconteça, precisamos garantir que seu desenvolvimento e implementação sejam guiados por princípios de equidade e inclusão. Caso contrário, corremos o risco de criar uma nova forma de exclusão social, ainda mais profunda e difícil de superar que as anteriores.
O momento é de ação. Não podemos permitir que esta revolução tecnológica apenas reproduza e amplifique as desigualdades já existentes em nossa sociedade. É nossa responsabilidade, como líderes empresariais e formadores de opinião, trabalhar para que a IA seja uma ferramenta de transformação social positiva, capaz de criar oportunidades reais para todos os brasileiros, independentemente de sua condição socioeconômica.