Opinião: A transformação digital do ecossistema
Sérgio Saraiva, presidente do Rappi no Brasil, diz em artigo que até mesmo pequenas empresas podem se fortalecer durante um período difícil
Filipe Serrano
Publicado em 25 de outubro de 2020 às 07h55.
O princípio de um ecossistema é que todos ganhem. Essa é a regra número um e sua única forma de sobrevivência. A missão de qualquer parte é, uma vez fortalecida, também fortalecer todos os elos, empoderar parceiros e respeitar toda a cadeia. Essas regras sempre existiram. Não há nenhuma novidade sob o sol. A não ser, obviamente, o momento que - todos nós - ainda estamos atravessando. É inegável que a ideia de ecossistema, de relações saudáveis entre todas as partes e baseadas na livre competitividade, se tornou ainda mais urgente, acrescida da aceleração digital - tão necessária nos dias de hoje.
A transformação digital , para alguns negócios, teve de ser acelerada para mitigar os impactos do coronavírus. Para outros, teve de começar do zero. Essa mudança passou a ser um fator-chave para sobrevivência de muitos ecossistemas, independentemente do tamanho dos players. Estamos vivendo um tempo em que devemos pensar em um novo mundo digital e na forma como produtos e serviços são oferecidos. Não é mais só presencial, cara a cara. O jogo mudou.
Diz o ditado que a necessidade é a mãe de todas as invenções. Por conta disso, foi e segue sendo fundamental que os negócios se adaptem a este período de transformação digital. Aqueles que não estavam preparados para isso, ou que estavam passando por essa transformação mais lentamente, precisaram correr para recuperar território.
A maior preocupação, agora, está nos estabelecimentos menores e naqueles que não se prepararam ou não tiveram condições de virar a chave para o digital. Nesse sentido, o importante é, como ecossistema, nós nos fomentarmos uns aos outros, transferindo conhecimento e tecnologia, e abrindo espaços de diálogos entre as partes. O crescimento do ecossistema é o que vai garantir o futuro de todos. Por isso, ele precisa ser preservado.
É necessário pensarmos em uma forma na qual todos saiam bem dessa crise e, por isso, se torna essencial que todos se ajudem de maneira verdadeiramente colaborativa. Porque até mesmo pequenas empresas podem se fortalecer durante um período difícil. O fato é que quem está se movendo, está se movendo rápido em direção ao consumidor que adotou novos hábitos com demandas, às vezes, bastante distintas.
Sabemos que era uma aposta de médio e longo prazo que foi antecipada de forma abrupta. Quem experimentou, em parte, vai ficar. Por outro lado, as demandas de e-commerce e dos shoppings nunca mais serão como antes. O consumidor tem o direito, a liberdade e o poder de escolha - seu papel é demandar e quem atender primeiro, e melhor, terá sucesso. Quanto mais opções, quanto mais oportunidades de acesso, melhor para o usuário, melhor para o ecossistema. Depois de sete meses de pandemia, todos nós mudamos nossos hábitos. O pós-covid, daqui a um ano, não será igual. Já não somos iguais. A mudança, inevitável, já aconteceu.
Restaurantes, por exemplo, são um dos segmentos que mais sofrem. Na China, nosso benchmark, de 30% a 40% dos estabelecimentos quebraram na pandemia. E estatísticas no Brasil apontam na mesma direção. Esse impacto acometeu mais o pequeno comerciante - aquele com, no máximo, três funcionários. A experiência de um restaurante é diferente daquela proporcionada pela entrega de comida em casa, mas os estabelecimentos irão cada vez mais pensar em como levar este momento para a residência das pessoas.
Desde a chegada do coronavírus, muitos players - nós dentre eles - isentaram as dark kitchens de aluguéis (o que pode fomentar - e muito - esse mercado), reduziram taxas dos restaurantes menores, assim como o tempo de repasse de pagamentos desses estabelecimentos, além da prestação de consultorias de portfólio e de menu. Nesse período, identificamos - do nosso lado - a necessidade de os estabelecimentos acessarem soluções digitais que lhes permitam expandir o escopo de seus negócios. Mais do que nunca, é preciso que a tecnologia seja sempre colocada a serviço do mercado.
Devemos ajudar cada membro do ecossistema a prosperar e a fazer melhor aquilo que mais amam (e que, como consumidores, também amamos). Precisamos nos esforçar para facilitar a vida dos usuários e aliados, e auxiliá-los a alcançar seus objetivos, assim como proporcionar mais segurança e conveniência à população. Precisamos, enfim, crescer juntos.
Durante a pandemia, notamos uma mudança de comportamento do consumidor e a aceleração da vida no celular que, inclusive, trouxe mais adeptos de diferentes faixas etárias e maturidade digital. Com cerca de 230 milhões de smartphones ativos no país, segundo a Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), o m-commerce tem crescido a passos largos por aqui, o que mostra o quanto os brasileiros preferem a praticidade de comprar por meio de seus celulares.
Todos esses fatores têm gerado uma veloz consolidação da compra por - e com - conveniência. Trata-se de um futuro promissor e, realmente, um caminho sem volta, que só será trilhado com sucesso e se transformará em um ciclo virtuoso se todos puderem ganhar - sem exceção.
Nessa união de esforços, a estrutura e a noção do negócio devem ser compreendidas por todas as peças dessa engrenagem. Não há espaço para qualquer conduta predatória - e se ela surgir, deve ser coibida. De nada adianta tanto trabalho e investimento se o interesse de um desses atores se sobrepuser ao dos demais e causar um desequilíbrio econômico e moral que pode ser, infelizmente, fatal para a vida desse ecossistema.
(*) Sérgio Saraiva épresidente doRappino Brasil